O ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, compareceu terça feira (22) na Comissão de Fiscalização e Controle do Senado, para prestar explicações sobre a acusação de que comandou um esquema de candidaturas laranjas do PSL, em Minas Gerais, na eleição de 2018.
Ele foi ouvido na condição de convocado, situação cujo comparecimento é obrigatório. Em outras duas ocasiões nas quais fora convidado, o ministro chegou a confirmar presença, mas acabou não indo ao Senado.
Presidente do diretório mineiro durante o pleito e eleito deputado federal mais votado do estado, Marcelo Álvaro Antônio foi denunciado pelo Ministério Público de Minas Gerais por falsidade ideológica eleitoral, apropriação indébita de recurso eleitoral e associação criminosa.
Conforme a denúncia, as candidatas laranjas foram coagidas a devolver ao PSL recursos de campanha oriundos do fundo partidário. Elas teriam concorrido apenas para cumprir a lei que destina 30% do dinheiro a candidaturas femininas. Uma das candidatas recebeu apenas 186 votos. Para o Ministério Público, a campanha do hoje ministro foi uma das principais beneficiadas pelo esquema, além da campanha presidencial de Bolsonaro. Álvaro Antonio coordenou a campanha bolsonarista em Minas.
Uma investigação da Polícia Federal apontou que o então presidente da sigla no estado tinha controle sobre o repasse de recursos do fundo partidário.
Ao longo da audiência, Marcelo Álvaro se disse “injustiçado” por ter sido denunciado, que não teve envolvimento e sequer ciência do uso candidaturas laranjas pelo PSL. “Não há nenhuma comprovação que eu tivesse envolvimento ou sequer ciência do que estava ocorrendo no partido, onde, segundo a autoridade policial, há indícios de algumas irregularidades”, alegou.
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor da convocação ao ministro, abriu a fase de questionamentos, indagando sobre os contratos firmados na campanha com a empresa – posteriormente fechada – que pertencia a Mateus Von Rondon. Nomeado assessor do ministro, ele foi preso em junho por envolvimento no esquema de candidaturas-laranja.
Também pediu esclarecimentos sobre as acusações da candidata a deputada estadual Zuleide Oliveira, que acusou Marcelo Álvaro Antônio de ter pedido de volta, pessoalmente, dinheiro público do fundo partidário. Randolfe questionou ainda por que a deputada Alê Silva (PSL-MG) disse ter sido ameaçada por ele durante uma reunião em Minas Gerais.
O ministro respondeu com evasivas, sempre alegando não existirem provas do seu envolvimento. Ele disse que a empresa de Mateus Rondon era especializada em marketing político e teve como clientes não apenas candidatos do PSL. Quanto às acusações de Zuleide, alegou que estava em outra cidade no dia que câmeras registraram a presença dela no partido. Sobre as ameaças à colega, disse que a denúncia foi retaliação em uma disputa intrapartidária.
Randolfe lembrou então um pronunciamento da deputada Dra. Soraya Manato (PSL-ES), que no plenário da Câmara admitiu o uso de laranjas pela sigla. “Não tem ninguém santo aqui. Tem laranja em tudo que é partido. Aqui no PSL tiveram candidatos laranjas, mas a grande maioria foi eleito honestamente”, disse a paramentar. O ministro disse que ela poderia estar falando de qualquer estado da federação.
O senador Fabiano Contarato (Rede-ES) também contestou as versões do ministro e repreendeu o uso de candidaturas laranjas.
“Não podemos admitir o uso de campanhas laranjas para justificar desvio e caixa dois, que é crime com pena prevista de 12 anos no Código Penal. Até porque as mulheres merecem estar representadas no Legislativo, uma casa de homens engravatados machistas, preconceituosos”, declarou.
Marcelo Álvaro Antônio também foi confrontado com a notícia, que veio a público durante o depoimento do ministro, que a ala bivarista do PSL pretende afastá-lo do comando do diretório de Minas Gerais. Licenciado do posto, ele respondeu que não estava ciente.
WALTER FÉLIX