A história e a vida do dirigente comunista Renato Rabelo foram celebradas na noite desta segunda-feira (07) na cidade de São Paulo. “Um protagonista da construção do pensamento de um Brasil soberano, justo e desenvolvido”, conforme sintetizou a presidente do PCdoB, Luciana Santos, no lançamento da biografia “Renato Rabelo – Vida, Ideias e Rumos”, escrita pelo jornalista e historiador Osvaldo Bertolino, da fundação Maurício Grabois.
Lideranças políticas, sindicais, estudantis e dos movimentos sociais saudaram a presença de Renato Rabelo durante o lançamento do livro. Renato, que participou do encontro, não escondeu sua emoção pelas homenagens prestadas pelos presentes.
“Nós vamos hoje fazer a celebração de uma vida do nosso grande camarada Renato Rabelo, que hoje se torna também uma obra, ou seja, uma vida que dá vida a um livro, a uma obra que com certeza vai transcender muito todas as nossas gerações de militantes, dirigentes, amigos e amigas do nosso PCdoB”, disse a secretária de Organização do partido, Nádia Campeão, que conduziu o evento.
Além Bertolino e Renato, a mesa contou com a presença da presidente nacional do Partido e ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, do presidente da Fundação Maurício Grabois, Walter Sorrentino; do jornalista e vice-presidente do PCdoB, Carlos Lopes; dos deputados federais Orlando Silva (PCdoB-SP) e Renildo Calheiros (PCdoB-PE), além do presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), Adilson Araújo; Rovilson Brito, presidente do PCdoB-SP e Manuela Mirella, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE).
FORTALECER A UNIDADE
Antes das falas dos convidados, foram lidos dois trechos das apresentações da biografia enviadas pelo presidente Lula e pela ex-presidente Dilma.
“Tive o privilégio de compartilhar com Renato momentos decisivos na vida política brasileira. Sua liderança no PCdoB foi essencial para fortalecer a unidade das forças progressistas, especialmente durante os meus mandatos”, afirmou o presidente Lula, na apresentação do livro sobre a vida do dirigente comunista.
“Renato Rabelo tem acompanhado de perto a luta para manter vivo o sonho de um Brasil mais justo, solidário e soberano. A atuação de Renato Rabelo como dirigente é marcada pela humildade pessoal, sem deslumbres, com seriedade e gentileza notáveis no trato com as pessoas. Renato sempre conduziu o PCdoB com grande interesse nas questões de desenvolvimento nacional, científico, tecnológico e cultural e em seu trabalho invejável de formação e renovação de quadros”, destacou o presidente.
“Que sua história sirva como farol para todos aqueles que acreditam que um país melhor é possível”, completou.
A ex-presidente Dilma Rousseff também enviou mensagem celebrando a vida de Renato Rabelo: “Um baiano doce de alma revolucionária que segue o melhor da tradição comunista, combinando ação e pensamento, teoria e combate, comprometido com o desenvolvimento nacional, a emancipação do povo brasileiro e a construção do socialismo”.
EXEMPLO DE COMPROMISSO
Ao abrir sua fala, Osvaldo Bertolino fez um agradecimento a todos aqueles que contribuíram para a construção do livro e destacou pontos importantes da vida de Renato, dos encontros pessoais à sua atuação política. Segundo Bertolino, foram mais de 9 horas de entrevistas com Renato. “Foi o ponto de partida para um mergulho nos arquivos da ditadura militar, fazendo um minucioso trabalho de cruzar as informações com a memória de Renato e de seus contemporâneos”, disse.
Ele também fez um agradecimento especial à esposa de Renato, a Conchita, “que fez com o Renato toda essa caminhada, desde os tempos de jovens estudantes em Salvador. Ela foi essencial para a apuração de muitas passagens da biografia. Ela também é, de certa forma, biografada”.
O biógrafo fez um breve relato sobre a atuação política de Renato, desde a sua atuação na Juventude Estudantil Católica, a fusão da AP com o PCdoB, os enfrentamentos contra a ditadura e a luta pela redemocratização, além da eleição do presidente Lula e atuação do PCdoB a partir dos anos 2000.
“Renato é um exemplo de caráter, de compromisso com os ideais pelos quais dedicou a sua vida”, ressaltou Bertolino.
“Assim é o Renato, descrito nessas 848 páginas do livro, como um homem de carne e osso, sangue e sentimento, apreciador de vinho, de uma boa conversa, admirado como pai, marido, avô do Lourenço, da Ana Clara e da Sofia, camarada e amigo de todos os que com ele tiveram o privilégio de conviver. Um brinde, Renato. Muito obrigado”, completou.
CONSTRUIR PONTES
Em uma mensagem em vídeo, Renato agradeceu a todos à construção deste momento.
“Foi uma jornada longa e desafiadora que me enche de orgulho e reforça a responsabilidade que temos, enquanto comunistas, de compreender e enfrentar o desafio de nosso tempo. A biografia não é apenas um relato da minha trajetória. Ela reafirma a importância da militância e da capacidade de construir pontes em diferentes momentos da história”, disse.
“Cada página desta obra reflete anos de dedicação, formulação de ideias, enfrentamento de desafios políticos e cenários muitas vezes adversos. Neste momento em que o PCdoB celebra seus 103 anos de história, a melhor homenagem que podemos prestar é essa trajetória a seguir defendendo e ampliando o seu legado. A responsabilidade agora está nas mãos das novas gerações de militantes que devem levar adiante a bandeira da transformação social com caráter e determinação.
“Agradeço imensamente a Fundação Maurício Grabois que tornou possível essa publicação, ao incansável Osvaldo Bertolino, cuja dedicação deu vida a esta biografia e a todos que contribuíram para a concretização deste livro. Essa obra coletiva, fruto da luta e do compromisso de muitos. Muito obrigado”, disse Renato Rabelo.
GENEROSIDADE E A CAPACIDADE POLÍTICA
A presidente do PCdoB e ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, destacou que “Renato é dessas figuras que marcam a vida da gente que conviveu e aprendeu com ele”.
A “serenidade que é própria de Renato, a generosidade e a capacidade política de, em momentos complexos e difíceis, ser assertivo, ter clarividência. Isso é fruto de alguém que ouve muito. Por isso que ele sempre nos ensinou da importância da construção coletiva, da inteligência coletiva. Porque é essa dialética que pode nos levar a construir as alternativas”.
“Eu quero dizer do orgulho e a emoção de participar desse momento tão especial e do lançamento da obra que resgata e celebra a trajetória desse que, sem medo de errar, é um dos maiores dirigentes políticos da história recente, não só do PCdoB, como do Brasil, o camarada Renato Rabelo.
“Renato é mais do que um nome no cenário político. Ele é, como diz o prefácio dessa obra, um protagonista da construção do pensamento de um Brasil soberano, justo e desenvolvido. Um intelectual orgânico, ou seja, ele não é apenas um intelectual ou um diletante. Ele formulou e elaborou na luta política, aprendendo no dia a dia nos desafios concretos como a luta se apresentou em cada momento histórico. Comprometido com a luta do povo brasileiro, com a democracia, com a soberania nacional e com o socialismo”, completou.
HISTÓRIA POLÍTICA DO PAÍS
O presidente da Fundação Maurício Grabois e vice-presidente do PCdoB, Walter Sorrentino, considerou que “Como diria Gramsci, contar a história de Renato Rabello é contar a história política do nosso país a partir de uma perspectiva transformadora”.
“A diretoria da Grabois é grata a cada um e a cada uma de vocês pela presença, porque esse lançamento da biografia de Renato Rabello é um evento muito significante para nós todos, é bom tê-los conosco e é significante também para a história política do nosso país”, destacou.
Sorrentino comunicou que a diretoria da Grabois concedeu a Renato Rabelo a insígnia de presidente de honra da nossa fundação.
“Essa foi a primeira proposta formulada à diretoria e à direção do PCdoB, assim que assumiu o mandato em abril do ano passado. A razão foi a de inscrever Renato Rabello entre os patronos perenes da Maurício Grabois, a qual ele presidiu por vários anos. Nós temos muito orgulho de nossos patronos”.
“Vejam vocês, nós temos uma constelação de patronos, Maurício Grabois, João Amazonas e Renato Rabelo. Isso simboliza, e queremos que simbolize, uma síntese das melhores características a cultivar de convicções e princípios, de coragem teórica e política, de modéstia, abnegação e resiliência. Renato, muito obrigado por nos dar a satisfação de aceitar ser o presidente de honra da Fundação Maurício Grabois”, disse Sorrentino.
QUANDO MAIS NEGRA A NOITE, QUE MAIS BRILHAM AS ESTRELAS
Vice-presidente do PCdoB e diretor de redação da Hora do Povo, Carlos Lopes destacou em sua fala a importância de Renato para o Brasil. “Eu acho que todas as nações têm personalidades, têm pessoas que condensam aquilo que há de melhor na sua população, na sua etnia, eu diria até no seu ethos. Você vê, se você pegar a Rússia, por exemplo, Lenin, Stalin, na China, Mao Tse Tung, Zhou Enlai, no Vietnã, Ho Chi Minh e Võ Nguyên Giáp, todas as nações têm pessoas desse tipo. E o Renato é uma pessoa desse tipo em relação ao Brasil”.
“Eu, particularmente, sou egresso do MR-8 e do PPL, tive grandes dirigentes que hoje em dia não estão mais entre nós. Mas eu diria que o Renato foi uma das pessoas mais cativantes que eu já encontrei enquanto dirigente na minha vida. E devo dizer o seguinte, é verdade isso, que todas as nações têm pessoas desse tipo”.
“O Dom Helder Câmara me falou uma coisa, que ele, inclusive, escreveu num livro, que eu acho que é bem característico. Ele disse o seguinte, certo? É quando é mais negra a noite que mais brilham as estrelas. E isso é verdade, é exatamente isso. Quando mais negra a noite, que mais brilham as estrelas”, destacou.
“Quando o PPL se integrou ao PCdoB, evidentemente que isso significou vários problemas, porque é inevitável que haja problemas. E o Renato foi exatamente a pessoa que nos recebeu da melhor forma possível e que nos fez sentir bem dentro do PCdoB. E isso não é qualquer coisa, esse escrutínio, essa visão de ver aonde vai a luta revolucionária no Brasil. Então, Renato, receba a nossa homenagem”, completou.
EXEMPLO QUE MOTIVA A TODOS
O deputado federal Orlando Silva afirmou que sua atuação política é motivada pelo exemplo. “O que me move e que me inspira, que me motiva, é o exemplo do Renato”, disse.
“Renato foi importante na minha formação, como foi importante na formação de tantos quantos estão aqui presentes, ou que foram formados por gente formada por ele. O Renato é uma das personalidades, eu diria, mais importantes da esquerda brasileira ao longo da sua história. Esse é o lugar do Renato, um ideólogo que tem um papel-chave na construção de estratégias políticas, de movimentos políticos, e na formação de lideranças”.
UNIDADE DOS COMUNISTAS
O deputado Renildo Calheiros destacou sua vivência com Rabelo. “Queria dizer que o Renato é um ser humano extraordinário. É uma figura com a capacidade incrível de ouvir, de compreender as pessoas e de contribuir na busca de caminhos. E essa maneira de ser do Renato foi muito importante no trabalho que ele fez na direção do nosso partido, porque o Renato foi um líder de massa, para usar uma linguagem que é muito comum entre nós, foi uma liderança do movimento de jovens. E juntou a essa capacidade de liderar, a capacidade também de dirigir e de construir o nosso partido, que não é uma tarefa fácil”, destacou.
“O Renato é um homem que colocou como ponto principal da sua atuação a construção da unidade dos comunistas no Brasil e não é fácil unir uma quantidade enorme de pessoas que pensam muito, que debatem, que são treinados na crítica e que participam ativamente da luta política. Juntar uma turma dessa, unir uma turma dessa, não é fácil. E essa é uma característica muito importante do Renato. Na luta política, é um legado extraordinário que o Renato deixa. Não apenas para nós, mas para todo o pensamento progressista no Brasil e na América Latina”.
“Você é um dos grandes brasileiros. Uma figura que contribuiu e contribui enormemente para a luta que nós estamos fazendo no Brasil. O Brasil não é um país fácil, não é um país para amadores. É um país com elite dirigente que não gosta do povo, mas com muita capacidade política, com muita habilidade para manobrar. O Brasil é um país muito difícil. E é nesse país que nós atuamos. E é nesse país que nós temos o desafio de construir uma sociedade cada vez melhor, de construirmos aqui o socialismo. E temos um enorme respeito por toda a contribuição que você deu”, ressaltou.
CORAGEM
A vereadora de Recife, Cida Pedrosa, vencedora do prêmio Jabuti de literatura, declamou um poma em homenagem a Renato:
“Renato, meu querido, estou aqui, na minha varanda, perto das minhas plantinhas, para te mandar com muito amor essas palavras.
Minha poesia é pouca para te caber.
Vastidão é o teu nome e coragem a tua sina.
Nem sei como se nasce assim tão humano, tão humano, tão humano,
que é o melhor das coisas mais banais.
Em ti as bandeiras tremulam em luaradas.
A palavra se parte em várias.
A multidão se espraia em busca do outro.
A palavra escreve a esperança para um tempo aurora.
Em ti, em ti somos ninho, morada, lastro, pássaro,
pássaro novo em primeiro voo.
Minha poesia é pouca para te caber,
para te receber,
para dizer dos anos de chumbo,
das tuas perdas,
dos teus camaradas,
da tua dor,
das tuas mãos que espelham a luta.
Pouca, muito pouca essa poesia,
que não tem a bravura de falar sobre o homem esperança,
o homem brio, o homem guia, o homem luta.
Um homem, apenas um homem,
que vive como quem quer libertar
a vida na próxima esquina”
Renato Rabelo – Vida, Ideias e Rumos
(Editora Anita Garibaldi, 848 páginas) – anitagaribaldi.com.br.
Veja a homenagem:
