O Banco Central (BC) divulgou, na terça-feira (26), a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que reduziu em 0,5 ponto percentual a taxa Selic, afirmando que seguirá impondo restrições ao consumo e a geração de empregos para acentuar a desaceleração econômica do País.
Mesmo com a queda dos ritmos das atividades da indústria, comércio e serviços no primeiro e no segundo trimestre deste ano, causada pela insuficiente demanda por consumo no país, o Banco Central, comandado por Campos Neto, diz em sua ata que não tem a mínima pressa em acelerar o corte na taxa básica de juros Selic, para manter a continuidade do arrocho monetário.
“Os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária”, diz trecho da ata.
Dessa vez, o BC reconheceu na ata que há uma “evolução benigna do cenário corrente de inflação”, destacando uma redução nos preços de alimentos e industriais, no atacado, além da desaceleração nos preços de serviços e de serviços subjacentes. “A inflação ao consumidor segue com uma dinâmica corrente mais benigna, exibindo desaceleração tanto na inflação de serviços quanto nos núcleos de inflação”, diz a ata.
No entanto, o colegiado avalia que “o conjunto de indicadores recentes indica um cenário de maior resiliência da atividade econômica”. Tal análise tem como base o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro do 2º trimestre de 2023, em que a atividade econômica do país cresceu 0,9%, demonstrando uma desaceleração frente ao trimestre anterior, período em que o PIB registrou alta 1 1,8%, puxado pela safra agropecuária.
No segundo trimestre, a indústria variou positivamente em 0,9%, com destaque para o baixo desempenho da indústria de transformação, alta de 0,3% frente ao trimestre anterior. No primeiro semestre, a indústria de transformação recuou -1,3% em relação ao 1º semestre de 2022.
Já os Serviços, setor que engloba também o comércio, cresceram apenas 0,6% na passagem do 1º semestre para o 2º trimestre e, nos primeiros seis meses deste ano, acumulam alta de 2,6%. Nas mesmas bases de comparação, o Comércio variou em alta de apenas 0,1% e de 0,9%, na ordem.
No mercado de trabalho, também há “resiliência”, diz o Copom, manifestando sua insatisfação frente ao leve recuo na taxa de desemprego no último período, mas que atinge ainda 8,6 milhões de brasileiros, com 3,7 milhões de pessoas no desalento – pessoas que desistiram de procurar emprego por não acreditar que há oportunidade ou por outros motivos -, e 5,1 milhões de pessoas que trabalham menos do que poderiam. Além dos 38,3 milhões de trabalhadores informais, pessoas obtendo sua subsistência em atividades de trabalho precário, sem carteira assinada, como PJs, que na sua maioria são pessoas vivendo dos famosos “bicos” com jornada de trabalho excessiva e renda miserável.
No entanto, com a manutenção da sua política de arrocho monetário, o Copom prevê “um cenário de desaceleração da economia nos próximos trimestres”, com desaceleração no ritmo de contratação no mercado formal e para a queda na taxa de participação.
Em sua ata, o Copom também expressou a preocupação do chamado “mercado” com a política fiscal do governo, fazendo pressão para que a área econômica do governo Lula siga com a sua proposta de zerar o déficit da máquina pública em 2024.
O Copom reforça a importância da “firme persecução” dessa meta. “As expectativas de inflação, após apresentarem reancoragem parcial, seguem sendo um fator de preocupação”. “Entre as possibilidades que justificariam observarmos expectativas de inflação acima da meta estariam as preocupações no âmbito fiscal”, citou o colegiado.
“Desse modo, o Comitê avalia que a redução das expectativas virá por meio de uma atuação firme, em consonância com o objetivo de fortalecer a credibilidade e a reputação tanto das instituições como dos arcabouços econômicos”, afirmou em outro trecho da ata.
Como contrapartida para o resultado primário zero no ano que vem, a equipe econômica do governo federal propõe o aumento da arrecadação. Caso não aumente a arrecadação de impostos – o que tem enfrentado dificuldades até o presente momento – o governo para cumprir a meta terá que inevitavelmente cortar os investimentos – as chamadas despesas discricionárias, que são as verbas orçamentárias que o governo pode ou não executar, de acordo com a previsão de receitas.
O novo arcabouço, que substitui a regra do “teto” de gastos criada em 2016, determina que em caso de rompimento da meta de resultado primário, o governo deverá limitar, no exercício posterior, o crescimento das despesas a 50% do crescimento das receitas – reduzindo os investimentos para saúde, educação, segurança, em obras de infraestrutura, entre outros despesas sociais.