Investigações do Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) apontam que o policial da reserva Fabrício Queiroz, denunciado como o operador do esquema de “rachadinha” no gabinete de Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ), teria atuando também no gabinete do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), outro filho do presidente da República, na Câmara Municipal do Rio.
Queiroz chegou a ser alvo de novo pedido de quebra de sigilo bancário e fiscal, mas a Justiça não acolheu a demanda.
Em maio, a Justiça concedeu a quebra de sigilo bancário e fiscal que atingiu o vereador e outras 26 pessoas, mas negou o pedido em relação ao policial da reserva já que ele próprio não teve relações diretas com o gabinete de Carlos.
Apesar da recusa, Queiroz continua sob investigação. O Ministério Público acredita que dados das pessoas ligadas a ele, que tiveram sigilo quebrado, podem levar a um elo financeiro entre o gabinete de Carlos e o pivô do caso Flávio.
O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) identificou, em 2018, movimentação financeira atípica na conta de Queiroz; foi o que levou o MP do Rio a desconfiar da existência da “rachadinha”. Nesse esquema, funcionários fantasmas nomeados em cargos de confiança repassariam a Flávio, com intermediação de Queiroz, a maior parte do salário que recebiam.
Os desvios ocorreram na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), onde o filho 01 de Jair Bolsonaro foi deputado, eleito pela primeira vez em 2002. Queiroz foi assessor de Flávio por 11 anos. Agora, o MP suspeita que esquema semelhante tenha ocorrido no gabinete de Carlos, com possível participação do ex-assessor do seu irmão no Legislativo estadual.
“Considerando que já foram identificados indícios suficientes da participação de Fabrício José Carlos Queiroz no desvio de recursos oriundos da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (…), impõe-se verificar se tal prática também estaria ocorrendo no âmbito da Câmara Municipal do Rio de Janeiro, a justificar o afastamento de sigilo de Márcio Gerbatim e Claudionor Gerbatim, assim como do próprio Fabrício Queiroz”, apontaram os promotores.
Os Gerbatim, respectivamente sobrinho e ex-marido da atual mulher de Queiroz, Márcia Aguiar, nunca tiveram emitidos crachás funcionais na Câmara, o que reforça os indícios de que seriam “fantasmas”. Os investigadores classificam Queiroz como “suposto operador financeiro associado ao núcleo da família Gerbatim”.
Junto com Queiroz, os Gerbatim integram um dos seis “núcleos” da investigação. O primeiro é o da família Siqueira, da segunda ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro.
Ana Cristina Siqueira Valle trabalhou no gabinete do enteado desde o primeiro dia do mandato dele, em janeiro de 2001, até abril de 2008, ano em que passou por conflitos com Bolsonaro no processo de separação. Ela é a personagem mais importante das apurações até aqui. No núcleo, há dois irmãos, dois cunhados, um primo e duas esposas de primos dela.
Os outros núcleos envolvem os sobrenomes Góes, Martins, Fernandes e Duarte. Mais complexo que os demais, o grupo de Ana Cristina Valle inclui outros atores, como empresas dela e pessoas ligadas a esses CNPJs.
Alguns indícios de possível lavagem de dinheiro são citados no documento do MP. O primeiro envolve o pagamento, pelo vereador, de R$ 150 mil em espécie quando Carlos tinha 20 anos, em 2003. O segundo foi o desembolso de um valor 70% abaixo do estipulado pela prefeitura para cálculo de imposto, o que levanta suspeita sobre eventuais pagamentos “por fora”.
Na investigação contra Flávio, as transações imobiliárias foram peças-chave para seguir o caminho do dinheiro.