
Em cerimônias virtuais, o primeiro-ministro britânico Boris Johnson, a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen e o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, assinaram na quarta-feira (30) – véspera da data oficial da saída britânica da União Europeia – o acordo comercial pós-Brexit, que sucederá à participação de 47 anos do Reino Unido no bloco europeu.
“Foi um longo caminho”, afirmou a alemã von der Leyen, assinalando que “é hora de colocar o Brexit no passado”. O acordo foi alcançado no dia 24 de dezembro, num esforço de última hora das duas partes, e registrado em 1.240 páginas. Ela dissera então que se tratava de um acordo “bom”, “justo” e “equilibrado” quanto ao futuro relacionamento comercial entre os dois lados.
Os embaixadores dos Estados-membros do bloco europeu fizeram uma votação simbólica e unânime para assegurar a entrada em vigor em 1º de janeiro. Provavelmente em março de 2021, ele será apreciado formalmente pelo Parlamento Europeu, o que será seguido pela ratificação por cada um dos 27 países do bloco europeu. O parlamento britânico endossou o acordo por 521 votos a 73.
“Este não é o fim” mas “o início de uma relação maravilhosa entre o Reino Unido e os nossos amigos e parceiros da União Europeia”, exagerou Boris Johnson após rubricar o documento, levantando os dois polegares em sinal de vitória diante das câmeras.
Por sua vez, o presidente do Conselho Europeu afirmou que o novo acordo “protege plenamente os interesses fundamentais da União Europeia e cria estabilidade e previsibilidade para cidadãos e empresas”.
Johnson disse, ainda, esperar que o acordo “acabasse com parte do rancor e recriminações” e permitisse aos britânicos “seguir em frente” após os quatro anos e meio de incertezas que surgiram com o referendo de junho de 2016, que aprovou o Brexit com 51,9% dos votos.
Para o líder trabalhista Keir Starmer, que defendia a permanência britânica na União Europeia, apesar de “insuficiente”, por excluir, entre outros pontos, serviços e reinstalar procedimentos alfandegários, “é melhor do que nenhum acordo”.
Votaram contra os unionistas norte-irlandeses do DUP, os eurófilos do Partido Liberal Democrata e os partidários da independência escocesa do SNP. Na Escócia, o voto contra o Brexit foi majoritário.
A UE garantiu ao Reino Unido acesso isento de impostos e cotas ao seu mercado de 450 milhões de consumidores, mas tem direito a medidas compensatórias em caso de não cumprimento das suas regras em matéria de subsídios estatais, normas ambientais , direitos trabalhistas e questões fiscais.
Por sua vez, o governo britânico aceita que os navios europeus possam pescar 75% do que pescam atualmente em suas águas durante um período de transição de cinco anos e meio. A questão chave sobre a não imposição de uma barreira alfandegária dura entre as duas partes da ilha irlandesa acabou resolvida a contento, de acordo com as partes, e ressalvado o acordo de paz no país.
Após ver sua alma gêmea, Donald Trump, ser escorraçado nas urnas, colocando no nimbo suas conversas com o bilionário alourado sobre o futuro, Boris Johnson reagiu ao anúncio de Bruxelas de acordo, dizendo ter finalizado “o maior acordo comercial até agora”.
“Este acordo é antes de tudo sinônimo de certeza, para a indústria aeronáutica, as transportadoras […] a polícia, as forças de fronteira e todos aqueles que garantem a nossa segurança. […]Mas, acima de tudo, é uma certeza para os negócios”, declarou. Quase a metade das exportações britânicas tem como destino a União Europeia.
Note-se que o acordo cobre principalmente o comércio de bens, onde o Reino Unido tem déficit com seus vizinhos da UE, e exclui setores de serviços, como o financeiro, onde desfruta de superávit.
Já o presidente francês Emmanuel Macron deu sua bênção ao acordo, assinalando que “a unidade e firmeza europeias valeram a pena. O acordo com o Reino Unido é essencial para proteger os nossos cidadãos, os nossos pescadores , os nossos produtores”. Ainda segundo ele, a Europa “avança e pode olhar para o futuro, unida, soberana e forte”.
“De importância história”, sacramentou a primeira-ministra alemã Angela Merkel. Ela se declarou “muito satisfeita” por Londres e Bruxelas terem chegado a um compromisso e que as futuras relações entre a UE e o Reino Unido estejam, portanto, “claramente resolvidas”.
Resta ver até onde vai o fôlego dos conservadores e de seu projeto de transformar a Inglaterra em uma “Cingapura sobre o Tâmisa”.