A ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva (Rede) criticou, na sexta-feira (8), o governo de Jair Bolsonaro (PL) pelo aumento no desmatamento na Amazônia. Segundo ela, a reeleição do atual presidente decretaria o extermínio da principal floresta do mundo.
“Divulgado hoje novo recorde da política anti ambiental do governo: pelo terceiro ano consecutivo o desmatamento do mês de junho supera o ano anterior e é o maior dos últimos 6 anos, 1.120km², conforme dados do INPE. A reeleição dessa gestão é decretar o extermínio da Amazônia”, disse Marina.
ALERTA
Áreas com alerta de desmatamento na Amazônia Legal em junho de 2022 chegaram a 1.120 km², segundo dados do Deter, programa de monitoramento do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Esse é o maior valor para o mês de junho desde 2016.
A série de monitoramento do instituto começou em agosto de 2015. Assim, o desmatamento de junho de 2022 é o maior desde o início da série para esse mês. Antes disso, o recorde para o mês de junho tinha sido em 2021, quando 1.061 km² da floresta foram destruídos.
Em 2022, o mês de abril tinha sido o único a apresentar uma área de desmatamento que ultrapassou a casa de mil quilômetros quadrados, no total, foram 1.012,5 km². Agora, junho também mostra essa marca no desmate da floresta e figura como o mês com maior área desmatada em 2022.
Para efeito de comparação, o município de São Paulo tem cerca de 1.521 km², segundo a Fundação Seade. O total desmatado só em junho na Amazônia seria equivalente a derrubar mais de 74% da capital paulista.
Em nota, o Observatório do Clima destaca que o desmatamento em junho de 2022 representa um aumento de 120% em comparação ao mesmo mês em 2018, último ano do governo Temer, quando registrou-se cerca de 488 km² desmatados.
A organização ainda diz que os dados desmontam o argumento do ministro Joaquim Leite, que afirmou, em audiência na Câmara na última quarta (6), que estaria ocorrendo queda do desmatamento em razão da operação Guardiões do Bioma Amazônia, lançada em março.
A organização também explica que a Área de Proteção Ambiental (APA) do Tapajós, no Pará, foi a que teve maior número de alertas de desmatamento, no total, foram 571.
Ela é seguida pela Reserva Extrativista Chico Mendes, localizada no Acre, com 411 alertas. Em terceiro lugar, figura a Floresta Nacional do Jamanxim, também no Pará, que registrou 262 avisos. Dados das cidades com maiores índices de desmatamento também foram ressaltados pelo Observatório do Clima. Porto Velho, capital de Rondônia, foi a que registrou o maior registro de alertas, com 2.450, no total.
A cidade Lábreas, no Amazonas, figura em segundo lugar com 2.071 avisos. Ela é seguida pelo município São Félix do Xingu que registrou 1.779 alertas.
O Observatório ainda chama atenção para o aumento do desmatamento na região sul do Amazonas, como é o caso do município de Lábreas. Segundo a organização, o maior registro tem relação com o aumento da grilagem de terras na região em razão do projeto de pavimentação da BR-319, que liga Manaus (AM) e Porto Velho (RO).
“A estrada corta uma das áreas mais intocadas da floresta amazônica e estudos indicam que seu asfaltamento quadruplicará a devastação”, informa a organização.
Para a gerente de ciências do WWF-Brasil, Mariana Napolitano, o desmatamento da Amazônia no primeiro semestre de 2022 foi alarmante e coloca o bioma cada vez mais perto do perigo da floresta não conseguir mais se sustentar.
“Perdemos 3.988 Km² na Amazônia Legal em apenas seis meses, confirmando a tendência de intensificação do desmate dos últimos três anos. Quando perdemos floresta, colocamos em risco nosso futuro. A Amazônia é chave para a regulação das chuvas das quais dependem nossa agricultura, nosso abastecimento de água potável e a disponibilidade de hidroeletricidade. O roubo de terras públicas e o garimpo ilegal, que não geram riqueza ou qualidade de vida, estão destruindo nosso futuro”, disse.
O desmatamento está ocorrendo cada vez mais fundo na floresta. Nos primeiros seis meses do ano, o Estado do Amazonas, no coração da floresta tropical, registrou mais destruição do que qualquer outro Estado pela primeira vez.
Da mesma forma, ativistas e especialistas no Brasil culpam Jair Bolsonaro por reverter as proteções ambientais e encorajar madeireiros, fazendeiros e especuladores de terras que desmatam terras públicas com fins lucrativos.