
Elevação de tarifas por Pequim e Washington foi desencadeada pela proclamação, em 2 de abril, de uma guerra tarifária ao planeta inteiro, porTrump
Os Estados Unidos e China anunciaram nesta segunda-feira (12) um acordo que reduz por 90 dias as tarifas retaliatórias em vigor entre os dois países, desencadeadas pela proclamação, em 2 de abril, de uma guerra tarifária ao planeta inteiro, pelo presidente Donald Trump, com o secretário do Tesouro norte-americano Scott Bessent agora assinalando que “o consenso é de nenhum dos lados deseja um desacoplamento” e que o que havia ocorrido com essas tarifas altíssimas “era o equivalente a um embargo e nenhum dos lados quer isso. Queremos o comércio.” A China considerou que as negociações propiciaram “progressos substanciais”.
Conforme esclareceu o Ministério do Comércio chinês, “os EUA cancelaram um total de 91% de suas tarifas adicionais, e a China cancelou 91% de suas contra-tarifas; os EUA suspenderam a implementação de uma tarifa que chamou de “recíproca” de 24%, e a China também suspendeu correspondentemente a implementação de uma contratarifa de 24 por cento.
Na prática, o acordo significa o retorno ao patamar anterior às assim chamadas “tarifas recíprocas”, termo cunhado por Trump, ficando para resolução posterior questões relativas a setores específicos – como aço, automóveis e semicondutores – e ao affair fentanyl, caindo de 145% no caso dos EUA para 30% e de 125% para 10% pelo lado chinês.
A trégua foi anunciada após dois dias de negociações em Genebra, na Suíça, encabeçadas por Bessent e pelo vice-primeiro-ministro chinês, He Lifeng, no fim de semana, e recebida com enorme alívio no mundo inteiro, visto as ameaças de recessão global e os recentes sobressaltos nas bolsas e no mercado de títulos do Tesouro norte-americano. Além de riscos de desabastecimento nos EUA, que já começavam a resultar em prateleiras vazias e demissões.
“Podemos promover um novo desenvolvimento nas relações comerciais e econômicas entre a China e os EUA e injetar mais certeza e estabilidade na economia mundial”, disse He.
Declaração EUA-China divulgada nesta segunda-feira (12) disse que tanto Washington quanto Pequim China acreditam que “as negociações em andamento têm o potencial de abordar as preocupações de cada lado em seu relacionamento econômico e comercial”, acrescentando que as negociações prosseguirão no “espírito de abertura mútua, comunicação contínua, cooperação e respeito mútuo”.
O principal negociador chinês descreveu a reunião como produtiva e um importante primeiro passo para resolver adequadamente as diferenças. Bessent também descreveu as negociações no domingo como “produtivas”.
Ele acrescentou ter informado Trump sobre o andamento das negociações, que no domingo postou nas suas redes sociais que “foi uma reunião muito boa hoje com a China na Suíça. Muitas coisas foram discutidas, muitas foram acertadas. Uma redefinição total foi negociada de forma amigável, mas construtiva”.
MEIO DO CAMINHO
Desde Pequim, porta-voz do Ministério do Comércio disse que a expectativa é que “os EUA continuem a trabalhar com a China para se encontrarem no meio do caminho, que corrijam completamente a prática errada de aumentos tarifários unilaterais, fortaleçam continuamente a cooperação mutuamente benéfica, mantenham o desenvolvimento saudável, estável e sustentável das relações econômicas e comerciais China-EUA e, em conjunto, injetem mais certeza e estabilidade na economia mundial”.
Os dois lados também concordaram em estabelecer um mecanismo de consulta econômica e comercial China-EUA para manter uma comunicação estreita sobre suas respectivas preocupações nos campos econômico e comercial e realizar novas consultas.
Em abril, as exportações chinesas tiveram uma alta de 8,1% em comparação ao mesmo período do ano passado, mesmo com as exportações da China aos Estados Unidos tendo caído 17% em igual período. Isso devido ao continuado crescimento do comércio com outros países.
Já as importações caíram 0,2% comparadas ao ano passado. Se somarmos às exportações a queda no transporte de produtos já contratados com empresas americanas, o tombo vai a mais de 21% em abril.
MULTILATERAL
Na noite de domingo, He Lifeng se reuniu-se com a diretora-geral da OMC, Ngozi Okonjo-Iweala, em Genebra, e reiterou o apoio da China ao papel da OMC como estabilizadora do comércio global, de acordo com a agência de notícias Xinhua.
Ele reafirmou o ponto de vista da China de que “o sistema de comércio multilateral, centrado na OMC, é a pedra angular do comércio internacional e desempenha um papel importante na governação econômica mundial. Ele também chamou a defender o multilateralismo e a promover a estabilidade e o bom funcionamento das cadeias industriais e de suprimentos globais”.
Ao desencadear sua guerra tarifária, Trump havia alegado que o mundo inteiro andava “saqueando” e “explorando” os EUA, numa curiosa inversão dos fatos sob o mundo unipolar imposto por Washington, mas refletindo a situação periclitante do déficit comercial norte-americano. Embora fazendo de conta que não tiram proveito do “privilégio exorbitante” do dólar, já denunciado pelo grande De Gaulle nos anos 1960.
De qualquer forma, a percepção de Trump parece ter tido alguma inflexão já que antes ele chegou a declarar como “245%” a sobretarifa sobre produtos chineses por Pequim ter ousado retaliar seu tarifaço.