Dados e fatos investigados pela CPI revelaram que o presidente da República Jair Bolsonaro agravou os efeitos deletérios da Covid-19 no Brasil. Dia 20, o relatório do inquérito vai ser votado pela comissão
A pouco mais de uma semana para o relator da CPI da Covid-19 no Senado, Renan Calheiros (MDB-AL), entregar o relatório dos trabalhos de investigação há grande expectativa no conteúdo do documento.
A investigação foi longa e alentada. Começou em meados de abril e vai se encerrar em 20 de outubro, com as consequências que vai produzir o relatório resultado das investigações. A comissão mergulhou e foi fundo em relação às ações, inações e omissões do governo e do presidente Jair Bolsonaro no combate ao novo coronavírus.
Diante de dados e fatos, pode-se dizer, sem sombras de dúvidas, que o presidente da República Jair Bolsonaro agravou os efeitos deletérios da Covid-19 no Brasil.
No sábado (9), o relator concedeu entrevista à Folha de S.Paulo e deu detalhes do conteúdo do texto que vai produzir. O documento vai ser apresentado à CPI e lido dia 19. A votação vai ser dia 20.
Na entrevista, Renan afirmou que o texto final do relatório terá três personagens centrais: o presidente Jair Bolsonaro, o ex-ministro da Saúde Eduardo Pazuello e o braço-direito do ministro, o coronel Élcio Franco, que era secretário executivo do Ministério da Saúde.
Em relação ao chefe do Executivo, a quem chama “mercador da morte”, Renan afirma que está clara e comprovada a participação dele em crimes e que por isso não há dúvidas de que será responsabilizado.
INDICIAMENTO DE BOLSONARO
Segundo o relator, “há um consenso de que o Bolsonaro é um ‘mercador da morte’. Sua trajetória é autoexplicativa: defendeu matar 30 mil brasileiros, ainda quando deputado federal, inclusive o presidente Fernando Henrique Cardoso”.
“Idolatra ditadores carniceiros como Pinochet, Ustra, Stroessner, Médici, tem vínculos inegáveis com a face mais assustadora da morte, as milícias”, observou o relator.
“Quer dizer, continua defendendo armamento, fala em armar a população, em fuzilar adversários. E foi decisivo para a morte de milhares de brasileiros”, disse.
FILHOS DO PRESIDENTE
Na entrevista, Renan acrescentou que cogita propor o indiciamento de filhos de Bolsonaro por ações com a negociação de vacinas contra a Covid-19, pela ligação com o caso Prevent Senior e com o chamado “gabinete paralelo”.
Além das tipificações que vêm sendo mencionadas para enquadrar os responsáveis — como prevaricação, crime contra a vida, charlatanismo e crimes de responsabilidade —, o relator afirmou trabalhar com a hipótese de incluir nas sugestões de indiciamentos homicídio comissivo, quando é cometido por omissão.
INVESTIGAR PROFUNDA E EXEMPLARMENTE
“Era necessário retomar a capacidade do Parlamento de investigar”, disse Renan. Segundo o relator, “era preciso investigar profundamente e exemplarmente punir essas pessoas.”
“Essa CPI teve muitas especificidades, foi sem dúvida a que obteve mais aderência social, teve índices históricos de aprovação e foi a que mais obteve audiência”, constatou.
“O primeiro resultado visível da CPI foi a potencialização da indignação social represada durante meses de pandemia por temor a aglomerações e contágio”, lembrou.
MAIS DE 40 PESSOAS SERÃO INDICIADAS
A tônica do relatório, segundo Renan, vai ser o “aprofundamento da investigação [que] nos levou a caracterizações várias, de procedimentos criminosos”.
Assim, seguiu, “em função disso vamos usar vários tipos penais, desde crime de responsabilidade, passando pelos crimes comuns, chegando aos crimes contra a saúde pública e contra a humanidade. Mais de 40 pessoas serão indiciadas”.
M. V.