
“Tudo foi aprovado, estamos a caminho de CINCO cadeiras legislativas a mais”, asseverou Trump em sua plataforma Truth Social.
O presidente Trump, que no seu primeiro mandato ficou famoso pelo telefonema de “me arruma aí 11.000 votos” (na Geórgia), pediu mais modestamente aos republicanos do Texas “mais cinco” cadeiras na Câmara dos Representantes em Washington, e foi atendido esta semana, por 88 a 52, depois de um mês de confrontos com a bancada democrata.
A motivação de Trump e dos republicanos é que no próximo ano vai ter eleição intermediária nos EUA, e ele corre o risco de perder o controle do Congresso. Ainda mais sob o tarifaço e caçada aos imigrantes de Trump, além de sua Lei “Grande e Bonita”, que cortou 11 milhões de pessoas do Medicaid (sistema de saúde para pobres) para financiar corte de impostos dos magnatas.
Os republicanos do Texas aprovaram o “redistritamento”, mudando as fronteiras da área de votação em prejuízo de candidatos negros e latinos, prática antidemocrática mais frequente nos EUA, que foi apelidada de “gerrymandering”, em homenagem ao inovador na fraude.
Normalmente, há redistritamento a cada dez anos, para manter a representatividade após as alterações populacionais detectadas pelo censo. E, quando o “redistritamento” acontece fora de época, já se sabe que é alguém ajeitando a bola com a mão na hora de marcar o gol.
Como denunciou Lisa Gilbert, da Public Citizen: “os impactos imediatos no Texas – privando os eleitores de uma representação justa e o impacto díspar sobre os eleitores de cor, à medida que distritos com maioria ou grandes populações de eleitores de cor são divididos – serão refletidos em todo o país”.
Trump tinha seus motivos para estar exultante: os republicanos têm uma maioria minúscula de três cadeiras na Câmara dos deputados, que periga encolher ou sumir no próximo ano, por exemplo, se a inflação subir. Daí o plano de esticar as atuais 25 (de 38 para o Texas) cadeiras republicanas na Câmara federal para 30.
Daí sua comemoração na sua plataforma Truth Social: “Grande VITÓRIA para o Grande Estado do Texas!!!” “Estamos a caminho de CINCO cadeiras legislativas a mais e de defender os seus Direitos, as suas Liberdades e seu País”, asseverou Trump.
“O Texas nunca nos decepciona”, acrescentou. Também convocou outros Estados de maioria republicana, como Flórida, Ohio e Indiana, a cometerem fraudes semelhantes.
Em nota, o Partido Democrata repudiou o achincalhe. “A pedido de Trump, os republicanos do Texas votaram para fraudar nossas eleições. Esses mapas nos arrastam de volta à década de 1950, despojando as comunidades minoritárias de uma representação justa. O autoritarismo está aqui – e vamos continuar lutando como o inferno por nosso estado e país”.
ORDEM DE PRISÃO PARA DEPUTADOS
A bancada estadual democrata do Texas fez o que pôde para resistir à fraude – até se retirou do estado para não dar quorum à votação. O governador do Texas, Greg Abbott, um republicano, ordenou a detenção dos democratas ausentes e colocou a polícia para monitorar as casas deles. Republicanos do Congresso fizeram apelos ao FBI para que prendessem os “fujões”.
Depois de duas semanas, a bancada democrata decidiu voltar, declarando-se vitoriosa em seu objetivo de chamar a atenção nacional para o problema do redistritamento.
Já o presidente da Câmara do Texas, o republicano Dustin Burrows, chegou ao ponto de obrigar os deputados democratas a se locomoverem sob escolta policial até que houvesse a votação, a pretexto de impedir que se ausentassem. Arbitrariedade a que a deputada negra Nicole Colier se recusou, dormindo no próprio gabinete.
CORRIDA AO REDISTRITAMENTO
O enfrentamento no Texas desencadeou batalhas sobre o redistritamento no país inteiro, e ainda está por se saber se o plano de fraude de Trump serviu realmente para alguma coisa.
Em resposta à iniciativa dos republicanos texanos, a Califórnia, governada pelo democrata Gavin Newsom, anunciou um referendo em 4 de novembro sobre redesenhar o mapa eleitoral do Estado mais populoso do país para conceder cinco cadeiras adicionais no Congresso dos Estados Unidos, assim como no Texas.
“Não ficaremos de braços cruzados enquanto Trump ordena ao Texas e a outros Estados manipular as próximas eleições”, declarou Newsom na segunda-feira.
Por sua vez a governadora de Nova York, a democrata Kathy Hochul, no início do mês chamou o partido a “combater fogo com fogo”.
ÀS CUSTAS DOS ELEITORES NEGROS E LATINOS
A fraude arquitetada por Trump também foi contestada por entidades de defesa dos direitos civis. “Vamos ser claros: a votação de hoje sobre os novos mapas do Congresso nada mais é do que os republicanos do Texas conspirando abertamente com o presidente Trump para tirar a voz e a representação dos texanos comuns no governo e garantir ganhos políticos nas eleições de meio de mandato de 2026”, especialmente os eleitores negros e latinos, disse Taifa Smith Butler, presidente da Demos Action.
O plano do Partido Republicano do Texas “não é sobre representação justa, é sobre consolidar o controle republicano por uma geração e silenciar os texanos de cor”, disse Brett Edkins, da Stand Up America.
“É uma tentativa flagrante de Donald Trump, Abbott e republicanos do Congresso de se esquivar da responsabilidade nas eleições de meio de mandato pelas consequências de suas doações fiscais bilionárias pagas por cortes no Medicaid e outros programas dos quais os texanos dependem”, acrescentou.