Consumidores, donos de postos de combustíveis e entidades denunciam abuso do fundo árabe que comprou a Refinaria Landulpho Alves na Bahia. Além da gasolina, dispararam o preço do diesel e do gás de cozinha
Donos de postos de combustíveis e consumidores baianos já rechaçam os constantes aumentos nos preços dos combustíveis da refinaria da Petrobrás privatizada pelo governo Bolsonaro, a Landulpho Alves (RLAM), na Bahia, renomeada de Refinaria Mataripe.
A gasolina vendida pela Mataripe – que é controlada pela Acelen (pertencente ao fundo árabe Mubadala Capital) – é hoje 27,4% mais cara do que nas refinarias da Petrobras. Já o valor do diesel S-10 chega a ser 28,2% maior, segundo o Observatório Social da Petrobrás (OSP), órgão ligado à Federação Nacional dos Petroleiros (FNP).
Ao assumir a refinaria em dezembro de 2021, a Acelen modificou a métrica e a forma de divulgação dos reajustes dos combustíveis. Com isso, passou a promover sucessivos aumentos nos preços dos combustíveis, levando a Bahia ao patamar no índice de valores mais altos do país, ficando atrás apenas do Rio de Janeiro.
Adriano Mota, que é gerente-geral de dois postos em Jacobina, no norte baiano, afirma que com a disparada no preço da gasolina seus clientes estão indo abastecer nos estados vizinhos.
“O meu cliente, que poderia abastecer comigo aqui em Jacobina, está passando direto e abastecendo em Pernambuco”, disse ao Estadão.
Já a professora Valdineia Santana, moradora de Salvador, afirmou que tem peregrinado de posto em posto para economizar. Segundo ela, em 2018, gastava cerca de R$ 50 de combustível para trabalhar durante a semana. Agora, desembolsa mais do que o dobro para transitar em um período mais curto.
“Evito ao máximo sair de carro, inclusive aos finais de semana”, conta Valdineia, afirmando que mesmo com a mudança de hábito, compromete R$ 500 por mês do seu orçamento.
No início do mês, o Sindicato do Comércio de Combustíveis, Energias Alternativas e Lojas de Conveniência do Estado da Bahia (Sindicombustíveis Bahia) enviou representação ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), alegando abuso de poder econômico da Acelen, em razão dos constantes aumentos.
De acordo com os documentos apresentados ao CADE, a “Acelen vem praticando, na Bahia, preços substancialmente maiores do que os que ela própria pratica para venda a outros Estados, como Alagoas, Maranhão e até mesmo Amazonas”. “As diferenças em relação à gasolina A chegaram a mais de trinta centavos por litro em fevereiro deste ano e vinte e oito centavos para o óleo diesel S10”, disse o presidente do Sindicombustiveis Bahia, Walter Tannus Freitas.
“O Sindicato entende que possa haver abuso de poder econômico da Acelen, que atua como monopolista no mercado de refino na Bahia e vem impondo às distribuidoras preços maiores que os praticados pelas demais refinarias brasileiras”, destacou.
GÁS DE COZINHA
A refinaria privatizada promoveu no dia 2 de março o segundo aumento do ano no preço do Gás Liquefeito de Petróleo (GLP), também conhecido como gás de cozinha. Uma alta de 3,24%, após o reajuste praticado em 3 de fevereiro. Na época, o botijão de 13 quilos subiu 9% e ultrapassou a marca de R$ 120 em algumas cidades.
Em setembro de 2020, um botijão custava em média R$ 68 na Bahia.