Comissão que apura os atentados golpistas de 8 de janeiro está atenta às transações financeiras de Mauro Cid e familiares. Há 1 mês, Eliziane Gama (PSD-MA) chegou a questionar o “ex-faz-tudo” de Jair Bolsonaro durante a “não oitiva” dele na comissão
As revelações da última sexta-feira (11) sobre operações financeiras suspeitas, que envolvem o tenente-coronel Mauro Cid, “ex-faz-tudo” do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), já estavam no radar da CPMI (Comissão Parlamentar Mista de Inquérito) de 8 de janeiro.
No “não depoimento” do militar à comissão, já que Cid nada falou, há exatamente 1 mês, a relatora, senadora Eliziane Gama (PSD-MA), demonstrou já tinha algum conhecimento dessa movimentação financeira atípica.
A parlamentar questionou Cid várias vezes sobre o tema, inclusive sobre uso de dinheiro em espécie. Algo corriqueiro entre o clã Bolsonaro, que comprou 51 imóveis, com dinheiro vivo. Prática de quem quer esconder a origem dos recursos.
“NÃO DEPOIMENTO”
O “ex-faz-tudo” não respondeu a nenhuma das perguntas que lhes foram feitas. Ele se limitou a dizer que os questionamentos de Eliziane Gama já estavam “dentro do escopo de que estou sendo investigado”.
Ele obteve habeas corpus para permanecer em silêncio. E assim manteve-se ao longo do que seria a oitiva dele na comissão de inquérito. Por isso, o mais correto é dizer que foi um “não depoimento”.
Numa dessas perguntas, a relatora citou que a Polícia Federal havia encontrado no cofre de Cid 35 mil dólares (R$ 171,1 mil) e R$ 16 mil, em espécie.
“O senhor fez uma viagem aos Estados Unidos que a gente chama de bate e volta, o senhor foi aos Estados Unidos e voltou em apenas 2 dias. Esse valor de 35 mil dólares em espécie, juntamente com esses R$ 16 mil em espécie, o senhor teria trazido dos Estados Unidos?”, perguntou a relatora da CPI do Golpe.
Daí, Cid repetiu que o assunto já era alvo de investigação e que seguia orientações de seus advogados para permanecer em silêncio. Este foi uma espécie de bordão proferido pelo tenente-coronel ao longo do “não depoimento”.
RELATORA CITA 45 DEPÓSITOS
Eliziane Gama lembrou que o uso de dinheiro vivo levanta suspeita e citou normas do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que captou a movimentação irregular da operação.
Ao fazer o questionamento, a relatora citou que investigações da PF apontavam para movimentações financeiros “muito intensas a familiares de Bolsonaro”.
“Nessas investigações da Polícia Federal, há, claramente, a presença de movimentações financeiras significativas de familiares e algumas delas, claramente, direcionadas por vossa senhoria”, disse.
“Por exemplo, a Polícia Federal encontra mensagens suas sobre pagamentos e depósitos de valor, em espécie, feitos a parentes do então presidente Bolsonaro, portanto, dificultando — através do pagamento, em dinheiro vivo, de forma fracionada — a identificação de quem repassou o dinheiro”, completou.
45 DEPÓSITOS DE MAURO CID
A relatora citou a localização de 45 depósitos de Mauro Cid, no valor de R$ 2.840 para um dos familiares, que seriam pagamentos fracionados à família do ex-presidente.
Ela questiona o militar: “Por que a utilização, de uma forma tão intensa, de dinheiro em espécie? Às vezes, até as pessoas que solicitam alguma ajuda, nas ruas, dizem: ‘Eu estou aqui com o meu PIX’. Você quase não vê, realmente, o dinheiro físico, não é? Você está lá com o dinheiro virtual, mas o senhor fazia questão de utilização de dinheiro físico. Por que é que o senhor utilizava tanto dinheiro físico?”.
Cid novamente esquivou-se e repetiu que não iria responder.
DEPÓSITO DE R$ 400 MIL
Na sequência, Gama se refere ao depósito de R$ 400 mil que Cid teria recebido justamente em março do ano passado, quando ocorreu parte dos episódios revelados hoje pela investigação da PF.
“O senhor teria recebido um depósito da ordem de R$ 400 mil. Esse recebimento, no valor de R$ 400 mil, em março do ano passado, foi um valor de transferência ou foi um valor de depósito em dinheiro físico?”.
Ele se manteve calado e invocou novamente o direito constitucional de não criar provas contra ele.
Se tem alguém implicado nas falcatruas e picaretagens que envolvem o ex-presidente da República, este é o “ex-faz-tudo” de Bolsonaro. As evidências saltam aos olhos. Negá-las faz parte do show pirotécnico para proteger o líder dos esquemas e armações para “faturar um qualquer” usando o cargo e a estrutura da Presidência da República.
M. V.