“Reforma enfraquece o Estado e ameaça serviços básicos ao cidadão”, denunciam auditores fiscais

Foto: Gustavo Bezerra/PT na Câmara

As entidades que representam os auditores fiscais em todo o país divulgaram uma nota pública em repúdio à proposta de reforma Administrativa de autoria do deputado Pedro Paulo (PSD-RJ), que tramita na Câmara dos Deputados.

“Sob falsos argumentos de maior profissionalização, meritocracia e extinção de privilégios, a proposta pretende, na verdade, privatizar os serviços públicos, precarizar o vínculo do servidor com o cidadão – que é o real destinatário das políticas públicas –, eliminar direitos e atacar a autonomia federativa de Estados, Municípios e do Distrito Federal”, afirma a nota.

Na nota, os auditores fiscais apelam aos parlamentares do Congresso Nacional a rejeitarem integralmente o texto, que, “sob o manto da eficiência, avança na agenda neoliberal de desmonte do Estado”.

A categoria também convoca a sociedade civil, os sindicatos e os movimentos sociais a unirem-se nessa resistência, “em defesa de um serviço público estável, inclusivo e soberano”.

“A proposta reduz a presença do Estado em um momento em que a sociedade, na verdade, precisa de um Estado mais forte. Um Estado capaz de garantir serviços essenciais de saúde, educação, segurança (inclusive alimentar), pesquisa em ciência e tecnologia e, como a própria Constituição define como essenciais ao funcionamento do Estado, as atividades da Administração Tributária, nos termos do inciso XXII do art. 37 da CF”, afirmam os auditores.

De acordo com as entidades, “a perenidade do Estado e a estabilidade dos servidores públicos são fatores indispensáveis para a garantia dos direitos sociais”. “Isso ficou claro no trágico período da pandemia da Covid19, em inúmeras catástrofes ambientais de que fomos vítimas e também se comprovou em episódios como as apreensões das joias sauditas e as denúncias contra as fraudes na compra de vacinas”.

As entidades do Fisco se juntam às diversas entidades de servidores públicos que têm vindo a público contra a proposta afirmando que repudiam “toda e qualquer forma de precarização dos vínculos entre os servidores e o Estado, como a contratação por tempo determinado e alertam ainda para as referências ao trabalho dos Auditores Fiscais no texto do deputado, “citados como exemplo de carreira que poderia ser suprida por contratações temporárias”. “Trata-se de evidente desconexão com os fundamentos e a estrutura dos novos tributos sobre o consumo, conforme dispõe a Emenda 132”, afirmam.

Segundo as entidades, “a proposta também implode o pacto federativo ao conferir à União competência privativa para expedir normas gerais sobre gestão de pessoas em todos os poderes e para os entes subnacionais. Obriga a adoção de planejamento estratégico, a adesão ao Concurso Nacional Unificado e a imposição de uma tabela única de salários – medida que o país só experimentou durante a ditadura militar”.

A nota denuncia ainda o caráter fiscalista da proposta, que conforme as entidades, “revela seu verdadeiro objetivo: cortar gastos públicos, e não aumentar a eficiência na prestação dos serviços. Com isso, coloca a administração pública na contramão da Constituição de 1988, que estabeleceu as bases para um Estado de Bem-Estar Social”.

Para as entidades, a Reforma Administrativa, tal como pensada pelo deputado relator, “subordina o serviço público à lógica do mercado, ao constitucionalizar critérios voltados à limitação dos gastos com pessoal”.

“A proposta prevê que, em até dez anos, seja criada uma tabela unificada de remuneração para servidores da União, Estados e Municípios, com piso no salário mínimo e teto no limite constitucional. Embora pretenda conter ‘supersalários’, a medida desconsidera as especificidades regionais e setoriais, como as das administrações tributárias”, afirmam.

E por fim, o documento ressalta que a complexidade da tributação brasileira exige remunerações atrativas para captar e reter profissionais qualificados. “Para os Auditores Fiscais, isso pode significar desvalorização profissional, redução de incentivos à capacitação e êxodo de especialistas para o setor privado, comprometendo a fiscalização e a arrecadação”.

O documento é assinado por entidades como SINDIFISCO NACIONAL (Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil), UNAFISCO NACIONAL (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil), ANFIP (Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil), FEBRAFITE (Associação Nacional de Fiscais de Tributos Estaduais), FENAT (Federação Nacional dos Auditores Fiscais das Administrações Tributárias Federal, Estaduais e Distrital), FENAFISCO (Federação Nacional do Fisco Estadual e Distrital), FENAFIM (Federação Nacional dos Auditores e Fiscais de Tributos Municipais) e ANAFISCO (Associação Nacional dos Auditores Fiscais de Tributos dos Municípios e Distrito Federal).

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