Hanan Ashrawi, diplomata e membro do Comitê Executivo da OLP, que acaba de ter o visto de entrada aos EUA negado, em entrevista ao portal Democracy Now, fala do “Acordo do Século” de Trump, rejeitado pelos palestinos, e da crise política israelense
AMY GOODMAN (para Democracy Now): Você poderia iniciar nos falando sobre este desdobramento histórico no qual, pela primeira vez, desde que Israel se tornou um Estado, um primeiro-ministro, após eleições, não foi capaz de formar um governo. Qual o significado disto para Israel e para os territórios ocupados, como estamos exatamente agora?
HANAN ASHRAWI: Bem, basicamente, o principal conflito no interior do Sistema político de Israel é entre a direita e a extrema direita. De forma que o confronto se dá entre os extremistas religiosos e a vertente da direita política em questões referentes ao recrutamento para o exército de pessoas religiosas. Esta é uma questão. Esta foi a razão pela qual o governo de Israel não foi formado, foi assim que Netanyahu não conseguiu acertar uma maioria no parlamento.
Mas há outras razões também, uma delas é sua persistência que deriva de um orgulho e uma ambição desmedidas, Netanyahu quer, por todos os meios possíveis, evitar ser processado. Ele quer ter imunidade absoluta diante do iminente indiciamento por questões de corrupção, abuso de poder entre outras acusações. Então, ao não conseguir formar maioria, passou por cima do presidente de Israel, dissolveu o parlamento e convocou novas eleições, que devem se realizar em setembro.
Podemos dizer que as questões internas e as diferentes contradições dentro de Israel, por muitos caminhos, e o movimento para a extrema direita e para as posições ideologicamente racistas no interior dos círculos políticos em Israel levaram a este impasse. E eu acredito que ainda vamos ver mais sobre isso, porque o campo da paz minguou. A oposição de esquerda é mínima e os palestinos em Israel estão sendo totalmente marginalizados e excluídos. Já os palestinos nos territórios ocupados estão recebendo as consequências do que tudo isso lhes traz.
Agora, quando se fala no assim chamado “plano de paz”, a agenda norte-americana, somado ao tratamento norte-americano das negociações em torno de seu plano, vemos que tudo foi formatado com base nas prioridades de Israel e para atender às políticas internas israelenses. E, portanto, toda vez que algo acontece em Israel, este governo dos Estados Unidos se mobiliza, seja para fazer campanha em favor de Netanyahu, ou para ajudá-lo a juntar uma coalizão. E, ao mesmo tempo, a bola foi chutada para fora do caminho do plano de paz para dar a Israel mais tempo para criar fatos, e para os Estados Unidos criarem fatos, para prejudicar as questões reais a serem negociadas, ao tempo em que levam adiante táticas diversionistas para falar que a questão é apenas uma questão econômica: “tudo o que precisamos dar aos palestinos é um punhado de dólares e eles aceitarão seu cativeiro. Faremos o cativeiro mais palatável ou menos agradável”, é como eles dizem.
Então, a questão agora é que as relações entre a administração dos Estados Unidos e Israel pretendem sujeitar a lei internacional, a vontade da comunidade internacional, os imperativos e os requerimentos para a paz, assim como os direitos dos palestinos, a sua parceria no crime.
Como mantemos a coalizão extremista em Israel? Como podemos servir aos interesses de Netanyahu? E ao mesmo tempo, como submetemos ou até transformamos a política norte-americana para que esta se adapte às prioridades deste governo extremista israelense? É o que os preocupa.
NERMEEN SHAIKH (para Democracy Now): Bem, Dra. Ashrawi, quero me voltar para as afirmações do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, depois que os resultados das negociações frustradas para que formasse um governo, foram anunciados. Ele acusou o político de ultradireita, Avigdor Lieberman, de se recusar a apoiá-lo, dizendo que ele faria parte da esquerda. “Vocês dão votos a Lieberman, acreditando que ele é de direita e ele não dá seu apoio ao nosso governo de direita. É o que estamos vendo”, disse Netanyahu.
AMY GOODMAN: Então, Dra. Ashrawi, como responde a essa definição de Netanyahu, chamando Lieberman de esquerda?
HANAN ASHRAWI: Eu digo que isto é ridículo. Não dá nem para valorizar isto com uma resposta séria, não dá para se levar a sério, porque Lieberman é conhecido como um dos mais extremistas da direita, entre os políticos racistas em Israel, e ele foi também um dos principais esteios da coalizão de Netanyahu. Mas, como vocês sabem, nisso ele se parece com os que governam os Estados Unidos, como de costume, recorrem à fabricação de factóides.
De qualquer forma, a questão é: Lieberman se perfila na extrema direita secular e, portanto, quando Netanyahu se posicionou junto com a extrema direita religiosa, o acusou de ser um político de esquerda, quando nós sabemos que há vários polos dentro da extrema direita, todos eles primam pelo racismo e pela ideologia direitista. Ele representa a direita secular, racista e compete com Netanyahu, por isso as relações não andam bem entre eles. Sem que eu me proponha a ser uma analista da política israelense, vocês sabem que o jogo das denominações é um dos frequentes truques de Netanyahu.
AMY GOODMAN: Eu gostaria de reproduzir aqui a análise sobre a situação na Palestina feita pelo genro de Trump, Jared Kushner, no mês de maio, em sua fala no Instituto Washington:
“Vocês têm, como sabem, o Hamas, obviamente em Gaza, que acabou destruindo aquele lugar. E é isso realmente – penso que as pessoas ali são reféns de uma organização terrorista. E isso é uma situação infeliz. Então, na Cisjordânia, penso que as pessoas são muito reprimidas. E a questão, para os palestinos é, na verdade, se a liderança busca seus interesses ou não. Eu acredito que aquilo que vamos apresentar irá ao encontro de muitas de suas aspirações políticas e muito de sua dignidade, isso é importante para nós…”
“Sabendo do que está no plano, acreditamos que é virtuoso. Acreditamos que é algo que é benéfico para ambos os lados. E tem sido muito decepcionante para nós ver que a liderança palestina tem, de forma típica, atacado o plano que não sabem o que é, em oposição a chegarem junto para ver. Se eles realmente se importassem em ver as vidas dos palestinos melhorarem, eu penso que eles tomariam decisões diferentes durante o ano que passou, talvez nos últimos 20 anos.”
AMY GOODMAN: Então, temos aí Jared Kushner dando sua visão sobre a situação na Palestina, criticando a liderança palestina, dizendo que se os líderes se preocupassem com os palestinos eles teriam tido uma abordagem diferente. Kushner, que foi ao Oriente Médio com seu enviado, Greenblatt, que é o ex-advogado de Trump para questões imobiliárias. Junto, é claro com o embaixador dos EUA em Israel, Friedman, que também advogou para Trump em questões referentes a concordatas. Dra. Ashrawi, o que pode dizer sobre este plano sobre o que disse Jared Kushner sobre a decisão da liderança palestina de não participar nas conversações que eles chamam de “oficina” no Bahrein, programadas para o final de junho?
HANAN ASHRAWI: Sim. Bem, é, de fato, uma oficina. Realmente, porque, em muitas maneiras, reúne tudo que há de errado com este governo e sua política externa e seu total desdém pela lei internacional e para com os direitos do povo palestino. É irônico que alguém como Jared Kushner esteja falando em eleger a si próprio como mais preocupado com o bem-estar do povo palestino do que a liderança palestina. O que ele quer, golpear a Autoridade Nacional Palestina? Isso já foi tentado antes. Ele busca colaboracionistas? Eu sei que eles estão tentando encontrar colaboracionistas que concordem em ir a esta conferência ou para esta oficina.
Mas foi o presente governo norte-americano que cortou laços, que fechou nosso escritório, o da OLP, em Washington, que fechou o Consulado Geral dos Estados Unidos na Palestina, que funcionava desde 1844 em Jerusalém, e agora o tornou uma unidade de Questões Palestinas colocada na Embaixada dos Estados Unidos em Jerusalém. Eles decidiram aceitar a anexação ilegal de Jerusalém e depois aceitaram a anexação ilegal das Colinas do Golã. Eles tentaram destruir, acabar com a Agência da ONU para os Refugiados Palestinos (UNRWA) e redefinir os refugiados palestinos. Estas são as questões no cerne das quais pode se basear a paz. Eles se recusam a reconhecer as fronteiras de 1967. Eles se recusaram a reconhecer a Solução dos Dois Estados – que implica na soberania palestina, na liberdade e independência palestinas. E eles renegam o apoio dado anteriormente ao nosso povo sob ocupação, a nossas escolas, hospitais, infraestrutura, incluindo a suspensão de bolsas de estudo para que palestinos possam estudar nos Estados Unidos e muito mais.
Então, o que eles têm feito é tentar esmagar os palestinos. Eles têm punido os palestinos. Eles pensam que temos de nos submeter, que temos que nos render, que temos de declarar que fomos derrotados, como disse Daniel Pipes (jornalista do lobby pró-Israel nos EUA), a quem Kushner ecoou, acham que devem fazer com que isso entre em nossas cabeças, de que nós somos um povo derrotado.
Nossa resposta é de que não somos derrotados. Podemos estar sob ocupação. Podemos ser constantemente sujeitos a todo tipo de medidas punitivas e ameaças e chantagens e medidas imorais e ilegais pelos Estados Unidos e Israel. Mas nosso espírito não foi derrotado. E nós persistimos. Nós somos um povo resiliente. E nós vamos continuar, porque temos direitos, porque nossa agenda política é firmemente baseada em total respeito pelos direitos humanos, pela lei internacional, pela legislação humanitária internacional e, é claro, pelos precedentes internacionais derivados do fim da Segunda Guerra Mundial, onde se estabelece que os vulneráveis devem ser protegidos por normas e leis globais e que as potências fortes e coercitivas devem ser levadas a prestar contas perante a lei internacional.
Então nós sabemos quais são os nossos direitos. O mais destacado de todos é nosso direito à autodeterminação, à liberdade, à dignidade e a nossa própria terra. Ao tentarem nos dizer, como vocês sabem, coisas como “vocês têm que se submeter, vocês têm que aceitar a derrota, e nós vamos fazer com que vocês aceitem tornar a questão palestina de liberdade e soberania em uma questão de dólares e de entrega do povo palestino”, quando nós podemos construir a melhor, a mais vibrante e robusta das entidades políticas e, uma vez que estejamos no controle de nossas próprias vidas, de nossas terras, de nossos recursos, de nosso espaço aéreo, de nossas portas de saída e entrada, – seremos capazes de construir uma vibrante economia. Não estamos dispostos a nenhuma entrega. O que queremos é nossa Liberdade, nossa habilidade de controlar nossas vidas e nossos recursos de forma a dar ao povo palestino a prosperidade que ele merece. Não pode haver prosperidade, não pode haver desenvolvimento sob ocupação. E falta de prosperidade não leva à paz, como já foi tentado antes e falhou.
NERMEEN SHAIKH: Bem, Dra, Ashrawi, gostaria de que agora escutássemos um dos principais conselheiros de Trump para o Oriente Médio, o enviado, Jason Greenblatt, que também já atuou para Trump como advogado para questões imobiliárias, falando ao Conselho de Segurança da ONU, no mês passado:
“É verdadeiramente vergonhoso que por estes corredores, já passaram perto de 700 resoluções condenando ações de Israel, a única verdadeira democracia da região, e nenhuma resolução condenando os ataques do Hamas contra os israelenses ou seus abusos e negligência para com o povo que supõe governar. Esqueçam de Israel por um minuto. Em que isso ajuda os palestinos, especialmente os palestinos em Gaza? Me perdoem por apontar para o elefante na sala, que aqui é o fato de que o Hamas, o Jihad Islâmico – e não Israel – que se constituem no real problema.”
NERMEEN SHAIKH: Então, este é o enviado de Trump para o Oriente Médio, Jason Greenblatt, falando ao Conselho da ONU. A senhora, Dra. Ashrawi, respondeu a suas colocações afirmando: “Este autoproclamado advogado/apologista de Israel afirma não apenas saber o que é bom para os palestinos mas também diz que sabe disso melhor que eles próprios. Que patronato, que excessiva condescendência! ”. Então qual sua opinião sobre o tipo de pessoas que estão dando aconselhamento ao presidente Trump e o que a Sra. espera que vai acontecer nesta assim denominada oficina em meados de junho no Bahrein?
HANAN ASHRAWI: Sim. Estamos diante de declarações que, como de costume, culpam a vítima, tentam desviar o olhar na outra direção, evitam os fatos da ocupação propriamente dita, evitam se referir ao fato de que Israel cometeu centenas, milhares de violações dos direitos humanos e tem se recusado a atender a todas as resoluções da ONU, a cada uma delas. É por isso que há resoluções contra Israel, não é porque as pessoas escolham discutir Israel, mas é porque Israel persiste em violar a lei internacional. Este tipo de condescendência arrogante, de que “nós sabemos o que é bom para os palestinos. Vejam o Hamas” – bem, nós sabemos quais são os problemas, os problemas que temos em casa. O que se deve fazer é assegurar que a ocupação termine e que os Estados Unidos não se tornem cúmplices ou parceiros no crime da ocupação. Este é o problema real.
Você tem os ideólogos da extrema direita. Trump juntou uma equipe deles. Como você bem colocou, são advogados de concordatas ou de questões imobiliárias e seu genro. Nepotismo, não é apenas um termo, mas se aplica inteiramente aqui. E todos eles comprometidos com Israel. Eles são ideologicamente comprometidos com Israel. Em termos religiosos, vocês sabem, é um presente de Deus. Então alguém como Friedman se sente à vontade para dizer abertamente que Israel está do lado de Deus. Eu imagino o que Deus poderia fazer sem Israel a seu lado. O que eu quero dizer é que, sinceramente, tudo isso é ridículo. Não é a primeira vez que escuto este tipo de declaração. Já ouvimos Pompeo (secretário de Estado) dize que Deus mandou Trump para salvar Israel do Irã.
Então, é assim que se faz política no século 21? É assim que se trata as realidades geopolíticas baseadas na lei internacional, na paridade, no reconhecimento dos imperativos para a paz e a coexistência e assim por diante? Ou a questão é invocar o texto bíblico e o Velho Testamento ou o que seja de similar para justificar as injustiças contemporâneas? E então, alguém como Greenblatt e outros seguem nos dizendo que “seus argumentos estão superados são arcaicos. Não venham a se apoiar em velhos argumentos”, isso enquanto eles mesmos vão para trás, põem-se a recitar a Bíblia, um texto que data de 3.000 anos atrás, como base para as decisões a serem tomadas no século 21. Assim, não devemos falar de Liberdade, direitos humanos, dignidade: estes são realmente argumentos calcificados.
Então, existe um forte grau de compromisso ideológico que emana de uma fé fundamentalista e que tem dominado as formulações e as tomadas de decisão. E é por isso que sentimos que isso é extremamente perigoso. Toda vez que se traz Deus para um conflito, você o torna um conflito religioso. Torna-se uma questão de absolutismo, do absolutamente certo contra o absolutamente errado e, portanto, se pode justificar tudo o que é feito porque se renega a própria humanidade e todos os direitos do outro.
AMY GOODMAN: A Sra. pode falar sobre a recusa que recebeu a seu pedido de visto para entrar nos Estados Unidos?
HANAN ASHRAWI: É, a questão é tão lamentável, que chega a ser, ao mesmo tempo risível e revoltante. Não há qualquer razão para que me seja negado o visto. Eu exercito meu direito de falar, direito de pensamento, liberdade de expressão. Eu pensei que são atitudes que o sistema norte-americano supõe respeitar totalmente. Então não vejo justificativas. Acabo de saber que Washington simplesmente rejeitou meu pedido de visto.
Uma negativa sem qualquer base, já estive inúmeras vezes nos Estados Unidos. Estudei nos EUA, tenho família no país, netos, filha e irmã, genro e assim por diante.
Mas, novamente, é a forma como alguns se rebaixam a níveis onde são capazes de querer punir a quem os enfrenta, contra quem discorda deles, contra quem defende os direitos palestinos. Não vou mudar meus posicionamentos, meus princípios e meu total compromisso com os direitos palestinos para evitar represálias do governo norte-americano.
AMY GOODMAN: A Sra. afirmou – logo após ter seu visto negado pelo governo Trump: “Eu já me encontrei com todos os secretários de Estado desde Shultz e todos os presidentes desde George H. W. Bush.” Mas eu gostaria de lhe perguntar sobre o encontro recente com Matt Duss, o conselheiro para política externa do senador Bernie Sanders. A Sra. pode me dizer onde se encontraram e o que discutiram?
HANAN ASHRAWI: Perfeitamente. Eu conheço Matt há algum tempo, desde quando ele chefiou da Fundação para a Paz no Oriente Médio. Ele agora é conselheiro de Bernie Sanders para questões internacionais. Ele é uma pessoa de muito conhecimento. Estuda as questões que lhe são colocadas, procura discutir com outros. É uma pessoa que pensa, que lê. Coisa rara nos dias de hoje. Mas é o que se necessita. Pessoas estudiosas e não do tipo de pessoas que adotam certo tipo de movimento baseado na ignorância.
E falamos, claro, de Bernie Sanders. E comentamos da ironia que é os palestinos vendo com bons olhos a expectativa da chegada de um presidente judeu à Presidência dos Estados Unidos. Enquanto que os israelenses torcem por um presidente evangélico e extremista. Seja como for, sentimos que a posição de Bernie Sanders, entre outros, é capaz de nos trazer esperanças —não estamos destacando ele como a pessoa. Há todo um espectro agora, felizmente, no Congresso, tanto no Senado, como na Câmara, pessoas que têm a coragem de falar, pessoas que têm a coragem de chamar a ocupação pelo seu nome verdadeiro que têm a visão capaz de os levar a tentar tratar as questões reais e examinar como terminar com a ocupação, como trazer a justiça ao povo palestino, como fazer esta narrativa aceita, ao invés daquela pronunciada pelos que tentam silenciar e distorcer o clamor palestino e calar sua voz.
E felizmente agora, no seio da opinião pública norte-americana e nas universidades, em meio aos grupos, minorias, organizações femininas e assim por diante, vemos emergir uma sensação de liberação, da habilidade de falar, de abordar a questão da justiça para os palestinos sem medo de ser chamado de antissemita e sem receio de enfrentar acusações distorcidas como acontece com o BDS (Boicote, desinvestimento e sanções, movimento contra o regime israelense similar ao que foi levado a cabo na África do Sul) e outros, vemos pessoas enfrentando a criminalização de qualquer um que vem a agir de forma consistente com sua consciência ao defender os direitos palestinos e buscando uma paz justa para a região.
Assim que, entre estes está Bernie Sanders. E nós ouvimos cuidadosamente e vamos progresso em termos de posicionamento. Encontramos outros candidatos que também vieram até a Palestina.
Encontrei Matt. Tivemos um encontro muito forte, muito bom, em meu escritório na sede da OLP. E enviamos mensagens para Bernie Sanders, assim como enviamos mensagens aos demais, porque acreditamos que pode haver um engajamento verdadeiro, um contato genuíno, verdadeiro, discussões e conversas sobre as questões, porque a linguagem estridente de ódio e distorção e assim por diante é realmente contraproducente e perigosa para ambos os lados. E é por isso que eu penso que haverá mais conversas, mais discussões, quanto mais sinceras conversas que tivermos, mais vamos clarificando as questões, melhor seria e mais bem informada seria a produção de decisão nos Estados Unidos.
NERMEEN SHAIKH: Dra. Ashrawi, antes de terminarmos, gostaríamos que nos dissesse o que espera vá acontecer ao final do mês no Bahrein? Há países árabes participando? E os palestinos, incluindo a Sra. mesma, a liderança palestina, boicotam o plano secreto de Kushner?
HANAN ASHRAWI: Veja bem, o plano Kushner não é muito secreto quando se trata das questões concretas – Jerusalém, refugiados e fronteiras e as soluções de Dois Estados e a ilegalidade dos assentamentos e assim por diante. Eles fizeram tudo para prejudicar e destruir as questões reais. Agora eles falam de questões econômicas, como já disseram, eles estão tentando ganhar os árabes para pagarem a conta de forma a levar os palestinos a se entregarem e a integrarem Israel economicamente à região. Então, tentam colocar a Iniciativa de Paz Árabe de cabeça para baixo, tentando fazer com que os árabes normalizem as relações com Israel, mantendo este Estado como potência ocupante, ocupando terra palestina, anexando terra palestina, ocupando terra síria e assim por diante. Isso é, na realidade, premiar o agressor e tentar normalizar com Israel sem que este se adeque à lei internacional, antes de tudo.
Em segundo lugar, penso que toda essa oficina é muito barulho por nada. Há muita conversa na tentativa de persuadir os árabes a comparecerem. Eu não acho que isto vá ter muita significância agora, ainda mais devido ao fato de que seu aliado, e melhor amigo, Israel, está em profunda dificuldade política. Acresce-se a isso, o fato de que seu homem na região, Netanyahu, ainda corre atrás da reeleição.
Então, eu diria que eles conseguiram manejar para que alguns países venham. Eles convenceram o Bahrein a anfritrionar isso, pelo amor de Deus. Eles convenceram a Arábia Saudita e os Emirados Árabes Unidos a anunciarem imediatamente que estarão lá. Até o Qatar já disse que comparecerá. Sei que muitos países fazem cálculos políticos e de interesses e não querem enfrentar os Estados Unidos. Sei que os EUA podem usar diversos meios para ameaçar, pressionar, subornar – o que quer que queiram – outros países. Esse governo tem usado estas táticas.
Conosco eles usam, como sabem, medidas punitivas, sanções. São medidas muito cruéis. Eles podem punir os doentes ao tirarem financiamento de hospitais. Ou, também, punir os estudantes suspendendo bolsas de estudo, ou o que quer que seja. Eles já fizeram isso. Eles suspenderam todo tipo de financiamento aos palestinos e, ironicamente, depois dizem: “Estamos convocando uma oficina internacional para ver como fazer a vida dos palestinos melhorar, como dar a eles mais qualidade de vida”, enquanto levam a cabo uma interdição econômica na região.
Agora, não somos estúpidos. Eu penso que isto não é apenas um insulto a nossa inteligência; é uma agressão aos pressupostos da paz e da comunidade internacional e às pessoas que devem comparecer ao evento e aos que tentam justificar suas presenças ao dizerem, “que a liderança faça algo de bom para seu próprio povo”. Se é assim, tirem o tacão israelense de nossa nuca. Parem com o boicote norte-americano e as ameaças de retirarem mais financiamento a toda a Palestina. Que Israel nos entregue nosso dinheiro, que rouba e segura, os nossos recursos oriundos da alfândega que impõem. Isto é o que precisamos. Então comecem a tratar dos assuntos reais e comecem a se distanciar das táticas diversionistas e de distração, isso não os levará a lugar algum. E eu duvido que os árabes queiram pagar a conta.
AMY GOODMAN: Dra. Ashrawi, queremos agradecer muito por ter estado conosco.
Ashrawi é diplomata palestina, membro do Comitê Executivo da OLP desde 2009, foi a primeira mulher a ocupar este posto.
Tradução de NATHANIEL BRAIA