O Ministério das Relações Exteriores manifestou seu ponto de vista de não intervir no conflito da Otan contra a Rússia. Isso faz parte da política do governo Lula pela paz e pelo fim da matança
O Departamento de Assuntos Estratégicos, de Defesa e de Desarmamento, do Ministério das Relações Exteriores, manifestou seu ponto de vista, e do governo, de não intervir no conflito da Otan contra a Rússia. O órgão vetou a venda de blindados da empresa italiana Iveco, instalada em Minas Gerais, para as forças ucranianas. Os setores que querem arrastar o Brasil para a guerra reclamaram da decisão.
Tudo começou em 27 de abril. Naquele dia, o adido militar ucraniano, coronel Volodymyr Savchenko, enviou documento ao ministro da Defesa, José Múcio Monteiro Filho, solicitando a venda de até 450 unidades do blindado ao país europeu. O Brasil, ao contrário dos EUA e Europa, já havia anunciado publicamente a sua intenção de não fornecer armas e tentar mediar a paz e o fim do conflito. Para isto é fundamental que se mantenha a neutralidade sem apoio a nenhum dos dois lados.
Para tentar ludibriar a política de neutralidade do governo brasileiro, os ucranianos alegaram que os blindados seriam pintados nas cores do serviço de emergência e resgate para transportar feridos e civis, a fim de retirá-los em segurança das zonas de combate. Obviamente o objetivo dos ucranianos com a obtenção dos blindados não era o atendimento médico. Caso contrário, seriam encomendadas ambulâncias e não blindados.
O governo ucraniano aproveitou que o ex-chanceler Celso Amorim, atual assessor especial do presidente Lula, estava em Kiev, em 9 de maio, a pedido do mandatário, para fazer o pedido ao Ministério da Defesa. Amorim foi a Kiev para se reunir com o governo de Volodmir Zelenski. O assessor do presidente Lula sentiu-se atropelado pela proposta feita diretamente à empresa e ao Ministério da Defesa.
De volta ao Brasil, Amorim e o chanceler Mauro Vieira se reuniram com Lula. Discutiram sobre as consequências da venda de blindados para a diplomacia de paz do governo. Editoriais de alguns setores da imprensa estão fazendo intriga e tentando jogar a política externa brasileira de neutralidade e de busca da paz contra uma suposta outra “posição dos militares”. O que eles estão querendo, na realidade, é simplesmente arrastar o Brasil para a guerra.
Esses setores que estão tentando fazer essa intriga não percebem – ou não querem perceber – que as Forças Armadas são uma instituição de Estado e que seguem a política oficial do país, inclusive a política externa. Foi-se o tempo em que setores minoritários da instituição militar tentavam se sobrepor à legalidade, às instituições e à Constituição. Alguns desses grupos, inclusive, já estão tendo que prestar esclarecimentos, tanto ao parlamento brasileiro quanto à Justiça.
Ao contrário do que esses meios propagam com este tipo de editorial, o governo Lula tem se dedicado intensamente a incentivar o desenvolvimento da Base Industrial da Defesa. Uma de suas primeiras reuniões foi para tratar desse tema. Essa política, obviamente, não é uma política sem princípios. Ela está baseada no fortalecimento da defesa e da soberania do país e no crescimento das indústrias nacionais do setor. O Brasil nunca foi fomentador de guerras para vender armas.
A política de retomada da indústria e do desenvolvimento está sendo confirmada na concretização dos acordos de aquisição dos modernos caças suecos F-39 Gripen E/F, na construção do submarino atômico, nos satélites desenvolvidos pelo INPE com apoio do Mnistério da Ciência & Tecnologia, nos novos contratos de venda de aviões militares por parte da Embraer e muitos outros. O que o país não pode é se deixar arrastar para um conflito armado que está sendo insuflado e que pode trazer grandes problemas ao mundo.
O blindado produzido pela Iveco tem motor argentino e suspensão alemã. Recentemente, inclusive, a Alemanha tentou forçar o Brasil a vender munição militar para a Ucrânia e usou esse fato – de ser proprietário da tecnologia – para pressionar o país a entrar na guerra. Ao não ter sucesso nesta empreitada, o primeiro ministro alemão, Olaf Scholz, vetou a venda de blindados da empresa mineira ao exterior. A Iveco chegou a anunciar que iria substituir a tecnologia alemã por outra, nacional, para fugir dessas sanções.
Apesar da vasta destruição de equipamentos militares americanos e europeus de última geração na Ucrânia, a empresa italiana de Minas informa que sua blindagem pode resistir ao impacto de estilhaços de projéteis de artilharia de calibre 155 mm detonados até a 80 metros de distância e de tiros de calibre 12,7 mm feitos a até 100 metros, além de disparos de metralhadoras de calibre 7,62 mm. Deve, ainda, proteger sua tripulação contra a explosão de minas. Talvez as ambulâncias sejam melhores e menos perigosas para a Ucrânia do que os blindados.
O presidente Lula está convencido de que o Brasil pode jogar um papel muito importante na busca da paz. Para isso é fundamental que ele mantenha a atual política de neutralidade no conflito. Como ele mesmo diz, se o Brasil fornece munição ou armas para um dos lados, está sendo arrastado para a guerra. Pior, ainda, é a política fratricida e tresloucada de incentivar a guerra para vender armas para os dois lados, como costuma fazer o complexo militar dos EUA e como alguns setores estão defendendo no Brasil.