Primeiro secretário do Partido Comunista da Ucrânia, Piotr Simonenko, destacou que com a trágica agressão de Kiev à população do Donbass, de fala russa, não restou à Rússia, com sua segurança ameaçada, outra alternativa que o “ataque preventivo”
“EUA está adotando uma política agressiva e usa a Ucrânia contra a Rússia”, denunciou o primeiro secretário do Partido Comunista da Ucrânia, Piotr Simonenko, em seu pronunciamento no XXII Encontro dos Partidos Comunistas e Operários realizado em Havana no mês de outubro.
Segundo o dirigente do PC da Ucrânia, isso se tornou possível com o golpe de 2014 com participação ativa dos Estados Unidos que instaurou um “regime neo-nazista-oligárquico no poder, um regime que é, em essência, reacionário e fascista”.
Esse regime desencadeou “uma guerra civil fratricida na Ucrânia, uma guerra contra os cidadãos do Donbass que defendem seus direitos e liberdades constitucionais”, a exemplo do direito à fala e ao estudo da língua russa, de onde a maioria dos cidadãos do Donbass tem origem.
Simonenko denuncia ainda que se instaurou uma perseguição com a qual “o partido foi proibido ilegalmente em meu país, onde nossos camaradas e pessoas de ideias afins sofrem perseguições políticas, prisões e violência física”.
O dirigente alerta que, a política adotada pelos Estados Unidos precisa ser combatida com firmeza pois “as forças do imperialismo internacional, os tubarões da globalização, em sua luta para redesenhar o mapa político do mundo, pelos mercados de recursos e produtos básicos, recorrem a todos os métodos e, de fato, atuam como instigadores da Terceira Guerra Mundial” e se valem, para isso, do “uso ativo do neonazismo e do neofascismo para atingir seus objetivos”.
Segue o pronunciamento de Simonenko na íntegra:
Caros camaradas!
Em nome do Partido Comunista da Ucrânia, dou calorosas boas-vindas aos participantes do 22º Encontro Internacional dos Partidos Comunistas e Operários. O partido foi proibido ilegalmente em meu país, onde nossos camaradas e pessoas de ideias afins sofrem perseguições políticas, prisões e violência física pelas mãos do regime neo-nazista-oligárquico no poder, um regime que é, em essência, reacionário e fascista.
Nós nos reunimos aqui na Ilha da Liberdade em um momento difícil. As forças do imperialismo internacional, os tubarões da globalização, em sua luta para redesenhar o mapa político do mundo, pelos mercados de recursos e produtos básicos, recorrem a todos os métodos e, de fato, atuam como instigadores da Terceira Guerra Mundial. A tragédia é que as forças reacionárias fazem uso ativo do neonazismo e do neofascismo para atingir seus objetivos.
A análise da situação internacional mostra uma crescente agressividade do imperialismo e uma dramática exacerbação de suas contradições internas em duas áreas:
A ideológica – entre o Ocidente imperialista liderado pelos EUA e a China comunista que, na sequência do colapso da URSS, consideram “um império do mal”, assim como Vietnam e Cuba;
Os Estados Unidos buscam preservar sua hegemonia e a ordem mundial na qual desempenha um papel dominante.
Os Estados Unidos estão criando novos blocos militares no Sudeste Asiático, alimentando as tensões no Oriente Médio e Norte da África e adotando uma política agressiva usando a Ucrânia contra a Rússia e Taiwan contra a China. A visita provocativa de Pelosi a Yerevan e suas promessas de apoio à Armênia inevitavelmente levam a uma escalada do conflito no Cáucaso entre a Armênia e o Azerbaijão. A situação na Ásia Central é preocupante (o recente conflito entre o Tajiquistão e o Quirguistão).
EUA E GRÃ-BRETANHA CRIARAM ESTADO NEOFASCISTA
Após a dissolução da URSS, os Estados Unidos e a Grã-Bretanha criaram um estado neofascista no território da antiga Ucrânia soviética, tornando-se seus principais patrocinadores e beneficiários.
As reformas por eles impostas à Ucrânia deram ao capital o controle de todas as esferas da vida social e asseguraram o controle total das multinacionais sobre a vida socioeconômica do país, criando assim a base material para o advento e afirmação, na sequência do golpe armado de fevereiro de 2014, do poder das forças mais reacionárias: a burguesia compradora aliou-se aos neofascistas e ao crime organizado.
Foram essas forças na Ucrânia que destruíram todas as conquistas sociais, a soberania econômica e levaram a uma profunda lumpenização da sociedade.
É por meio dessas forças que os Estados Unidos formaram uma estrutura de poder vertical fantoche e introduziram o controle externo do país.
É por meio dessas forças que os Estados Unidos desencadearam uma guerra civil fratricida na Ucrânia, uma guerra contra os cidadãos do Donbass que defendem seus direitos e liberdades constitucionais. Foram essas forças que, por instigação dos círculos governantes dos Estados Unidos, transformaram a guerra civil no Donbass em uma guerra contra a Rússia.
De fato, a humanidade já foi arrastada para uma nova guerra mundial. Eu gostaria de traçar um dos muitos paralelos trágicos.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a Europa trabalhou para Hitler na guerra contra a URSS. Hoje, agindo no interesse dos Estados Unidos, a Europa está fornecendo armas ao regime pró-fascista na Ucrânia e o fortalece financeiramente.
A continuação desta política conduzirá inevitavelmente ao alargamento do teatro de hostilidades ao território da UE.
As tentativas agressivas de alguns países europeus, em particular Polônia, Hungria, Romênia e os Estados bálticos, de revisar as fronteiras posteriores à Segunda Guerra Mundial apenas acelerarão esse processo.
O ex-ministro das Relações Exteriores da Romênia, Andrei Marga, declarou recentemente sem rodeios que: “A Ucrânia está localizada dentro de fronteiras antinaturais. Deveria ceder territórios: Transcarpátia à Hungria, Galícia à Polônia, Bucovina à Romênia. São territórios de outros países”.
PARA EUA E OTAN NÃO IMPORTA QUANTOS UCRANIANOS MORRAM
O senador estadunidense Lindsey Graham disse cinicamente que, com armas americanas, a Ucrânia lutará contra a Rússia até o último homem.
Na Ucrânia, civis, pessoas inocentes, idosos, mulheres e crianças estão morrendo. É uma tragédia.
Ao apoiar o regime fascista na Ucrânia, os Estados Unidos e a Otan estão seguindo uma política que o ex-senador americano Richard Blake descreveu desta forma: “Não nos importa quantos ucranianos morram. Quantas mulheres, crianças, civis e soldados vão morrer. Nós não nos importamos. É como uma partida de futebol e queremos vencer. A Ucrânia não pode aceitar um acordo de paz. Cabe a Washington tomar a decisão de paz, mas enquanto isso queremos continuar esta guerra, vamos lutar até o último ucraniano”.
Essas declarações dos falcões da guerra confirmam nossa posição e as advertências feitas pelos comunistas ucranianos em Izmir na semana passada: a ameaça de uma ofensiva fascista é real, a guerra que os EUA e a Otan estão travando com mãos ucranianas no território ucraniano é uma guerra em interesse exclusivo dos imperialistas norte-americanos.
Bilhões de dólares são destinados à produção de armas letais e munições, a nova primeira-ministra britânica Liz Truss está [ela deixou o governo pouco depois] pronta para usar armas nucleares, um grande número de tropas da Otan está concentrado nas fronteiras da Ucrânia e da Bielo-Rússia.
CRIMES HITLERISTAS SÃO GLORIFICADOS NA UCRÂNIA
Os imperialistas fazem vista grossa ao fato de que o regime pró-fascista de Zelensky está eliminando impiedosamente os oponentes políticos. Qualquer manifestação de pensamento livre é esmagada por unidades punitivas. Os crimes dos hitleristas e seus cúmplices durante a Segunda Guerra Mundial, que queimaram pessoas vivas em Oswiecim e realizaram massacres em Gernica e Khatyn, estão sendo glorificados.
Os monumentos e sepulturas dos soldados soviéticos que deram a vida para extinguir as chamas dos fornos dos campos de extermínio nazistas são destruídos.
Isso acontece não apenas na Ucrânia, mas em toda a Europa. O Moloch da glorificação dos criminosos nazistas devora mentes ao transformar o homo sapiens (“o homem sábio”) em um “homem louco”.
O processo de recriar alguma aparência do Terceiro Reich nazista está praticamente em andamento.
Este “Reich”, como seu protótipo alimentado pelo capital transnacional, corporações americanas e britânicas, baseia sua ideologia na superioridade da raça “nativa”. Daí a lei sobre os povos nativos que transformou os russos que sempre viveram em território ucraniano em párias, incluindo Donbass, Kharkov, Odessa, Nikolayev, Kherson, na verdade todo o território do nosso país. Como os judeus na Alemanha nazista. Sabemos pela história que tragédia isso causou a milhões de pessoas.
Companheiros!
À luz do que está acontecendo na Ucrânia, em primeiro lugar gostaria de observar que, infelizmente, não há consenso entre os partidos comunistas e operários sobre a natureza do conflito armado na Ucrânia, bem como sobre a posição do Partido Comunista da Federação Russa, que apoiou a operação especial.
Como todo confronto militar tem suas características específicas, a primeira tarefa de todo marxista é identificar sua natureza de classe com uma avaliação apropriada.
GUERRA NO DONBASS É LUTA DE LIBERTAÇÃO NACIONAL
Em nossa opinião, a guerra no Donbass contra o regime de Kiev deve ser considerada como uma luta de libertação nacional, essencialmente uma guerra pela independência do regime fascista no poder, pelo direito do povo de falar sua língua materna e não seguir o rumo anti-russo imposto pelos Estados Unidos.
Portanto, com base na teoria marxista, o conflito militar na Ucrânia não deve ser considerado uma guerra imperialista e, além disso, do ponto de vista russo, é considerado como a luta contra uma ameaça externa à segurança nacional e o fascismo.
Todos sabemos que a Milícia Popular do Donbass não pode resistir ao exército ucraniano de muitos milhares de pessoas equipadas com armas estrangeiras, então sua derrota inevitavelmente levaria à destruição total da população de língua russa, muitos dos quais eram cidadãos da Rússia.
O exército de milhares de ucranianos, sob o comando de instrutores norte-americanos e da Otan, concentrou-se nas fronteiras das repúblicas; o plano de invasão detalhado havia sido desenvolvido com antecedência pelos generais de Washington. Todos estavam esperando pelo comando.
Como resultado, para proteger seus cidadãos e garantir a segurança nacional, a Rússia não teve escolha a não ser lançar um ataque preventivo.
De acordo com a Constituição da Federação Russa, o Presidente tomou as medidas previstas em lei, pois era impossível resistir à agressão de qualquer outra forma.
Além disso, o processo de negociação dos acordos de Minsk foi deliberadamente sabotado por Kiev com o apoio dos Estados Unidos e da União Europeia, uma vez que o estabelecimento da paz na Ucrânia não está previsto nos planos de Washington e da Otan.
A esse respeito, a posição do Partido Comunista da Federação Russa nos parece bastante razoável.
O caráter cada vez mais reacionário do imperialismo moderno é resultado de vários fatores que levaram ao declínio do movimento operário e ao enfraquecimento dos partidos comunistas e operários.
Os comunistas ucranianos acreditam que, ao desenvolver a tática de nossas ações e ao definir as principais esferas de luta, é necessário partir da observação de que a correlação de forças moderna no mundo pende a favor da reação que utiliza o fascismo.
Ao semear a discórdia entre as classes trabalhadoras, utilizando regimes fantoches, neofascistas e neonazistas, o imperialismo intensifica a exploração de países e povos e destrói as bases da democracia popular e de uma ordem mundial justa.
As tendências mundiais modernas e as constantes crises econômicas, infelizmente, diminuem o potencial revolucionário dos princípios do internacionalismo proletário e minam a unidade das classes trabalhadoras. Isso também está acontecendo na Ucrânia, onde está sendo criada uma classe especial de guerra da “classe operária”, que vive da guerra e não pode se imaginar sem ela.
A política de sanções iniciada pelos Estados Unidos e Grã-Bretanha e seus satélites políticos inevitavelmente piora a vida das pessoas comuns, enfraquece o potencial econômico dos Estados, causa desemprego e, em consequência, aumenta o descontentamento social e, infelizmente, desune o movimento operário. O imperialismo mundial usa todos esses fenômenos como arma na luta de classes.
O que vemos hoje na Europa e nos Estados Unidos? Os preços e as tarifas cresceram muitas vezes. Empresas fecham, as pessoas queimam publicamente suas contas de gás, eletricidade e água, fazem protestos contra seus próprios governos exigindo, entre outras coisas, o fim da loucura das sanções e da guerra na Ucrânia. Tudo isso ocorre no contexto da militarização da economia, da política e da histeria da mídia em torno da guerra nuclear.
Estou convencido de que os partidos comunistas e operários devem canalizar as reivindicações econômicas e sociais do povo para a luta política. A luta contra a ameaça do fascismo e uma mudança no sistema social que o gera, ou seja, o sistema capitalista como tal.
Hoje, as forças progressistas – temos que admitir honestamente – estão perdendo a batalha cognitiva pela mente das pessoas. É nosso trabalho superar. Esta é a única maneira, se queremos evitar a catástrofe de uma terceira guerra mundial.
O ENFRENTAMENTO FOI PROVOCADO A PEDIDO DOS EUA
Neste sentido, creio que, no contexto dos objetivos e tarefas do nosso encontro e considerando a situação mundial e a necessidade de lutar pelo fim da guerra e pelo estabelecimento de uma ordem mundial justa, nós, os partidos comunistas e operários, devemos concentrar nossos esforços nas seguintes áreas:
Fortalecer nossa solidariedade, solidariedade com outras forças progressistas na luta contra o neofascismo e os instigadores de uma terceira guerra mundial;
Organizar um sistema de informação pública verdadeira sobre o que está acontecendo na Ucrânia hoje, como isso ameaça a Europa e como ameaça a humanidade;
Explicar às pessoas que a guerra civil no Donbass (2014-2022), como a guerra Ucrânia-Rússia, foram provocadas e desencadeadas pelos regimes pró-fascistas na Ucrânia a pedido e no interesse dos Estados Unidos, a fim de criar uma cabeça de ponte para o desmembramento e a destruição da Rússia como rival geopolítica;
Intensificar a luta contra qualquer tentativa de glorificar a ideologia nazista, restaurando a verdadeira história da Segunda Guerra Mundial; apoiar (sem retroceder em nossos princípios ideológicos) aqueles que defendem uma solução pacífica e o fim da guerra na Ucrânia, independentemente da sua filiação política. Esses políticos e essas forças existem em todos os países.
Também considero necessário fazer todos os esforços no nível dos parlamentos nacionais e do Parlamento Europeu para neutralizar as ações provocadoras dos Estados Unidos e seus aliados na região da Ásia e do Pacífico contra a China. Juntamente com a guerra na Ucrânia e o possível confronto direto entre as potências nucleares, China e Estados Unidos, especialmente no contexto das declarações sobre a “ameaça nuclear” russa, as piores previsões podem, infelizmente, se tornar realidade.
Caros camaradas!
A luta para acabar com a guerra fratricida na Ucrânia desencadeada pelas multinacionais e seus asseclas nos governos dos Estados europeus e não só, a guerra em que a Otan liderada por Washington é de fato parte no conflito (fornecimento de armas, munições e treinamento das Forças Armadas da Ucrânia, financiando e controlando a campanha militar) é a luta para evitar uma Terceira Guerra Mundial, que está a um passo. Devemos fazer de tudo para evitá-la.
Obrigado mais uma vez pela oportunidade de me dirigir aos participantes deste encontro internacional e expressar a confiança na nossa vitória, uma vitória da “luz” sobre as “trevas”.
Extraido de: Marx 21 / Associazione Politico Culturale (www.marx21.it)