O jurista Miguel Reale Jr afirmou que o discurso de Jair Bolsonaro na ONU foi “confissão” de culpa e “reforçou o crime” de charlatanismo por insistir que o uso de cloroquina ajuda no tratamento de Covid-19, mesmo que todas as pesquisas demonstrem que isso é mentira.
Reale Jr. foi o autor do pedido de impeachment de Dilma Rousseff e de Fernando Collor.
“Era uma confissão. Ele confessa que usava cloroquina, que mandava cloroquina e ainda vai ao púlpito da ONU fazer campanha da cloroquina. Reforça o crime catalogado na nossa legislação como charlatanismo”, disse o jurista.
Para ele, o plano de Jair Bolsonaro, que pode ter sido orientado por advogados, era “mostrar que ele não agiu com dolo, porque estava convicto de que a cloroquina fazia bem, e pergunta como que os outros países não a aceitam”.
“É uma tática ingênua, porque a cloroquina tinha recebido a reprovação, por exemplo, do conselho de medicina da França, da Organização Mundial da Saúde, e também da Organização Panamericana de Saúde, bem como de todos os cientistas brasileiros que vieram aos meios de comunicação alertar para esse risco”, afirmou.
“Ele insiste em defender pontos indefensáveis, se preparando para dizer que agiu de boa-fé”, avaliou Miguel Reale Jr.
“Foi um discurso voltado aos seus próprios eleitores, pessoas que ainda acreditam naquilo que ele fala. Ele falou de Sete de Setembro, desmatamento, muita coisa que não tem a ver com a CPI. Mas ele continua insistindo nas práticas equivocadas”, completou.
O discurso foi feito na Assembleia-Geral da ONU, em Nova Iorque. Na reunião, Bolsonaro disse que “desde o início da pandemia, apoiamos a autonomia do médico na busca do tratamento precoce”.
“Eu mesmo fui um desses que fez tratamento inicial. Respeitamos a relação médico-paciente na decisão da medicação a ser utilizada e no seu uso off-label”, considerou.
“Não entendemos porque muitos países, juntamente com grande parte da mídia, se colocaram contra o tratamento inicial. A história e a ciência saberão responsabilizar a todos”, apontou.
Na terça-feira (21), o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, que acompanhava Bolsonaro na viagem aos Estados Unidos, descobriu que estava com Covid-19. Queiroga esteve na sede da ONU e encontrou presidentes e outras lideranças.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) recomendou a toda a comitiva de Jair Bolsonaro ficar em isolamento nos Estados Unidos.