Julio Croda, infectologista da Fiocruz, afirmou que os testes da vacina devem atrasar após “reação adversa” em paciente no Reino Unido
A farmacêutica inglesa AstraZeneca suspendeu os testes do terceiro estágio de sua vacina contra Covid-19 após o surgimento de reação adversa séria em um participante do estudo, afirmou o site de notícias de saúde “Stat News” nesta terça-feira (8). A empresa informou que o caso ocorreu com um voluntário no Reino Unido, e acrescentou que vai interromper os testes da vacina em todo o mundo, incluindo no Brasil.
Não há detalhes ainda sobre qual foi a reação grave. “Como parte dos testes globais controlados e randomizados em andamento da vacina de Oxford contra o coronavírus, nosso processo de revisão padrão desencadeou uma pausa na vacinação para permitir a revisão dos dados de segurança”, justificou a empresa em comunicado à imprensa. O infectologista e pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz, Julio Croda, afirmou nesta terça que os testes da vacina contra o coronavírus feitos pela fundação no Brasil e desenvolvida pela AstraZeneca devem atrasar após “reação adversa” em paciente no Reino Unido.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) afirmou que a decisão de interromper os estudos foi do laboratório, que comunicou os países participantes, e ainda aguarda o envio de mais informações para se pronunciar oficialmente. O Ministério da Saúde divulgou nota. A pasta destacou que “as regras definidas no protocolo do ensaio clínico com a vacina ChAdOx-1 nCoV-19 são baseadas no padrão internacional e estabelecem que a ocorrência de qualquer Suspeita de Reação Adversa Grave Inesperada (SUSAR) pode provocar a suspensão temporária do estudo”.
Também por meio de nota, a Unifesp se manifestou sobre a situação. “O estudo clínico da fase 3 da vacina de Oxford foi temporariamente pausado em todos os centros que participam dessa etapa, inclusive o Brasil, onde a pesquisa é coordenada pela Universidade Federal de São Paulo, através do Centro de Referência para Imunobiológicos Especiais (Crie/Unifesp)”. A Fiocruz disse que “vai acompanhar os resultados das investigações sobre possível associação de efeito registrado com a vacina para se pronunciar oficialmente.”
O Ministério da Saúde assinou protocolo com a AstraZeneca para participar dos estudos com a nova vacina. Ao todo, o Brasil já desembolsou R$ 1,9 bilhão com a vacina, sendo R$ 1,3 bilhão para pagamentos à farmacêutica, R$ 522,1 milhões para a produção das doses pela Fiocruz/Bio-Manguinhos e R$ 95,6 milhões para a absorção da tecnologia pela Fiocruz. Outra farmacêutica, a norte-americana Pfizer, que também testa uma vacina contra a Covid-19 aguarda uma decisão do governo brasileiro sobre a compra antecipada de sua vacina, mesmo antes do final dos experimentos.
No Brasil também estão em andamento os estudos com a vacina chinesa, fruto da parceria entre o Instituto Butantan e a empresa farmacêutica SinoVac. Dimas Covas, diretor do Instituto Butantã, classificou os resultados dos estudos da vacina chinesa como “excepcionais”. Segundo ele, além da confirmação da indução de anticorpos, as análises apontam baixa incidência de efeitos colaterais.
“Os resultados foram excepcionais, a vacina apresentou indução de anticorpos acima de 92% na primeira dose e acima de 97% na segunda dose, um desempenho muito satisfatório. Além disso, também apresentaram a segurança da vacina, com uma ocorrência de efeitos colaterais muito baixa, abaixo de 3% as pessoas que tiveram algum tipo de efeito colateral e esses efeitos foram muito moderados, até leves, como dor no local da vacina e febre pequena”, destacou em entrevista ao canal Globo News, nesta quarta-feira (12).
“É a vacina que tem o melhor perfil de segurança, todas as outras vacinas em teste têm maior incidência de efeitos colaterais e nem todas têm esse perfil de produção de anticorpos. Então, comprova os dados que eles tinham antes de começar os testes no Brasil e também comprova que nós temos uma vacina das mais promissoras do mundo, que poderá chegar ainda nesse ano no Brasil e ser usada no início do próximo ano pra vacinação em massa”, completou Dimas Covas.
“Eu tenho enfatizado que a vacina estará disponível aqui no Butantan já em outubro. Em outubro receberemos 5 milhões de doses, em novembro mais 5 milhões de doses e em dezembro, mais 5 milhões de doses. Essas doses já estão sendo produzidas lá na China e, portanto, no final deste ano teremos 15 milhões de doses disponíveis”. destacou.
Também está em início os testes com a vacina russa Sputnik-V, que acaba de ser lançada para a população civil da Rússia. O governo do Paraná assinou um acordo de parceria com a Rússia para ter o direito de testar e desenvolver a vacina Sputnik-V no país. De acordo com o governo paranaense, o convênio é uma espécie de “protocolo de intenções”, que possibilita um trabalho conjunto entre os dois governos no desenvolvimento dos testes da fase 3, e posterior produção da vacina.
A partir de agora, será criado um grupo de trabalho em que a Rússia compartilhará com o Governo do Paraná e com a Agência Nacional de Saúde (Anvisa) os resultados das fases um e dois dos estudos da vacina. A previsão é de que a fase número três – quando um número maior de pessoas recebem a vacina – ocorra no estado. O Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) será responsável por todas as etapas, desde a pesquisa até a distribuição das doses da Sputnik V.