Desde setembro de 2024 até outubro de 2025. Neste período, o BC aumentou os juros básicos de 10,5% ao ano para 15%. Número de empresas em recuperação judicial é de 5.285 – um patamar recorde, afirma Consultoria
O número de empresas sob recuperação judicial no Brasil aumentou exponencialmente desde que o Banco Central (BC) começou a aumentar a taxa básica de juros (Selic). Dados do Monitor RGF, da consultoria RGF & Associados, apontam que o número de empresas pedindo recuperação subiu 20% desde o início do ciclo de altas da Selic, em setembro de 2024, até outubro de 2025. Neste período, o BC aumentou os juros básicos de 10,5% ao ano para 15% – mantendo este patamar elevado – o segundo maior do mundo – desde junho deste ano.
Atualmente, o número de empresas em recuperação judicial é de 5.285 – um patamar recorde, afirma a Consultoria.
“Nos primeiros meses de elevação da Selic, muitas empresas ainda conseguem postergar decisões mais estruturais, recorrendo a renegociações com instituições financeiras, alongamentos informais de prazos com fornecedores e uso intensivo de capital de giro. Com a manutenção dos juros em patamares elevados por um período prolongado, entretanto, o custo financeiro segue crescente, a dificuldade de rolagem das dívidas piora, e aumenta a compressão das margens operacionais, tornando a recuperação judicial uma saída mais frequente”, explica Rodrigo Gallegos, sócio da RGF.
Além de paralisar os investimentos por conta do alto custo do crédito, os juros altos elevam os custos financeiros das companhias, que gastam mais para rolar dívidas e tomar empréstimos.
Olhando para os segmentos, as empresas do setor de serviços estão em maior número entre as companhias em recuperação judicial, com aumento de 14,8% no período. Na sequência, está a indústria, cujo crescimento foi de 6,2%. O comércio, apesar de terceiro no ranking, teve aumento de 18,9%, seguido pela construção, energia e saneamento, com crescimento de 37,4% de empresas em dificuldade, e o agronegócio, com aumento de 67,8%.
O economista da FecomercioSP (Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo), André Sacconato, reforçou em entrevista ao portal UOL que as taxas de juros elevadas também impactam a demanda, prejudicando as receitas das empresas.
“A saída é reduzir as margens, mas, com juros elevados por tanto tempo, a operação vai ficando cada vez mais inviável”, completa.
O agronegócio, embora não represente o segmento com maior número de empresas em recuperação judicial, foi o que mais cresceu no período.
“Juros elevados são um dos diferentes fatores que têm afetado a saúde financeira do produtor rural. Aqueles que já vinham, há algumas safras, enfrentando problemas climáticos ou mercadológicos encontraram grandes dificuldades para rolar suas dívidas diante do atual patamar da taxa Selic e do endurecimento das condições impostas por muitos agentes financeiros. Como resultado, muitos acabaram se tornando inadimplentes”, comentou Guilherme Rios, assessor técnico da Comissão Nacional de Política Agrícola da CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil), na mesma reportagem do UOL.
Esta semana, o Banco Central divulgou relatório técnico com projeções econômicas que mostram a repercussão da taxa básica de juros elevada para a economia. Para 2026, a autoridade monetária espera o pior crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) desde a pandemia, resultado derivado desta política restritiva.











