Mais um dia! Um dia para família ou um dia para o descanso ou, ainda, um dia para se qualificar. Seis por um é coisa do século passado. É quase trabalho escravo. Só trabalho, trabalho e trabalho. Hoje a família é outra, a escola é outra, o trabalho é outro.
Há 90 anos, a situação era tão esdrúxula que os brasileiros precisaram fazer uma revolução. Foi em defesa da industrialização, do trabalho, da soberania da nação. Ficamos livres dos juros exorbitantes, através dos quais toda nação se espremia em sacrifícios para garantir a renda do café e a boa vida dos donos das plantações, que se tornaram parasitas.
Em maio de 1932, Getúlio instituiu a jornada de 8 horas. Promulgou a lei de 70% das vagas nas empresas para os negros, a CLT, formou um vigoroso mercado interno e o Brasil, durante os próximos 50 anos, foi o país que mais cresceu no mundo, com a exceção da socialista União Soviética.
No final do século XVIII e século XIX, aconteceu a revolução industrial na Europa que, segundo o economista Nilson Araújo, aumentou a produtividade em 700%. Os camponeses foram expulsos dos campos. Nas cidades vagavam sem trabalho com suas famílias. Se roubavam, eram presos e torturados. Daí serem chamados de vagabundos. Diziam as más línguas que 8 horas de jornada era loucura. Conquistamos! Nossa vitória empurrou o capitalismo para novos progressos e mais produção.
Hoje, enquanto toda nação brasileira se contorce para pagar os juros de quase um trilhão de reais, por ano, aos rentistas – o que significa um trilhão de reais? Mais que o orçamento da Saúde, da Educação e do Minha Casa Minha Vida somados -, os três maiores bancos privados lucraram, no último trimestre, quase 20 bilhões de reais. Em compensação, há 40 anos que a economia brasileira está estagnada, a indústria, que já foi 30% do PIB, hoje é 10%. O salário mínimo caiu a 1/3 do seu poder de compra. Estamos regredindo para o passado agrário exportador. Já o ministro da Fazenda, de quem se esperava firmeza, se contorce mais que todo mundo para cortar do seguro-desemprego, da aposentadoria, da ajuda aos miseráveis, para assim tranquilizar os bancos. Parece brincadeira, mas não é.
Na Europa, na maioria dos países a jornada é de 36 horas. Veja a tabela abaixo. Reduzir 16% da jornada sem redução de salário – 5 dias de trabalho por dois de descanso – significa emprego para pelo menos mais 2,5 milhões de trabalhadores, melhor qualificação, mais lazer e, portanto, também, mais produtividade.
Jornada de trabalho semanal em alguns países
1) Austrália – 34,8
2) Alemanha – 40,8
3) Canadá – 31,9,
4) Espanha – 35,4
5) França – 38
6) Israel – 37
7) Noruega – 34,6
8) Reino Unido – 39,6
9) Suíça – 35,6
10) Itália – 38,3
FONTE: OIT, Anuário de Estadistica del Trabajo.
CARLOS PEREIRA