“O país mais rico do mundo está saqueando descaradamente o mais pobre”, a China denuncia
A China repudiou a decisão, anunciada pelo presidente dos EUA, Joe Biden, de pilhar um dos países mais pobres do mundo, o Afeganistão, que foi invadido e ocupado por 20 anos e cujas reservas de US$ 7 bilhões são mantidas em bancos norte-americanos, sob a despudorada desculpa de “compensar vítimas dos ataques do 11 de Setembro”.
A porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Hua Chunying, acusou o governo norte-americano de “saquear” o povo afegão. “O país mais rico do mundo está saqueando descaradamente a riqueza do mais pobre! Seja qual for o pretexto, o dinheiro do povo afegão deve estar sob a posse e o controle deles mesmos, especialmente em sua hora de maior necessidade”.
Segundo a ONU, a fome ameaça 22 milhões de afegãos, muitos deles crianças, mulheres e idosos, em um país devastado pela guerra, com a economia em escombros e um sistema de saúde em colapso.
Como observou o Common Dreams, “parte dos fundos totais são reservas que os bancos privados afegãos depositaram no banco central. É dinheiro que o povo afegão comum depositou nesses bancos privados. Agora, o governo Biden, ignorando os vários proprietários desses fundos, decidiu roubá-los todos. Isso é vingança no nível mais desumano”.
Entidades antiguerra dos EUA realizaram atos em várias cidades contra o esbulho. Jean Athey, coordenadora do Ação pela Paz, de Maryland, denunciou que o governo afegão quase não tem dinheiro, os trabalhadores, que estão sem receber pagamento há meses, não têm como comprar comida para suas famílias e o comércio internacional parou, sob as sanções dos EUA.
“A vida de um milhão de crianças é mais importante do que uma manchete negativa em um tablóide. Os EUA devem descongelar os ativos do governo afegão e suspender as sanções que impedem a recuperação da economia afegã e os esforços de ajuda humanitária. Devemos acabar com a guerra econômica dos EUA ao Afeganistão”, pediu Athey.
O Banco Central do Afeganistão pediu a Biden que reverta sua ordem e libere os fundos para ele, dizendo em comunicado no sábado que pertenciam ao povo do Afeganistão e não a um governo, partido ou grupo.
Torek Farhadi, consultor financeiro do antigo governo do Afeganistão apoiado pelos EUA, questionou a legalidade da ordem de Biden. “Essas reservas pertencem ao povo do Afeganistão, não ao Talibã… A decisão de Biden é unilateral e não condiz com a lei internacional”, disse Farhadi. “Nenhum outro país na Terra toma tais decisões de confisco sobre as reservas de outro país.”
O saqueio também foi denunciado em protestos em Cabul no sábado. “Esse dinheiro pertence ao povo do Afeganistão, não aos Estados Unidos. Esse é o direito dos afegãos”, disse organizador da manifestação Abdul Rahman ao jornal Dawn.
Um porta-voz político do Talibã, Mohammad Naeem, também rechaçou o ato decretado por Biden na sexta-feira (11).
“O roubo e apreensão de dinheiro do povo afegão detido pelos Estados Unidos representam o nível mais baixo de decadência humana e moral de um país e de uma nação”, Naeem postou nas redes sociais, acrescentando que, embora a vitória e a derrota sejam evidentes ao longo da história, “a maior e mais vergonhosa derrota é quando a derrota moral se combina com a derrota militar”.
Não seria de estranhar se o principal interesse de Biden na questão seja usar o nauseante episódio para diluir o enorme desgaste que sua imagem presidencial sofreu, sob Cabul revivendo Saigon, em uma retirada cujo significado de derrota não podia ser maquiado ou ignorado.