Preço do litro do diesel S-10 também está, em média, 9,8% mais caro
O preço do litro da gasolina vendida pelas refinarias privatizadas por Bolsonaro está, em média, 11,7% mais caro do que o da Petrobrás. Já no caso do diesel S-10, está, em média, 9,8%, acima do preço da estatal. Os números são de um levantamento feito pelo Observatório Social do Petróleo (OSP), pelo qual as refinarias privadas têm promovido aumentos sucessivos dos combustíveis nas últimas seis semanas, entre 13 de julho e 19 de agosto.
A Acelen do Mubadala do fundo dos Emirados Árabes, que controla a primeira refinaria privatizada da Petrobrás, a Landulpho Alves (RLAM) na Bahia, atualmente chamada de Mataripe, detém o maior aumento acumulado da gasolina nas seis semanas seguidas, de 25,6%, o equivalente a R$ 0,66 por litro. No caso do diesel S-10, Acelen aumentou 32,2%, o equivalente a R$ 0,99 por litro de diesel.
Já a Refinaria da Amazônia (Ream), antiga Isaac Sabbá (Reman), privatizada no final de novembro do ano passado, sob o controle do grupo privado Atem, vende o preço em 24,9%, elevando o litro em R$ 0,67. Referente ao S-10, a Ream foi a recordista de aumento no preço no período, com a marca de 32,9%, representando R$ 1,06 a cada litro do combustível. A refinaria fornece combustíveis aos Estados do Amazonas, Pará, Amapá, Rondônia e Acre.
Por sua vez, a 3R Petroleum, que controla a Refinaria Potiguar Clara Camarão (RPCC), no Rio Grande do Norte, após ter reduzido o preço na semana retrasada, voltou a elevar o litro da gasolina na semana passada, ela vende o combustível 23,2% mais caro do que o da estatal, subindo R$ 0,61 por litro.
A RPCC foi vendida pelo governo Bolsonaro, em fevereiro de 2022, para o grupo privado 3R Petroleum, junto com o Polo Potiguar. Sendo concluído o processo de venda em junho deste ano. A 3R não produz S-10.
Na avaliação do diretor da Federação Nacional dos Petroleiros (FNP) e do Sindipetro PA/AM/MA/AP, Bruno Terribas, em que pese a ação da Petrobrás de “abrasileirar” os preços dos combustíveis, pondo o fim ao PPI (preço de paridade de importação) em maio deste ano, “várias outras medidas são necessárias para que o preço ao consumidor final faça jus à vantagem de termos uma estatal com tamanha relevância mundial no setor de petróleo e gás”, declarou em nota.
O economista do OSP e do Instituto Brasileiro de Estudos Políticos e Sociais (Ibeps), Eric Gil Dantas, destaca que uma das medidas seria a reestatização das refinarias. Em seu artigo, a análise dos preços dos combustíveis antes e depois das privatizações das refinarias RLAM e REMAN no Brasil, publicado em fevereiro, Gil Dantas destaca que “como muitos analistas já avisavam lá trás, a privatização de refinarias da Petrobras é ruim para a economia do país, pois eleva os preços dos combustíveis”.
Antes da privatização, a RLAM e a Isaac Sabbá ofertavam preços menores do que a média das outras refinarias da Petrobrás. De acordo com o economista, a diferença de preços entre as refinarias da Petrobrás e as privatizadas, ocorre basicamente, primeiro, porque “a Petrobrás, como uma empresa estatal e integrada, consegue e deseja cobrar preços mais baixos do que suas concorrentes”, destacou.
“A diferença entre o custo de extrair petróleo e o de refiná-lo e o preço final do combustível cobrado pela Petrobrás é imenso, e muito superior a qualquer outra petrolífera/refinadora que atua/atuará no país. Além disto, a Petrobrás deseja cobrar preços menores, pois é uma empresa estatal, sob a qual pesa a opinião pública e a pressão do governo federal (seu acionista majoritário)”, lembrou.
“Segundo”, prosseguiu Gil Dantas, “a privatização destas refinarias criou monopólios privados no Norte e na Bahia. Se o desejo de uma empresa privada é maximizar o máximo possível seus ganhos, obviamente que se aproveitará de uma situação de monopólio para fazê-lo. A única concorrência que atinge essas regiões é com produtos importados, que estão muito caros desde o início de 2021”.
Desta forma, “o efeito esperado era realmente que houvesse o aumento de preços dos combustíveis nas regiões onde as refinarias foram vendidas”, ressaltou. “Ainda há o agravante do GLP (botijão de gás de cozinha) no norte do país, que deverá causar ainda mais miséria na região – tendo em vista que o gás de cozinha tem uma alta elasticidade-de preço, isto é, quando aumenta o seu preço, diminui o seu consumo, com as pessoas correndo para a lenha e o carvão”, denunciou Dantas.
Ao apontar os efeitos concretos do que ocorre com a privatização de refinarias no país, o economista questionou “se iremos continuar a privatizar refinarias para agravar ainda mais um dos maiores problemas do país? E não seria o caso de recomprar/reestatizar as refinarias já privatizadas, amenizando o empobrecimento e a dor de brasileiros que cada vez mais são impedidos de cozinhar em suas casas, de abastecer os seus carros para trabalhar?”.
Em maio desse ano, a Petrobrás anunciou sua nova política de preços da estatal, extinguindo com a Paridade de Preços de Importação (PPI), prática na empresa desde 2017, que fez com que os preços dos combustíveis se elevassem no mercado interno em patamares jamais vistos na história deste país.
A direção da estatal busca, ainda revogar o acordo com o Cade, fechado entre o órgão e o governo de Bolsonaro em 2019, que impôs à Petrobrás privatizar oito das suas 13 refinarias, com o objetivo de acabar com o monopólio de refino no Brasil.
O governo de Bolsonaro privatizou, além das refinarias já citadas, a Unidade de Industrialização do Xisto (SIX), localizada em São Mateus do Sul (PR), e a Refinaria Lubrificantes e Derivados do Nordeste (Lubnor), em Fortaleza (CE).