“Não dá para tirar, nem diminuir o valor do benefício agora. É um tiro no pé do ponto de vista da vida das pessoas, do trabalho e do próprio governo que vai ter ainda mais dificuldade em fazer o país sair da recessão”. afirmam economistas da UFMG
Em nota técnica, economistas do Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada do Cedeplar da UFMG afirmam que a manutenção do auxílio emergencial de R$ 600 é fundamental para amortecer os efeitos da crise econômica.
O estudo se contrapõe à equipe econômica e a Jair Bolsonaro, que já se manifestaram contra a extensão do benefício, conforme discute a Câmara dos Deputados, alegando que os cofres públicos não têm recursos.
Bolsonaro afirmou que quer cortar o benefício pela metade e estendê-lo por dois meses apenas, após inúmeras tentativas de sabotar o pagamento para as 107 milhões de pessoas inscritas, das quais apenas 59 milhões foram aprovadas.
“Não dá para tirar, nem diminuir o valor do benefício agora. É um tiro no pé do ponto de vista da vida das pessoas, do trabalho e do próprio governo que vai ter ainda mais dificuldade em fazer o país sair da recessão”, afirma Débora Freire, economista e uma das pesquisadoras do Cedeplar.
“O auxílio tem impacto sobre as contas públicas porque quando a atividade econômica cai o governo arrecada menos, e quanto mais houver consumo as empresas pagam mais impostos. Ou seja, quanto mais tempo o auxílio for pago, mais vantajoso será para a economia brasileira”, completa Débora, justificando que ao deixar as famílias sem renda, ou com uma renda inferior, haveria queda de consumo e por consequência, o aprofundamento da recessão.
“Ao manter parte do consumo com o auxílio, as atividades produtivas se ajustam para atender a demanda, mantendo empregos, impactando na arrecadação de impostos e isto também é sentido nas classes mais altas porque são elas que recebem os benefícios da produção”, explica a professora de economia da UFMG.
“O problema econômico do Brasil é um problema social e reduzir o valor do auxílio emergencial aprofundará ainda mais esse quadro”, afirma Ana Luiza Oliveira, também economista do Cedeplar.
“Muito se fala do custo de manter a política até o fim do ano, mas a gente precisa pensar no custo líquido. Sem o benefício, a atividade econômica vai cair mais, e aí a gente tem impactos nas contas públicas da mesma forma”, afirma Débora, que diz que o custo de manutenção da política pode ser três vezes maior, mas os benefícios tendem a ser cinco vezes maiores em termos de PIB e arrecadação do governo. “As famílias usam esses recursos para pagar aluguel, comprar comida, pagar contas. O auxílio pode ajudar a mitigar os impactos da crise”, ressalta a economista.