O senador reeleito Randolfe Rodrigues (Rede-AP), um dos parlamentares mais atuantes do Congresso Nacional, afirmou nesta terça-feira (6), em entrevista ao HP, que vê com preocupação algumas atitudes do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) em relação às garantias constitucionais e à liberdade de imprensa. Randolfe ressaltou que o Brasil não aceita “censura prévia e seletividade a meios de comunicação, inclusive revelando abertamente que apenas irá contratar propaganda de governo em veículos que lhe sejam obedientes”.
“A conquista da democracia foi decorrente de uma longa e árdua batalha em que muitos tombaram para nos legar uma Constituição Cidadã“, destacou o parlamentar, acrescentando que “estas inclinações antidemocráticas demonstram que, de fato, pilares importantes da nossa democracia estão ameaçados“. “Estaremos atentos e não deixaremos passar nada que afronte o Estado Democrático de Direito“, prosseguiu.
Como senador mais votado da história do Amapá e o segundo mais votado proporcionalmente do País, Randolfe Rodrigues defendeu a criação de uma ampla frente democrática para se contrapor ao arbítrio e para se colocar na defesa das conquistas sociais ameaçadas. “Acredito que devamos construir uma frente ampla de oposição responsável no Brasil, com a presença de partidos progressistas, que seja capaz de dar as respostas necessárias para este momento sensível da vida política do país“, argumentou o parlamentar.
Hora do Povo – Algumas declarações de Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral apontam na direção do desrespeito ao Estado Democrático de Direito. Como você vê esse fato? A democracia está ameaçada?
Randolfe Rodrigues – Vejo com bastante preocupação, uma vez que o presidente eleito já adota medidas autoritárias, como censura prévia e seletividade a meios de comunicação, inclusive revelando abertamente que apenas irá contratar propaganda de governo em veículos que lhe sejam obedientes. Além disso, em suas primeiras declarações, Bolsonaro ameaça ignorar a escolha do Procurador Geral da República por meio de lista tríplice e até em indicar os reitores das Universidades Federais. Estas inclinações antidemocráticas demonstram que, de fato, pilares importantes da nossa democracia estão ameaçados.
A conquista da democracia foi decorrente de uma longa e árdua batalha em que muitos tombaram para nos legar uma Constituição Cidadã, instituições democráticas sólidas e liberdade plena de expressão. Nosso papel é de garantir estas conquistas impedindo todo e qualquer retrocesso autoritário, muito pelo contrário, ampliando a democracia hoje vigente no Brasil. Estaremos atentos e não deixaremos passar nada que afronte o Estado Democrático de Direito.
Hora do Povo – Algumas medidas aventadas pelo novo governo estão indo na direção de retirada de direitos sociais, ataques à Previdência pública e privatizações de estatais estratégicas. Como você se posiciona sobre essas questões?
Randolfe Rodrigues – Enquanto deputado federal, o presidente eleito Jair Bolsonaro sempre se posicionou contra os direitos dos trabalhadores e, mais recentemente, sempre ao lado do governo Temer, como quando votou favorável à reforma trabalhista e à terceirização – e contra a PEC das domésticas. Agora, negocia já incluir na pauta a reforma da previdência, para se poupar de desgastes no início do mandato. Minha posição sempre foi antagônica à dele e continuará sendo, defendendo as conquistas dos direitos sociais dos trabalhadores.
Ainda pior é a agenda proposta pelo “Superministro” Paulo Guedes, que defende privatizar todas as estatais (incluindo Petrobrás, Banco do Brasil e Caixa Econômica), aumentar o arrocho ao trabalhador, cortar de maneira muito mais profunda os gastos públicos, ao mesmo tempo em que instituirá novos tributos (como a volta da CPMF), mantendo os privilégios dos banqueiros e parasitas, como o repasse de mais de 500 bilhões por ano de serviço da dívida pública.
A experiência Macri, na Argentina, demonstra que esta pauta é desastrosa para países como o Brasil e que irá aprofundar a crise no país, já combalido como resultado da política contracionista de Dilma-Levi e Temer-Meirelles.
Hora do Povo – Você esteve reunido com o senador Cid Gomes. Discute-se uma proposta de conformação de um novo campo político de oposição no Brasil, sem hegemonia do PT. O governador Ciro Gomes também tem defendido esse caminho. Qual sua avaliação e opinião sobre isso?
Randolfe Rodrigues – Acredito que devamos construir uma frente ampla de oposição responsável no Brasil, com a presença de partidos progressistas, que seja capaz de dar as respostas necessárias para este momento sensível da vida política do país.
Meu partido, a REDE Sustentabilidade, junto com o PDT, de Cid Gomes, o PPS e o PSB, já iniciamos conversações para a conformação deste bloco no Senado, que poderá contar com até 14 Senadores, e que será construído com independência em relação ao Partido dos Trabalhadores.
Esta independência é importante porque esta frente ampla não irá se comportar “comparando” os governos do PT com o futuro governo Bolsonaro. Deverá, inclusive, revelar as diversas questões em que os governos Lula e Dilma foram equivocados ou insuficientes. Trata-se de uma frente para fazer o Brasil avançar na direção certa e não voltar atrás!
SÉRGIO CRUZ