Perseguição a servidores do órgão tinha como objetivo acobertar crimes da dupla Flávio/Queiroz
A Receita Federal admitiu que o Palácio do Planalto está promovendo pressão no órgão para tentar acobertar os crimes de desvio de dinheiro público e lavagem de dinheiro cometidos por Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz, quando o filho de Bolsonaro era deputado estadual no Rio de Janeiro. Segundo as denúncias que estão sob investigação, o então deputado usou imóveis sub e superfaturados e uma loja de chocolates na Barra da Tijuca para lavar dinheiro.
Documento obtido pela revista Crusoé confirma que a Receita abriu procedimento para apurar as alegações de Flávio.
O filho mais velho do presidente, orientado pelos dois relatórios fabricados por Alexandre Ramagem, diretor indicado por Jair Bolsonaro para a Agência Brasileira de Informação (Abin), apontou uma suposta “organização criminosa” que estaria atuando dentro da Receita Federal para prejudicar a ele e a seu assessor, Fabrício Queiroz, operador do esquema criminoso. O plano era usar esses fatos para tentar anular as provas da lavagem de dinheiro do “01” obtidas pelos investigadores do Ministério Público do Rio de Janeiro.
Segundo a Abin, esses servidores eram perigosos e “deveriam ter sido trocados já em 2019”. O órgão de espionagem de Bolsonaro apontou os nomes dos servidores que deveriam ser exonerados. Os “elementos-chave” eram José Barros Neto, corregedor da Receita; Cléber Homem, chefe do Escritório de Inteligência da Receita no Rio; e Christiano Paes, chefe do Escritório da Corregedoria da Receita no Rio. Em 3 de dezembro, o primeiro servidor também apontado pelo relatório da Abin a ser exonerado do cargo foi Christiano Paes, que ocupava a função há mais de 15 anos.
“Como representantes legais do Senador Flávio Bolsonaro duas petições formais à Secretaria Especial da Receita Federal. A notícia sobre supostas irregularidades trazidas ao conhecimento da Secretaria Especial da Receita Federal instruiu procedimento específico, encaminhado à Corregedoria do Ministério da Economia para ciência e providências cabíveis ”, admite a Receita. O ofício da Receita admitindo a irregularidade foi feito a pedido do Partido Novo.
Num dos relatórios ilegais elaborados pela Abin dizia que a defesa do senador devia solicitar também ao Serpro uma apuração especial sobre os dados da Receita e que três “elementos-chave dentro do grupo criminoso” da Receita deveriam ser neutralizados. “Sobre estes elementos pesam condutas incompatíveis com os cargos que ocupam, sendo protagonistas de diversas fraudes fartamente documentadas”, diz o texto da Abin. Os “elementos-chave” seriam os três servidores listados acima.
As informações contidas nos relatórios ilegais da Abin mostram que as articulações do Planalto envolvendo espionagem oficial já vinham desde 2019. “Permanece o entendimento de que a melhor linha de ação para tratar o assunto FB [Flávio Bolsonaro] e, principalmente, o interesse público é substituir os postos conforme relatório anterior. Se a sugestão de 2019 tivesse sido adotada, nada disso estaria acontecendo, todos os envolvidos teriam sido trocados com pouca repercussão em processo interno na RFB [Receita Federal]”, diz um dos trechos do relatório da Abin.
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