A Refinaria da Amazônia (Ream), antiga Isaac Sabbá (Reman), privatizada pelo governo Bolsonaro no final de novembro do ano passado, já vende o botijão do gás de cozinha mais caro do país, segundo apontam números divulgados pelo Observatório Social do Petróleo (OSP), organização ligada à Federação Nacional dos Petroleiros (FNP).
Sob o controle do grupo privado Atem, desde o início de dezembro de 2022, o preço do botijão da Reman já é 37,1% superior ao das refinarias da Petrobrás e está 14% acima do cobrado pela Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, privatizada no final do ano de 2021, que sob o controle do fundo árabe Mubadala Capital passou a se chamar Mataripe. No ano passado ela estava na ponta dos preços altos dos combustíveis.
“O gás de cozinha é um dos maiores problemas na economia brasileira hoje. Estamos em uma tendência de queda no consumo de GLP, por conta dos preços altíssimos do botijão”, destacou o economista do OSP e do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), Eric Gil Dantas.
O estudo do OSP aponta também para o recuo do consumo de gás de cozinha tanto no âmbito nacional como regional em 2022, na comparação com o mesmo período do ano anterior. Entre os meses de janeiro a novembro do ano passado, a venda de botijões de GLP caiu 3,01% no Brasil e 0,65% na região Norte. Em 2021, o consumo nacional já tinha diminuído em 4,18%, com redução de 2,35% no Norte do país.
“Desde 2021 as famílias vêm substituindo gás de cozinha por lenha em todo o país. Com a privatização da Reman e a decorrente explosão do preço do GLP na região, esse problema se acentuará. Desde que foi privatizada, o preço da refinaria subiu 16%. Com certeza já veremos o reflexo disso nos dados de consumo de GLP em janeiro para a região”, afirma Gil Dantas. Em janeiro, a Ream vendia em média o metro cúbico de gás liquefeito de petróleo (GLP) a R$ 4,42; a Mataripe, a R$ 3,4; e a Petrobrás, a R$ 3,2.
A Reman, que fornece combustíveis aos Estados do Amazonas, Pará, Amapá, Rondônia, Acre e Roraima, foi vendida pelo governo Bolsonaro em agosto de 2021 por US$ 257,2 milhões ao grupo privado Atem. No entanto, o processo de venda só foi concluído em 30 de novembro do ano passado.
Segundo levantamento da OSP, antes da privatização, a refinaria amazonense vendia o GLP (Gás Liquefeito de Petróleo), conhecido popularmente como gás de cozinha, a 0,8%, em média, mais barato do que as outras refinarias estatais. No entanto, passado o controle para a iniciativa privada, “a Ream cobra, em média, 29,5% a mais do que as refinarias da Petrobrás e 10,4% mais caro do que a refinaria baiana, que opera sob gestão privada da Acelen desde dezembro de 2021” informa o OSP.
De acordo com OSP, o levantamento, que tem como base dados de preços do GLP vendido às distribuidoras pela Petrobrás, Ream e Mataripe, antes e após as privatizações, leva em consideração o período de 01/03/2022 até o dia 3 de fevereiro.
PREÇO AO CONSUMIDOR
Os estados atendidos pela Ream figuram entre os 10 maiores preços de GLP do país. Segundo dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o consumidor de Roraima é o que paga mais caro pelo botijão, R$ 128,82. Rondônia aparece em 3º lugar, com o preço de R$ 123,82. Amazonas, em 5º (R$ 123,15); Acre, em 7º (R$ 120,88), seguido por Amapá (R$ 118,94) e Pará, em 9º lugar (R$ 113,48). Na classificação geral, o Rio de Janeiro tem atualmente o menor preço do mercado nacional, vendendo o gás de cozinha a R$ 94,53.