Relatores especiais da ONU sobre Direitos Humanos e Detenção Arbitrária pediram que o governo inglês obedeça ao direito internacional e permita que o fundador do WikiLeaks, Julian Assange, deixe a embaixada do Equador sem qualquer condição prévia.
“É hora de Assange, que já pagou um alto preço por exercer pacificamente seus direitos à liberdade de opinião, expressão e informação e promover o direito à verdade no interesse público, recuperar sua liberdade”, afirmaram Seong-Phil Hong, presidente-relator do Grupo de Trabalho sobre Detenção Arbitrária da ONU, e Michel Forst, relator especial sobre a situação dos defensores dos Direitos Humanos.
A declaração dos especialistas da ONU foi feita na sexta-feira (21), após corte equatoriana de última instância ter negado a Assange seu recurso contra o draconiano estatuto imposto pelo governo de Lenin Moreno, após pressão de Washington, que visa dar um pretexto para o lacaio em Quito entregar o editor a Londres, que o extraditará aos EUA, onde já se sabe que há um processo secreto para que seja extraditado e preso.
Forst e Hong assinalaram que as acusações que Assange enfrenta no Reino Unido – não ter ido a uma audiência sobre uma acusação da Suécia que já não existe – por ter ido pedir asilo ao Equador, não podem justificar “seis anos dentro das paredes da embaixada”. Os dois relatores da ONU acrescentaram que prisão preventiva deve ser imposta “apenas em instâncias limitadas”. Assange recebeu asilo do então presidente equatoriano Rafael Correa em 2012, em um ato de dignidade e soberania que mereceu o respeito do mundo, e na época Moreno era o vice.
Recentemente, o New York Times publicou que em maio do ano passado o ex-chefe de campanha de Trump, Paul Manafort, foi a Quito negociar com Moreno a cabeça do editor do WikiLeaks, o que acabou sendo acertado pelo vice, Mike Pence, na visita em que obteve, também, a volta do Pentágono à base de Manta, e prometeu ajuda para empréstimos do FMI.
Assange denunciou crimes dos EUA no Iraque e Afeganistão
O establishment de Washington e os círculos belicistas mais extremados não escondem seu ódio por Assange, pela exposição dos crimes de guerra no Iraque e Afeganistão e do intervencionismo no planeta inteiro, revelados pelo WikiLeaks; nem sua inestimável ajuda em impedir que a CIA capturasse Edward Assange, quando este provou que a NSA (National Security Agency) grampeava tudo e a todos; ou quando vazou os e-mails da Direção Nacional Democrata que comprovavam que a candidatura de Bernie Sanders fora sabotada para dar Hillary na Convenção.
Ódio que só aumentou quando o WikiLeaks divulgou os programas de guerra cibernética da CIA para deixar pistas falsas e acusar outros países pelos crimes que comete. Quando era secretária de Estado, Hillary chegou a propor que fosse morto em um ataque de drone. Mike Pompeo, o atual titular, quando era diretor da CIA, declarou o WikiLeaks um “serviço de inteligência hostil não-estatal” e “não protegido” pela 1ª Emenda.
O traíra Moreno não esconde que seu objetivo é entregar Assange; o quanto antes, melhor. Além das regras draconianas que violam o direito de asilo, todos os diplomatas equatorianos com quem Assange conviveu por anos foram tirados da embaixada, inclusive o embaixador Carlos Abad Ortiz. Foi impedido de até mesmo de falar com a mãe. A perseguição chegou ao requinte de forçá-lo a desistir de ter um gato. Seu regime é análogo ao isolamento em solitária.
Na véspera de uma audiência por videoconferência, não permitiram que se aconselhasse com seus advogados. Ficou meses sem qualquer contato com o mundo exterior, com internet e telefone cortados. O ‘estatuto’ Pence-Moreno o proíbe de qualquer declaração. Assange chamou seu silenciamento de “mais sutil” do que o do jornalista saudita Jamal Khashoggi.
Como denunciou o fundador do WikiLeaks, as novas regras “inevitavelmente levarão a uma crise de saúde para mim, resultando em minha morte ou hospitalização ou uma desculpa política para me entregar ilegalmente aos britânicos e, portanto para os Estados Unidos, onde eu enfrento uma sentença de morte potencial”.
Moreno apenas espera um pretexto para entregar Assange. Como denunciou o ex-agente da CIA John Kiriakou, que ficou preso por 23 meses por denunciar a tortura do ‘waterboarding’, Washington se prepara para levar Assange “acorrentado” para os EUA. A principal entidade de defesa das liberdades democráticas nos EUA, a ACLU, advertiu que “qualquer acusação de Assange pelas ações de publicação do WikiLeaks seria sem precedentes e inconstitucional, e abriria as portas para investigações criminais de outras organizações noticiosas”.
Do ponto de vista legal, não há qualquer diferença entre a publicação pelo New York Times dos Papeis do Pentágono, ou do vídeo do “Assassinato Colateral” no Iraque, entregue pelo soldado Manning e divulgado por Assange. Aquele do helicóptero Apache que metralha jornalistas e a quem veio socorrê-los. Em última instância, os criminosos de guerra ianques querem extraditá-lo por ter provado que são criminosos de guerra, e para que sua condenação sirva para deter, mesmo que momentaneamente, o surgimento de novos denunciantes.