De acordo com o senador Cid Gomes, com os recursos públicos drenados para os rentistas daria para elevar o salário-mínimo em 180%
Diante de uma a taxa de juros da economia (Selic) em 13,75% ao ano, a transferência de recursos do setor público para pagamento de juros dívida pública atingiu o patamar de R$ 693,6 bilhões (6,85% do PIB) no acumulado em doze meses até março deste ano, segundo Estatísticas Fiscais do Banco Central (BC), divulgados nesta sexta-feira (28). São R$ 289,8 bilhões a mais do que foi desviados do governo federal, governos estaduais e empresas estatais em juros nos doze meses até março de 2022, no montante de R$ 403,8 bilhões (4,46% do PIB).
Em março, foram transferidos em pagamento de juros a bancos e demais rentistas R$ 65,3 bilhões, mais que o dobro dos que foram drenados em março de 2022 (R$ 30,8 bilhões).
Assim, no mês passado, o setor público registrou um déficit primário – resultado negativo entre as receitas e despesas – de R$ 14,2 bilhões, ante ao superávit de R$ 4,3 bilhões no mesmo mês de 2022.
“O resultado nominal do setor público consolidado, que inclui o resultado primário e os juros nominais apropriados, foi deficitário em R$ 79,5 bilhões em março. No acumulado em doze meses, o déficit nominal alcançou R$ 618,9 bilhões (6,11% do PIB), elevando-se 0,49 p.p. do PIB em relação ao déficit acumulado até fevereiro”, diz a nota do BC.
No terça-feira (25), em audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, com a presença do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, o senador Cid Gomes (PDT-CE) denunciou que a cisma do BC em manter os juros no Brasil nas alturas agrava a dívida pública em benefício do rentismo.
“Sabe onde é que vai incidir esses 13,75%?”, questionou o parlamentar a Campos Neto. “Na nossa dívida”, respondeu Cid Gomes, que seguiu. “Na dívida do governo federal, que em março é de R$ 7,3 trilhões”.
“Em 2022”, seguiu Cid Gomes, “a União, pagando ou acrescendo à nossa dívida, que vai fazer efeito numa bola de neve no ano seguinte, despendeu R$ 802 bilhões”. “A conta que eu faço, senhoras e senhores senadores, é a seguinte: se o Brasil praticasse a taxa de juro da meca do capitalismo, que é a americana, nós teríamos despendido R$ 292 bilhões com a dívida”. “Isso significa objetivamente uma economia do Brasil, que despendeu R$ 802 bilhões na dívida em 2022, se usasse a taxa de juro americana. Seria uma economia de R$ 510 bilhões”, observou o parlamentar. “Quem passou a ser beneficiário no ano passado de R$ 510 bilhões? […] Vai cair na conta do tal rentista”, denunciou o parlamentar.
De acordo com o senador, com os recursos públicos drenados para os rentistas daria para elevar o salário-mínimo em 180%, fazendo com que ficasse em torno de R$ 4 mil; daria para triplicar o valor do Bolsa-Família, passando de R$ 750,00 em média, para R$ 2.100,00; daria para resolver, em dois anos, o déficit habitacional brasileiro, com a construção de 3,6 milhões de habitações por ano; ou para construir 134 mil escolas por ano, universalizando em três anos o tempo integral.