“Ontem (quinta-feira, 6), eu conversava sobre isso com o presidente [Lula], que é altamente favorável ao investimento em Defesa”, informou o comandante do Exército
O comandante do Exército, general Tomás Miguel Miné Ribeiro Paiva, afirmou que sempre tem o risco do garimpo ilegal voltar a se expandir na Amazônia porque “os recursos são escassos e os problemas são crônicos”.
As declarações foram dadas em entrevista ao jornal O Globo.
“Isso sempre tem, porque se os recursos são escassos e os problemas são crônicos. Isso significa que tem que estar presente o tempo todo. Temos enxergado que o orçamento está cada vez mais difícil pelas contingências que estamos vivendo. Uma parte do orçamento é impositiva. O governo tem que enviar para o Congresso. Também não cabe ao comandante do Exército discutir a política orçamentária do país. Cabe ao comandante do Exército explicar quais são os efeitos que isso traz, os projetos que atrasam”, disse o general.
Questionado sobre os efeitos da contenção orçamentária na atuação do Exército, o comandante citou os atrasos de projetos e uso de equipamentos ultrapassados na proteção da fronteira e da Amazônia.
“Quando um projeto como o de monitoramento de fronteira, que estava previsto para terminar em 2022 e passa para 2035, às vezes, essa tecnologia já está obsoleta. Mesma coisa com os helicópteros, que precisam ser substituídos em determinado tempo. Às vezes, não é mais economicamente viável”, explicou.
“Ontem (quinta-feira, 6), eu conversava sobre isso com o presidente, que é altamente favorável ao investimento em Defesa. Eu não posso ficar sem helicóptero na Amazônia, onde o único meio de transporte rápido, de atuação, é o helicóptero. Só que eu tenho aqui um esforço de helicóptero totalmente voltado para o Rio Grande do Sul. Se eu tiver outra emergência, por exemplo, preciso de helicóptero. Vai impactar no orçamento, mas o custo de não ter é muito maior do que o custo de ter”, prosseguiu.
Na entrevista, o militar reafirmou que o Exército está cumprindo a sua missão constitucional. “Somos uma instituição de Estado”, frisou.
“A missão nunca está concluída. Sempre está em andamento”, observou. “Mas está indo bem. Nesse período, não tivemos praticamente nenhum sobressalto, de uma declaração de alguém, uma nota, nada”.
“A política está distante dos quartéis, como tem que ser. A lógica que prevaleceu é a do cumprimento do que está previsto na Constituição. Isso está cada vez mais consolidado. Este é o único caminho que a gente tem na direção de ser um país moderno”, afirmou Paiva.
O comandante também avaliou que não é adequado um militar da ativa ser nomeado para postos de governo, com exceção dos comandantes militares. “O ideal é que passe para a reserva”, defendeu. “Há outros exemplos de militares que, quando foram se somar aos quadros do governo, passaram para a reserva”, citou.
“Pode ter preferência, mas não pode ter partido enquanto estiver vestindo a farda. Pode assessorar, mas depois que está decidido, cumpre a decisão”. “O militar não pode se envolver”, completou.
O general Tomás Paiva disse ainda que não se opõe à instalação da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos.
Paiva justificou que as pessoas que “perderam entes queridos tenham o direito de saber o que aconteceu”. “Isso é humanitário. Ninguém pode se opor a esse direito”.
Ele explicou que não foi contra a instalação da Comissão Nacional da Verdade durante o governo Dilma, mas criticou a “maneira como foi conduzido” o processo. “Durante o curso do trabalho da Comissão Nacional da Verdade, havia um viés que buscava uma justiça de transição que não existe”.
“São coisas bem diferentes. A Comissão Nacional de Mortes e Desaparecidos é uma outra iniciativa”, assinalou.
Lembrado do episódio, em 2018, em que o então comandante do Exército general Villas Bôas publicou um post falando de impunidade às vésperas do julgamento do pedido de habeas corpus de Lula, Paiva afirmou que hoje teria tido uma atitude diferente daquele período quando elogiou o texto.
“Eu acho que o comandante do Exército aqui tinha que ter sido mais veemente no assessoramento. Acho que nós erramos. Não vou julgar também o comandante anterior a quem eu tenho toda a lealdade. Acho que é um erro coletivo. Não deveria ter sido publicado”, posicionou-se.
O militar falou ainda da atuação do Exército na tragédia do Rio Grande do Sul, classificando o trabalho como “uma operação logística e humanitária como nunca aconteceu antes no Brasil”.
“Neste caso, o Estado brasileiro está dando uma resposta”, disse.
“O prestígio das Forças, cumprindo a missão constitucional, ocorre naturalmente e é proporcional ao tamanho do engajamento na missão. Quanto mais vista, o prestígio aumenta. Nesse momento está acontecendo isso. Ontem (quinta-feira), fui lá pela sétima vez”.
Sobre os militares envolvidos numa notícia falsa em torno do suposto rompimento de um dique em Canoas (RS), o general declarou que “procuramos sair na frente, porque isso é um erro”. “Tudo indica que não houve má-fé. Foi uma tentativa de acertar. Mas afastamos (os militares) e abrimos um procedimento administrativo para investigar”, informou.
Ele chamou a disseminação de fake news contra o trabalho do Exército como “uma coisa gravosa” e que busca “as instâncias correspondentes para reclamar”. “É como a lei prevê”.