Ele afirmou que, apesar do povo ter eleito um governo que quer investir no crescimento, o Congresso deve tomar a iniciativa de “lipoaspirar a máquina pública”
Bruno Dantas, presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), se reuniu com banqueiros nesta terça-feira (12), na sede da Febraban, em São Paulo, e afirmou que a máquina pública brasileira precisa “de uma lipoaspiração”. O encontro teve o objetivo de discutir propostas de reforma administrativa.
É claro que o ambiente era propício para esse tipo de demagogia, já que os bancos só pensam em aspirar o Estado. Eles defendem reduzir o tamanho do Estado para o povo. Enquanto isso, sugam-no de todas as formas possíveis. Querem mesmo é garantir a manutenção de seus lucros bilionários obtidos através ciranda com títulos públicos.
“O TCU não tem uma opinião sobre qual é a melhor reforma administrativa, mas ao informar o poder Legislativo que 20% da despesa primária do nosso país é consumida por folha de pagamento, o tribunal dá um alerta de que não é possível falar em equilíbrio fiscal sem olhar para a despesa. Falar apenas da ampliação da receita é uma miopia”, disse Dantas.
Esquecendo-se que seu cargo é vitalício, ele indagou: “será que precisamos que todos os funcionários públicos tenham estabilidade, que hoje é confundido com vitaliciedade? Não se vê funcionário público ser demitido por insuficiência de produtividade”, declarou.
Vejamos onde a “lipoaspiração”, sugerida pelo senhor Dantas aos banqueiros, poderia e deveria ser realmente concretizada.
Este ano os cofres públicos serão sangrados em cerca de 800 bilhões de reais somente para o pagamento de juros pelos títulos negociados com os sócios da Febraban e outros parasitas e agiotas. Neste mesmo ano, as verbas destinadas para toda a Saúde e toda a Educação do país chegam a 333 bilhões de reais, ou seja, menos da metade do que é destinado para encher os cofres de meia dúzia de bancos.
Está claro onde se encontra a “gastança” que tem que ser contida e onde está a “lipoaspiração” que tem que ser feita.
Os lucros do Itaú, Bradesco, do espanhol Santander e do Banco do Brasil somaram R$ 25,1 bilhões no terceiro trimestre (julho, agosto e setembro) de 2023. São os quatro grandes bancos operando no Brasil com ações na Bolsa de Valores. O Itaú veio à frente com R$ 9 bilhões de resultado, seguido pelo Banco do Brasil com R$ 8,8 bi. O Bradesco ficou com um lucro de R$ 4,6 bi, sendo que o Santander obteve R$ 2,7 bilhões.
Os bancos, e seu porta-voz na direção do Banco Central, Roberto Campos Neto, estão mantendo o Brasil como campeão mundial das taxas de juros reais. O país é disparado hoje o maior paraíso da especulação financeira mundial.
Estamos muito longe do segundo lugar em juros altos do mundo, como até mesmo Fernando Haddad reconheceu nesta terça-feira (12). Fazem uma pressão gigantesca contra qualquer a queda efeitva dos juros. A redução à conta-gotas do juro nominal é uma balela, porque o juro real segue subindo já que a inflação está em queda.
No mesmo período em que os bancos bateram recordes de lucros, a indústria brasileira, até setembro, estava em queda de -0,2% no ano e, no acumulado em 12 meses, registrou zero de crescimento. O comércio oscilou em torno do zero em 2023. A população está completamente endividada. Mais de 70 milhões de brasileiros estão inadimplentes, sem condições de consumir. E as empresas também estão endividadas, a ponto do vice-presidente Geraldo Alckmin propor um “Desenrola Empresarial”.
A crise é tão grave que a massa salarial hoje é menor do que era em 2006, conforme denunciou o presidente Lula, nesta terça-feira (12), durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CNDES). Estamos, como disse o presidente, “andando para trás”.
Enquanto isso, ⁷os recursos do Tesouro, que deveriam servir à população, alimentar os investimentos em obras de infraestrutura, melhorar os serviços públicos e recompor os salários são canalizados para alimentar a ciranda do setor financeiro. Não satisfeitos, eles convocam o chefe do TCU para defender a “lipoaspiração no Estado”.
Os bancos são tão gananciosos que querem acabar com a única válvula de escape para o consumo da população: o parcelamento sem juros no cartão de crédito. O senhor Dantas não fala uma palavra sobre esse escândalo.
A “lipoaspiração” que tem que ser feita é nos lucros escandalosos dos bancos. Os empresários não estão investindo na produção porque os juros estão nas alturas. O país está estagnado. Nada disso foi tratado na Febraban.
O presidente do TCU prefere se apresentar como um defensor de cortes na Saúde, na Educação, na Segurança. No entanto, os verdadeiros gastos perdulários são, para ele, intocáveis. E eles são muito elevados. A cada um ponto percentual que se reduzisse nas taxas de juros reais do Banco Central, os cofres públicos deixariam de ser “aspirados” em 40 bilhões de reais. Mas, o senhor Dantas prefere “aspirar” os direitos do povo.
SÉRGIO CRUZ