
“Temos mais de 150 projetos de pesquisa ligados à pandemia, dois deles de vacinas próprias. Foram mais de 50 mil testes RT-PCR, o que fazemos com isso, interrompemos? Seria contraproducente. Ciência demanda continuidade”, diz Denise Pires de Carvalho
A maioria das universidades federais do país, incluindo a maior delas, a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), já confirmou que as aulas presenciais não serão retomadas em 2021. A decisão não foi tomada com base em medidas sanitárias, mas sim, na falta de dinheiro.
Os perversos cortes impostos pelo governo federal ao orçamento das universidades – justamente onde estão ou poderiam estar concentradas as pesquisas relativas à pandemia – não só paralisam a recepção de novos alunos e novos investimentos, como já ameaçam o seu funcionamento básico.
A reitora da UFRJ Denise Pires de Carvalho informa que o déficit da universidade este ano será de, no mínimo, R$ 80 milhões. A situação, segundo ela, é de apagão.
“Existe um limite e estamos além dele, não há mais espaço de gestão”, disse Denise Pires em entrevista ao Valor Econômico.
A universidade sofreu um corte de 20% no orçamento para custeio na passagem de 2020 para 2021, e que chega a 39% quando consideradas as verbas adicionais de 2020 e a parte ainda em contingenciamento. O previsto para o ano é de R$ 299,1 milhões — desse total, R$ 152,2 milhões estão travados. Segundo a reitoria, R$ 111,1 milhões viriam através de emendas que ainda não tem data para serem votadas pelo Congresso Nacional. Os outros R$ 41,1 milhões foram bloqueados na aprovação do Orçamento federal deste ano.
A reitora afirma que a UFRJ e a maior parte das outras 68 instituições públicas sob o chapéu do Tesouro Nacional não voltarão às aulas presenciais em 2021 – exclusivamente por razões orçamentárias.
A Federal do Rio planejava abrir as portas este ano ao menos para 4 mil estudantes que dependem de aulas práticas para formação – mas nem os R$ 13 bilhões necessários para tal serão exequíveis.
Além disso, a universidade presta um grande serviço no controle da pandemia através dos leitos do Hospital Universitário, pesquisas de testagem, medicamentos e terapias e, ainda, no desenvolvimento de vacinas e imunizantes. Contudo, a equipe econômica do governo Bolsonaro optou pela não reedição de verbas específicas para o enfrentamento da Covid-19. No caso da UFRJ, em 2020, o crédito de R$ 63 milhões permitiu a expansão de leitos para pacientes de covid-19 e novas pesquisas.
“Temos mais de 150 projetos de pesquisa ligados à pandemia, dois deles de vacinas próprias. Foram mais de 50 mil testes RT-PCR”, o que fazemos com isso, interrompemos? Seria contraproducente. Ciência demanda continuidade”, diz Denise.
A reitora afirma que para que a universidade consiga se manter até o final deste ano, é necessário que ao menos os R$ 111,1 milhões (das verbas especiais) sejam liberados com urgência. Isso não significa ter estrutura para manter as pesquisas e voltar às aulas presenciais. Reitores de universidades se movimentam para que ao menos R$ 1 bilhão do orçamento das federal – o que pelo menos igualaria os recursos às dotações de 2020.