Dinheiro saiu do fundo partidário do PSL. Disputa pelo controle desse dinheiro abriu uma guerra fratricida entre Bolsonaro e Luciano Bivar, presidente da legenda, que acabou levando a mais um racha no bolsonarismo
Segundo o jornal Folha de S. Paulo desta terça-feira (19), o PSL nacional contratou a pedido do senador Flávio Bolsonaro (RJ) o escritório do advogado e ex-assessor Victor Granado Alves. O contrato teria durado 13 meses e meio e custado R$ 500 mil, com recursos pagos por meio do fundo partidário.
As notas fiscais da prestação de contas do PSL em 2019 apontam que o escritório Granado Advogados Associados, que tem Victor entre os sócios, foi contratado com recursos públicos para atuar na prestação de serviços jurídicos ao escritório da legenda no Rio. Coincidentemente o escritório era comandado por Flávio Bolsonaro.
O contrato previa um desembolso mensal de R$ 40 mil e foi firmado em fevereiro do ano passado, mesmo mês em que Flávio assumiu uma vaga no Senado pelo Rio de Janeiro. Ainda segundo a Folha, uma das sócias do escritório, Mariana Teixeira Frassetto Granado, aparece como assessora parlamentar fantasma do gabinete de Flávio no Senado. Ela teria sido contratada em março, apenas um mês após o contrato com o escritório ter sido celebrado, com salário bruto de R$ 22.943,73.
O Ministério Público Federal (MPF) tomou duas decisões sobre as denúncias do empresário Paulo Marinho, ex-aliado de Bolsonaro, e sobre as novas revelações sobre o uso de dinheiro público para a defesa de Flávio.
Abriu um processo investigativo criminal para investigar se algum agente da Polícia Federal do Rio de Janeiro avisou o então deputado estadual Flávio Bolsonaro, sobre a deflagração da Operação Furna da Onça em 2018, e acionou a Justiça para que seja desarquivado um inquérito que apurava possíveis vazamentos de informações sobre a operação contra Fabrício Queiroz.
Paulo Marinho informou em entrevista à Folha de S. Paulo, que no dia 12 de dezembro de 2018, uma quarta-feira, recebeu uma ligação do senador Flávio Bolsonaro [filho do presidente]. “Ele disse que queria falar comigo, por sugestão do pai”. A Operação Furna da Onça [que investigava desvio de recursos públicos da Assembleia Legislativa do Rio] já tinha sido detonada e trazido à tona o episódio do [Fabrício] Queiroz [que tinha trabalhado no gabinete de Flávio na Assembleia e é acusado de integrar o esquema].
“Ele me disse: ‘Gostaria que você me indicasse um advogado criminalista’. E combinamos de ele vir à minha casa às 8h do dia seguinte, uma quinta-feira, 13 de dezembro. Passei a mão no telefone e liguei para o advogado Antônio Pitombo, de São Paulo, indicado por mim para defender o capitão no processo da [deputada] Maria do Rosário no STF [Supremo Tribunal Federal]. E ele me indicou um advogado de confiança, Christiano Fragoso, aqui do Rio”.
“No dia seguinte, quinta-feira, 13, às 8h30, chegam na minha casa Flávio Bolsonaro e o advogado Victor Alves, que trabalha até hoje no gabinete do Flávio, é advogado de confiança dele. Estávamos eu, Christiano Fragoso, Victor e Flávio Bolsonaro. Flávio começa a nos relatar o episódio Queiroz. Ele estava absolutamente transtornado. E esse advogado, Victor, dizendo ao advogado Christiano que tinha conversado com o Queiroz na véspera e que o Queiroz tinha dado a ele acesso às contas bancárias para ele checar as acusações que pesavam contra o Queiroz”.
“O Victor estava absolutamente impressionado com a loucura do Queiroz, que tinha feito uma movimentação bancária de valores absolutamente incompatíveis com tudo o que ele poderia imaginar. Já o Flávio estava ali lamentando a quebra de confiança do Queiroz em relação a ele. Dizia que tudo aquilo tinha sido uma grande traição, que se sentia muito decepcionado e preocupado com o que esse episódio poderia causar ao governo do pai”, contou Marinho.
Paulo Marinho prosseguiu em suas denúncias. “E Flávio então nos conta a seguinte história: uma semana depois do primeiro turno, o ex-coronel [Miguel] Braga, atual chefe de gabinete dele no Senado, tinha recebido o telefonema de um delegado da Polícia Federal do Rio de Janeiro, dizendo que tinha um assunto do interesse dele, Flávio, e que ele gostaria de falar com o senador. Marcaram um encontro com esse delegado na porta da Superintendência da Polícia Federal, na praça Mauá, no Rio de Janeiro.”
“Estavam no encontro o coronel Braga, o advogado Victor e, sempre segundo o que eles me contaram, a Val [Meliga], da confiança do Flávio e irmã de dois milicianos que foram presos [na Operação Quatro Elementos]. O delegado saiu de dentro da superintendência. Na calçada, o delegado falou: ‘Vai ser deflagrada a Operação Furna da Onça, que vai atingir em cheio a Assembleia Legislativa do Rio. E essa operação vai alcançar algumas pessoas do gabinete do Flávio [o filho do presidente era deputado estadual na época]. Uma delas é o Queiroz e a outra é a filha do Queiroz [Nathalia], que trabalha no gabinete do Jair Bolsonaro [que ainda era deputado federal] em Brasília’”.
“O delegado então disse, segundo eles: ‘Eu sugiro que vocês tomem providências. Eu sou eleitor, adepto, simpatizante da campanha [de Jair Bolsonaro], e nós vamos segurar essa operação para não detoná-la agora, durante o segundo turno, porque isso pode atrapalhar o resultado da eleição [presidencial]’”.
Todas essas revelações feitas por Paulo Marinho e as novas denúncias das contratações do advogado para a defesa de Flávio com dinheiro público serão investigadas pelos inquéritos que o MPF está instalando e reabrindo. O Ministério Público do Rio de Janeiro anunciou que pretende ouvir o empresário Paulo Marinho no âmbito das investigações das operações de lavagem de dinheiro do gabinete do então deputado Flávio Bolsonaro.