Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, o corte de meio ponto na Selic é “insuficiente”. Ele cobrou uma redução “mais intensa dos juros reais”
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) contrariou a demanda de todo o país e manteve a política de redução a conta-gotas da taxa básica de juros da economia (Selic). A redução anunciada nesta quarta-feira (20) foi de apenas 0,50 ponto porcentual. Assim, a Selic sai dos 11,25% para 10,75% ao ano, mantendo os juros reais (descontada a inflação) entre os maiores do mundo.
Em comunicado, o Copom enfatizou que fará uma “redução de mesma magnitude na próxima reunião” – sinalizando que deve diminuir o ritmo da redução dos juros após a reunião de maio -, o que seria uma afronta contra o empresariado industrial brasileiro, a economia e o governo, que cobram cortes mais intensos na Selic para que o país possa retomar o crescimento.
O Brasil inteiro anseia pelo crescimento da produção com a retomada da economia e a criação de empregos. O plano de reindustrialização, anunciado pelo governo Lula, cria a necessidade urgente de uma vigorosa ampliação dos investimentos públicos e privados. A decisão do Copom sabota frontalmente essas expectativas.
“Mais uma vez o BC de Campos Neto puxa o freio da economia, com sua política de reduzir os juros a conta gotas. O país precisa de mais celeridade do BC para crescer”, manifestou-se na rede social X a deputada federal Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT.
A taxa Selic nas alturas, como vem mantendo o Banco Central, impede que se destrave os investimentos no país – que recuaram 3% no ano passado frente a 2022. A taxa de investimento em 2023 teve o pior resultado desde 2016 (-12,1%), conforme a série histórica do indicador Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), índice que mede os investimentos dentro do PIB.
Para o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban, que já havia cobrado uma queda de no mínimo de 0,75 ponto percentual, o corte de meio ponto na Selic é “insuficiente”. Ele cobrou uma redução “mais intensa dos juros reais”, que contribua significativamente para “necessária redução do custo financeiro suportado pelas empresas, que se acumula ao longo das cadeias produtivas, e pelos consumidores”.
Alban ainda avalia que o colegiado também tem que levar em consideração em suas decisões “o prejuízo que a elevada taxa básica de juros vem provocando à economia”. Com os investimentos travados pelos juros altos do BC, o PIB da indústria de transformação encolheu 1,3% ante 2022. Juros reais na casa dos 7% inviabiliza os investimentos produtivos. É mais fácil ganhar dinheiro no rentismo do que na produção.
De acordo com a CNI, mesmo após as cinco reduções na taxa, realizadas desde agosto do ano passado – quando a Selic estava em 13,75% -, a taxa de juro real permaneceu em 7,5% ao ano, ficando 3,0 pontos acima da taxa de juros considerada “neutra”, ou seja, aquela que não estimularia nem desestimularia a atividade econômica.
“A CNI entende que, mantido o cenário de inflação sob controle, é imprescindível uma aceleração no ritmo de redução da taxa Selic já na próxima reunião do Copom”, cobrou Alban.