
O regime neonazi de Kiev assinou em Washington um acordo que entrega as riquezas naturais ucranianas aos EUA, de natureza colonial tão óbvia que mereceu comparações à exploração do Congo pela Bélgica no século XIX.
Partiu do próprio presidente de validade vencida Volodymyr Zelensky o oferecimento das riquezas naturais ucranianas aos EUA no ano passado, ainda nos tempos de Biden, em seu afã por mais armas e dinheiro norte-americano para esticar a guerra para ser anexado à Otan.
Depois de idas e vindas, e do bate-boca de Trump e Zelensky no salão oval da Casa Branca, o acordo foi finalmente rubricado na quarta-feira (30) em Washington pelo secretário do Tesouro, Scott Bessent, e pelo ministra da Economia da Ucrânia, Yulia Sviridenko.
Segundo comunicado do Departamento do Tesouro norte-americano, o acordo prevê a criação do Fundo de Investimento e Reconstrução EUA-Ucrânia “em reconhecimento ao significativo apoio financeiro e material que o povo americano forneceu à defesa da Ucrânia”, a ser formado supostamente em uma base 50/50.
Na verdade, trata-se de uma declaração política através da qual Kiev proclama essa entrega da riqueza mineral, cujos detalhes sórdidos ficam por conta do Acordo de Parceria Limitada, que aparentemente conterá os termos de operação do Fundo, os privilégios das empresas norte-americanas e outros nuances, e regulará o acordo de minerais.
Parte da mídia imperial comemorou o acordo como tendo assegurado aos EUA o acesso a minerais como manganês, titânio, lítio, urânio, ferro e zircônio, às chamadas terras raras (imprescindíveis na alta tecnologia e das quais Washington depende quase inteiramente da China), além de petróleo, gás e carvão.
Ainda segundo o Escritório Francês de Pesquisa Geológica e de Mineração, a Ucrânia tem cerca de 20% das reservas mundiais de grafite, um material essencial para baterias elétricas, escreve a France 24.
Conforme a Casa Branca, o fundo criado pelo acordo receberá 50% dos royalties, taxas de licença e outros pagamentos semelhantes de projetos de recursos naturais na Ucrânia. Esse dinheiro será investido em novos projetos no país. “À medida que novos projetos forem identificados, os recursos do fundo poderão ser rapidamente alocados para o crescimento econômico” na Ucrânia, disse a Casa Branca.
Há o pequeno inconveniente de que boa parte dessas reservas minerais está localizada no Donbass, que já votou pela reunificação com a Rússia, e com as tropas russas a cada dia se aproximando de libertar o que ainda resta de território sob controle dos neonazistas.
Um articulista da agência de notícias russa RIA-Novosti, ironizou o “maior acordo de todos os tempos” dizendo lembrar um jogo entre dois vigaristas, um dos quais ganhou com cartas marcadas e o outro pagou com dólares falsos.
Sobre o que é o acordo, a RIA-Novosti registra que “a gangue de Kiev, depois de endireitar os ombros, manteve-se em silêncio sobre o fato de que, no âmbito do acordo aberto, são os EUA que determinarão quem e em que condições tem o direito de perfurar, cavar e bombear na Ucrânia; os EUA recebem direitos prioritários para extrair minerais estrategicamente importantes no território da Ucrânia, incluindo petróleo, gás, urânio, lítio, elementos de terras raras, ouro e outros recursos valiosos; os EUA terão a primeira reivindicação sobre os lucros transferidos para o fundo conjunto; os EUA não investem um único centavo do orçamento do Estado, mas têm o direito de retirar os lucros recebidos da Ucrânia; as empresas americanas recebem enormes preferências fiscais e proteção contra quaisquer mudanças na legislação ucraniana, bem como prioridade na obtenção de licenças; e aqui está uma linda: ‘A Ucrânia se compromete a não revogar licenças, não nacionalizar recursos e seguir rigorosamente os acordos com parceiros americanos, independentemente de mudanças na legislação ou nas autoridades’. Como resultado, o acordo ‘igual e justo’ terá superioridade legal sobre todas as leis e a constituição ucranianas, semelhante à era das conquistas coloniais.”
Também as futuras entregas de armamento norte-americano ao regime de Kiev serão contabilizadas nos 50% do Fundo referentes aos EUA. Segundo o jornal britânico Independent, a parte americana do Fundo é totalmente isenta de impostos. Também não haverá tarifas sobre a exportação de minerais ucranianos para os Estados Unidos.
De acordo com a Reuters, a inclusão da infraestrutura de gás da Ucrânia, anteriormente prevista, acabou ficando de fora da versão final, assim como a ‘dívida’ citada por Trump de US$ 100 bilhões em armas já entregues.
Mesmo em Washington há questionamentos se o achaque vai efetivamente funcionar. “Há muita propaganda enganosa sobre os minerais de terras raras da Ucrânia, mas, na verdade, o país não possui muitos. Do que possui, a maior parte está no terço oriental da Ucrânia (ou seja, sob controle russo )”, observou o Atlantic Council.
“Assinar um acordo que garante uma parte dos lucros futuros dos ‘minerais’ não protege os EUA e as empresas americanas da situação do mercado global (dominado pela China)”, assinalou o Royal United Services Institute (RUSI).