Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, o ex-diretor de Serviços e Engenharia da Petrobrás, Renato Duque, testemunhou que Lula, José Dirceu e o PT dividiam as propinas na Sete Brasil – empresa que, supostamente, contratava estaleiros para construir plataformas de petróleo, com o objetivo de alugá-las à Petrobrás.
Duque era o elemento principal do esquema de corrupção do PT dentro da Petrobrás, escolhido por José Dirceu logo após a primeira posse de Lula, e nomeado por este para um dos mais importantes cargos da estatal.
Duque relatou, na sexta-feira, dia 3, que havia proposto a João Vaccari Neto, tesoureiro do PT, uma divisão “meio a meio” das propinas na Sete Brasil: metade para os executivos da Petrobrás e Sete Brasil (referidos como “casa”) que estavam no esquema e metade para o PT.
Algum tempo depois, Vaccari voltou com a resposta: “Palocci não concordou e está determinando a divisão de 1/3 e 2/3. Um terço para a ‘casa’ e dois terços para o partido”, disse o tesoureiro do PT a Duque.
“Esses dois terços para o partido”, explicou Duque, “seriam divididos entre Lula, José Dirceu e o partido. O dinheiro de propina para Lula seria recebido por Palocci. José Dirceu receberia através da Engevix e do lobista Milton Pascowitch e o partido seria por conta do Vaccari”.
“A propina era institucionalizada. Todos os estaleiros pagaram”, disse Duque ao juiz Moro.
Renato Duque depôs, sem acordo de “colaboração premiada”, no processo sobre a propina passada pelo estaleiro Jurong. Confessou o recebimento, na Sete Brasil, de US$ 3,8 milhões em propina, apenas do Jurong, de Singapura. O dinheiro, disse Duque, foi depositado em uma conta no banco Cramer, de Milão, Itália.
Lula, relatou Renato Duque, fez um pedido, através de Vaccari, para que continuasse na diretoria da Petrobrás até que a Sete Brasil se consolidasse.
Vaccari transmitiu “uma incumbência do Lula pedindo que eu ficasse até o término desse processo”, pois, “esse processo era muito importante não só para o País como para o PT”.
BILHÕES
A Sete Brasil, hoje moribunda, era uma empresa financeira, formada por iniciativa do esquema do PT na Petrobrás, cuja função era usar o dinheiro da estatal para construir plataformas de petróleo e depois alugá-las à própria Petrobrás.
Não havia, evidentemente, nenhum motivo pelo qual a Petrobrás não pudesse contratar diretamente a construção das plataformas e ser a proprietária delas. A Sete Brasil era, portanto, um instrumento para roubar a Petrobrás.
Para isso, o esquema petista estabeleceu contratos com estaleiros montados pelas empreiteiras que achacavam a Petrobrás – com duas exceções: o Jurong e o Keppel Fels, ambos de Singapura com filiais no Brasil.
Todos os estaleiros pagavam 1% do valor dos contratos de propina.
Com Duque na diretoria da Petrobrás e seu ex-gerente de engenharia, Pedro Barusco, na diretoria da “Sete Brasil”, foram firmados, inicialmente, contratos para a construção de 29 sondas, no valor total de 82 bilhões de dólares (cf. Sete Brasil Participações S.A., Relatório da Administração – Exercício Social de 2012).
Na auditoria realizada após a Operação Lava Jato ter descoberto que a “Sete Brasil” era um esquema de roubo do patrimônio público, foram estimadas as propinas que circularam pela empresa em 224 milhões de dólares (cf. Carlos Lopes, “Os Crimes do Cartel do Bilhão contra o Brasil: o esquema que assaltou a Petrobrás”, Fundação Instituto Cláudio Campos, 2016, p. 99).
O principal acionista da “Sete Brasil” era o banco BTG Pactual, do banqueiro favorito do PT, André Esteves. O banco, por coincidência, era um dos principais doadores do Instituto Lula e repassadores de dinheiro ao seu patrono, através de palestras (cf. MPF, Petição Operação Conclave, p. 27).
ORGANIZAÇÃO
No depoimento ao juiz Moro, na sexta-feira, Renato Duque detalhou o esquema de propinas na Sete Brasil.
Os repasses do estaleiro montado pela Odebrecht, OAS e UTC (Estaleiro Enseada do Paraguaçu) se destinavam ao PT e a Lula.
Os repasses do estaleiro da Engevix (Estaleiro Rio Grande) eram de José Dirceu.
Os repasses do estaleiro da Queiroz Galvão e da Camargo Correa (Estaleiro Atlântico Sul) também iam para o PT.
Os repasses do Jurong e do Keppel Fels (Brasfels) eram destinados aos executivos da Petrobrás e da “Sete Brasil” que estavam no esquema.
Os depoimentos de agora confirmam os depoimentos dos funcionários da Odebrecht, segundo os quais Palocci cobrava a propina de 1% na “Sete Brasil”.
Eduardo Musa, ex-diretor da Sete Brasil, ouvido no mesmo dia que Duque, também confirmou ao juiz Moro o esquema de propinas, dividido com o PT.
C.L.