Além do clima desfavorável de secas que atingem diversas regiões do Brasil, o aumento dos juros veio atrapalhar o setor ainda mais, diz Serasa Experian
O número de pedidos de recuperação judicial por produtores rurais com CNPJ cresceu 40,6% no segundo trimestre deste ano em comparação com o trimestre anterior, segundo um levantamento feito pela Serasa Experian.
Ao todo, entre abril e junho deste ano,8 foram registradas 121 solicitações pelo agronegócio. Em comparação com o mesmo período do ano passado, época em que 34 produtores rurais haviam entrado com pedidos de recuperação, o número é 256% maior.
Ocorre que, além do clima desfavorável de secas que atingem diversas regiões do Brasil, o aumento dos juros veio atrapalhar o setor ainda mais.
“O aumento dos juros, o preço ameno das commodities e os custos mais altos para a produção, impactaram de forma negativa aqueles que já estavam comprometidos financeiramente”, afirma o chefe de agronegócio da Serasa Experian, Marcelo Pimenta, ao observar que o agro é cíclico, ou seja, passa por momentos de expansão e retração.
“O que está acontecendo agora é o reflexo de uma combinação de eventos diversos que causaram perdas e desafios significativos no campo”, comenta Pimenta.
Segundo a Serasa, a maioria dos pedidos vêm de produtores de soja (53 solicitações), seguido por pecuaristas (25 pedidos), produtores de cereais (23 requerimentos), produtores de café, (7 solicitações) e horticultores (3 pedidos).
Os empreendimentos que giram em torno dos produtores rurais também estão enfrentando dificuldades financeiras. Segundo a Serasa Experian, ao todo, 94 empresas diretamente ligadas ao agronegócio demandaram por recuperação judicial no segundo trimestre de 2024, o que corresponde a um aumento de 22% frente aos três primeiros meses do ano.
Empresas ligadas às agroindústrias de transformação primária (34 solicitações) foram as que mais entraram com pedidos de recuperação judicial. Depois desta, estão: serviços de apoio à agropecuária (16), indústria de processamento de agroderivados (13), comércio atacadista de produtos agro primários (12) e comércio atacadista de produtos agro processados (9).
Hoje a taxa de juros da economia (Selic) do Banco Central (BC) está em 10,75% ao ano para desestimular o crédito e o consumo de bens e serviços no Brasil, a pretexto de combater a inflação – que ao longo deste ano todo vem se mantendo em níveis baixos.
Juros mais altos dificultam a melhora das condições financeiras de empresas, já que o aumento do nível dos juros não permite que as companhias possam renegociar dívidas antigas e caras por contas novas com juros menores.
Para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, que ocorrerá nos dias 5 e 6 de novembro, os bancos já pressionam para que o colegiado acrescente mais 0.50 ponto percentual a taxa Selic, que subiria para 11,25% ao ano, criando mais restrição ao crédito no Brasil.