
Senador Izalci Lucas afirmou que peritos do INSS relataram indícios de fraude contra segurados em 2018, na transição para o governo. O senador e o ex-presidente Bolsonaro sabiam das irregularidades
A farsa bolsonarista sofreu forte abalo ao final da audiência pública, nesta segunda-feira (8), com o ex-ministro da Previdência, Carlos Lupi, na CPMI do INSS, quando o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), apresentou documento do ex-ministro Paulo Guedes, de 2019, que explica a deputado bolsonarista como funcionavam as entidades fantasmas.
Guedes escreveu no ofício, que o governo Bolsonaro não iria rever os convênios feitos com o INSS. E que o governo passado sabia dos descontos, mas que cabia aos aposentados e pensionistas a obrigação de provar que estavam sendo lesados.
O depoimento do ex-ministro Lupi deixou claro que o governo do presidente Lula (PT) deu total independência aos órgãos de controle para investigar as fraudes contra aposentados e pensionistas do INSS.
Lupi provou que as fraudes foram cometidas a partir de convênios firmados quase integralmente no governo Bolsonaro. O esquema foi descoberto por investigação promovida pela PF (Polícia Federal) e pela CGU (Controladoria Geral da União) no governo Lula.
“SIMPLES AUDITORIA EM 2019”
“O roubo estava acontecendo e eles justificaram o roubo. O esquema poderia ter sido desbaratado por uma simples auditoria em 2019. O que diferencia os governos no combate à corrupção é a providência tomada”, disse Randolfe.
“Nosso governo soube, a CGU investigou e a Polícia Federal atuou, e não teve ônus da prova para quem foi lesado: todos foram ressarcidos e a operação é para recuperar o dinheiro”, acrescentou.
MECANISMO DAS FRAUDES
O líder do governo em exercício no Senado, Rogério Carvalho (PT-SE), também ressaltou o compromisso do governo em apurar as fraudes e garantir os direitos dos aposentados e pensionistas.
“O ministro da CGU foi indicado pelo presidente Lula; a CGU é um órgão do primeiro governo. Se quisesse esconder, teria feito [a investigação]? Isso não faz sentido”, afirmou o senador.
Rogério apontou os caminhos para a CPMI. “A gente tem a responsabilidade de saber em que momento o esquema aconteceu, qual foi o mecanismo, para que se evite no futuro. O governo já fez uma parte que foi ressarcir essas pessoas. Agora a gente precisa saber qual foi o mecanismo por trás efetivamente”, frisou.
CONFISSÃO AO VIVO
O senador Izalci Lucas (PL-DF) afirmou que peritos do INSS relataram indícios de fraude contra os segurados em 2018, na transição para o governo de Jair Bolsonaro. Portanto, o senador e o presidente sabiam de possíveis irregularidades.
A declaração foi feita em debate ao vivo realizado pela CNN, dia 18 de agosto, em que participou o deputado federal Alencar Santana (PT-SP).
“Eu recebi no meu gabinete os peritos do INSS, onde havia indícios de rombo de mais de R$ 70 milhões [o senador chegou a corrigir para bilhões, mas o valor é fora da realidade], com relação a aposentados, seguro defeso, consignados. E nós levamos isso na transição para o presidente Bolsonaro, que imediatamente fez todo um estudo e editou a Medida Provisória 871, que eu fui o presidente”, disse Izalci.
INTERPELAÇÃO DE ALENCAR
Prontamente Alencar Santana reagiu: “Levou [a denúncia de fraude] à Polícia Federal? O governo Bolsonaro não abriu investigação…” interpelou o deputado.
Na continuidade, Izalci tentou explicar que a forma de reação do governo naquele momento foi a edição da MP 871, aprovada no primeiro semestre de 2019: “As denúncias que eu recebi geraram, realmente, por parte do governo Bolsonaro, a edição de uma medida provisória para estancar essa farra de aposentadoria que existia em função da legislação. Agora, com relação à denúncia fica claro que essa questão foi a mídia, a imprensa, não foi CGU, AGU, não tinham como não investigar. A coisa era tão absurda, escancarada, que estão vendo aí mais de 2 milhões de aposentados com reclamações”, indicou.
PREVARICAÇÃO
Ao retomar o tempo de fala no debate, Santana foi enfático ao apontar que o senador e o presidente prevaricaram — faltaram ao dever — diante dos apontamentos de crime.
“Senador, o senhor acaba de assumir que o governo Bolsonaro sabia dos roubos e não fez nada. Você mesmo disse agora que recebeu denúncia, levou ao Bolsonaro, não foi tomada nenhuma providência por parte da polícia, não foi feita nenhuma investigação interna sequer por parte do INSS, não foi feita nenhuma investigação por parte da Controladoria-Geral da União”, criticou o deputado.
“O senhor acabou de assumir. O senhor prevaricou e o presidente Bolsonaro prevaricou, cometeram crimes. Isso demonstra a participação de vocês, o conhecimento de vocês. E demonstra que vocês não querem investigar, porque se quisessem teriam investigado lá atrás”, acrescentou.
ATRAPALHAR AS INVESTIGAÇÕES
Para ele, os bolsonaristas agora querem, na verdade, atrapalhar as investigações, pois estão com medo: “Se for aberta a CPI, eu quero que o senhor seja convocado e dê esse depoimento. Diga o dia em que recebeu a denúncia, qual providência efetiva foi feita para se investigar, qual encaminhamento o senhor fez à Polícia Federal ou ao Ministério Público Federal, ou à Controladoria-Geral da União, e aquilo que o Bolsonaro fez”, enfatizou Santana.
“O senhor acaba de assumir aqui, ao vivo, que o senhor não fez nada para apurar, nem o governo Bolsonaro”, disse.
Link para o vídeo do debate na CNN: https://www.cnnbrasil.com.br/politica/parlamentares-debatem-o-que-esperar-da-cpmi-do-inss/