O deputado Alexandre Ramagem (PL-RJ), ex-chefe da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), impediu a demissão dos dois agentes que espionaram ilegalmente desafetos de Bolsonaro, ministros do Supremo e jornalistas com ferramentas do órgão e foram presos pela Polícia Federal.
A corregedoria-geral da Abin indicou que Rodrigo Colli e Eduardo Arthur Izycki deveriam ser demitidos, mas Ramagem, aliado de Bolsonaro, não permitiu. Eles só foram demitidos no governo Lula, há uma semana.
Ao mesmo tempo em que respondiam a um processo administrativo, os dois usaram uma ferramenta da Abin para espionar, sem qualquer autorização, jornalistas, advogados e adversários políticos de Jair Bolsonaro.
O processo administrativo era referente a participação de Rodrigo Colli e Eduardo Arthur Izycki em um pregão do Exército, enquanto sócios de uma empresa. Essa prática é proibida.
Em 2019, a corregedoria-geral da Abin, após realizar uma apuração, indicou que eles deveriam ser demitidos. É aqui que entra Alexandre Ramagem blindando os dois criminosos.
Segundo a jornalista Juliana Dal Piva, do UOL, que teve acesso aos documentos do processo, em abril de 2021 a corregedoria-geral enviou o caso para o diretor-geral da Abin, que era Alexandre Ramagem, para que o destinasse ao Gabinete de Segurança Institucional (GSI), então chefiado pelo general Augusto Heleno, que deveria realizar as demissões.
Ramagem, porém, enviou o caso de volta para a corregedoria e pediu a coleta de novos depoimentos e provas, argumentando falta de individualização das condutas e “vícios insuperáveis” no processo.
O ex-diretor da Abin ainda defendeu os dois agentes, dizendo que eles não receberam “vantagem financeira, nem sequer causaram prejuízo ao erário”. Além disso, citou a “boa reputação” dos dois dentro da Agência.
Uma nova comissão foi criada por conta da decisão de Ramagem, atrasando mais a demissão dos dois agentes.
A deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ) comentou que “o uso da máquina pública pelo bolsonarismo está mais evidente a cada dia”.
“Em setembro de 2021, quando era diretor da Abin, o hoje deputado federal bolsonarista Alexandre Ramagem (PL-RJ) impediu a demissão de dois funcionários por espionarem integrantes do Judiciário. Na última sexta-feira, estes agentes foram exonerados após serem presos pela Polícia Federal por… espionagem. Por que Ramagem protegeu a dupla de arapongas?”, questionou a parlamentar.
ESPIONAGEM ILEGAL
Rodrigo Colli, que era da área de Contrainteligência Cibernética, e Eduardo Arthur Izycki, ex-agente de Inteligência, foram presos na sexta-feira (20) pela Polícia Federal por conta da espionagem.
Eles usaram o software FirstMile, comprado pela Abin de uma empresa israelense, para monitorar a movimentação de jornalistas, advogados e adversários políticos de Jair Bolsonaro nos primeiros anos de seu governo.
A ferramenta é capaz de invadir o sistema de antenas de telefonia para conseguir os dados mais recentes de localização de qualquer celular.
Um diretor da Abin, Paulo Maurício, também foi alvo da operação da PF. Em sua casa, foram encontrados US$ 150 mil, equivalentes a quase R$ 750 mil.
O uso ilegal da FirstMile ocorreu quando Alexandre Ramagem era o chefe da Abin.