“A liquidez que foi oferecida pelo Tesouro ao sistema financeiro ainda está empoçada, o pouco recurso que fluiu ao setor produtivo vem a taxas que a indústria não tem condição de assumir”, critica o presidente executivo da Abimaq, José Velloso
Para a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq) a dificuldade do acesso ao crédito às empresas se agravou com a demora do governo Bolsonaro em regulamentar a Medida Provisória (MP) 975, que poderá facilitar o financiamento às micro e pequenas empresas que enfrentam dificuldades na pandemia da Covid-19. Na terça-feira (17), a entidade divulgou números dos efeitos da pandemia no setor.
“A liquidez que foi oferecida pelo Tesouro ao sistema financeiro ainda está empoçada, o pouco recurso que fluiu ao setor produtivo vem a taxas que a indústria não tem condição de assumir”, criticou o presidente executivo da Abimaq, José Velloso.
A Abimaq pede celeridade por parte do governo na regulamentação da MP 975, que institui o Programa Emergencial de Acesso a Crédito e autoriza um acréscimo de R$ 20 bilhões de recursos da União ao Fundo Garantidor para Investimentos (FGI), gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Para José Velloso, a MP 975 é importante, mas ela não versa sobre como as instituições financeiras tratam com as empresas que precisam do crédito, e por isso, há a necessidade de se regulamentar o mais rápido possível esta medida provisória. Segundo Velloso ainda, os bancos paralisaram as operações de crédito à espera da regulamentação da medida provisória.
“A MP 975 precisa ser regulamentada e o Fundo Garantidor instalado para fazer o crédito chegar”, disse Velloso, ressaltando que “já estava difícil para os recursos chegarem para as empresas, mas que agora, com a iminência da regulamentação da MP 975, a situação se agravou”, disse o executivo em entrevista ao Broadcastdo Estadão.
Atividades paralisadas
A Abimaq divulgou na terça-feira (16) a segunda edição da sondagem “Impacto da pandemia da Covid-19”, realizada pela entidade na semana do dia 28 de abril a 15 de maio, junto a seus associados. A pesquisa revelou que 43,6% das empresas entrevistadas estão com atividades paralisadas. Entre os motivos estão: 28,5% afirmaram que interromperam suas atividades por iniciativa própria e 15% suspenderam por conta de medidas restritivas que foram decretadas no combate à pandemia da Covi-19.
Faturamento
A pesquisa identificou que 60% das empresas fabricantes de máquinas e equipamentos registraram queda 17,1% no seu faturamento durante o mês de abril de 2020. Além disto, para os meses de maio, junho e julho, o número de empresas que esperam queda no faturamento continua elevado.
“Este cenário vem refletindo em adiamento e cancelamento de projetos de investimento o que impactará no faturamento das empresas de máquinas e equipamentos ao longo deste ano”, relata Velloso. Segundo a associação, a carteira de pedidos da indústria de máquinas e equipamentos recuou 8,0% durante o mês de abril contra 5,5% em março.
Necessidade de crédito para aliviar a falta de caixa
Para a Abimaq, o capital de giro continua sendo a maior deficiência das indústrias. Entre as empresas fabricantes de máquinas e equipamentos, 45,2 % responderam que precisam de capital de giro para cumprir suas obrigações com fornecedores, governo, salários e bancos; e apenas 15% destes fizeram uso de capital de giro adquirido no mercado bancário durante o mês de abril contra 8% em março.
Das indústrias que procuraram e não conseguiram o acesso ao crédito: 31,8% alegaram que as taxas de juros estavam elevadas; 26,1% alegaram excesso de exigência de garantias por parte dos bancos; 18,2% criticaram o excesso de burocracia; e 13,6% alegaram como motivo a exigência de CND (Certidão Negativa de Débitos).
José Velloso também faz críticas a linha emergencial do BNDES para empresas de maior porte, com taxa média de juro de 11,3% ano – que resulta da soma da Taxa de Longo Prazo (TLP) de 6% ao ano mais 1,25% e o spread do banco repassador. “Esta última é uma taxa aberta e o banco faz o que quer”, criticou o executivo.
Emprego
“É necessário apoio financeiro mais intenso às indústrias nacionais para que elas possam preservar sua mão de obra e ficarem preparadas para voltar aos negócios o mais rápido possível quando a crise acabar”, defende o presidente executivo da Abimaq.
De acordo com a pesquisa, sobre as estratégias das empresas a ser adotada a fim de conservar o emprego durante o mês de maio: 55,9% das empresas apresentou ter disposição em manter a atividade normalmente; 24,6% disseram pretender reduzir a jornada; 10,6% afirmaram conceder férias; 4% utilizar banco de horas; 2,5% informaram terem a intenção de demitir; e 2,4% adotar layoff.