Com a economia estagnada, carestia e desemprego elevado, rendimento recuou 6,9% em 2021 ante 2020
A renda do brasileiro se deteriorou no governo Bolsonaro, segundo dados divulgados nesta sexta-feira (10) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O rendimento médio mensal real domiciliar per capita em 2021 foi de R$ 1.353, o menor valor da série histórica da PNAD Contínua, iniciada em 2012. Com isso, a massa do rendimento mensal real domiciliar per capita caiu 6,2% ante 2020, chegando a R$ 287,7 bilhões em 2021, seu segundo menor valor, desde 2012 (R$ 279,9 bilhões). O IBGE destaca que, entre as regiões, o Nordeste segue com menor rendimento médio mensal domiciliar per capita (R$ 843).
A economia estagnada, o desemprego batendo recordes, a redução do auxílio emergencial e o arrocho salarial pelo governo, em plena pandemia da Covid-19, atingiram em cheio a renda dos brasileiros. Além disso, a inflação em 2021 chegou a dois dígitos pela primeira vez depois de 2016, com os preços dos combustíveis e dos alimentos acelerando com aval de Bolsonaro.
O percentual de pessoas com rendimento na população do país caiu de 61,0% em 2020 para 59,8% em 2021, o mesmo percentual de 2012 e o mais baixo da série. Houve redução em todas as regiões, principalmente no Norte. O Sul (64,8%) continua com a maior estimativa, como aconteceu em todos os anos da série histórica. As menores são nas regiões Norte (53,0%) e Nordeste (56,3%).
Em 2021, 127,1 milhões de pessoas possuíam algum tipo de rendimento.
Além da queda domiciliar per capita, a maior em dez anos, o rendimento mensal médio real de todas as fontes de rendas também teve queda recorde: todas as fontes de rendas (R$ 2.265), em outras fontes (R$ 1.348), em aposentadoria e pensão (R$1.959) e em outros rendimentos (R$ 512). Em 2012, o valor era estimado em R$ 2.369 (já descontada a inflação do período). Uma queda de 5,1%, a mais intensa da série.
“Os valores da aposentadoria acompanham o reajuste do salário-mínimo e grande parte dos aposentados ganha o piso. Como os reajustes não estão compensando a inflação, é natural essa perda de valor”, disse Alessandra Scalioni, analista da pesquisa.
O rendimento de todas as fontes considera o “rendimento de trabalho” e “rendimento de outras fontes” – aposentadoria e pensão, aluguel e arrendamento, pensão alimentícia, doação e mesada, e outros rendimentos (programa de transferência de renda e rentabilidade de apliações financeiras).
RENDA CAI – DESIGUALDADE CRESCE
De 2020 para 2021, apesar do aumento da população ocupada, com uma taxa grande de informalidade, a massa do rendimento mensal real de todos os trabalhos caiu 3,1%, indo de R$ 223,6 bilhões para R$ 216,7 bi, no período.
A pesquisa também mostra a desigualdade de renda no país em 2021. Em 2021, o rendimento médio do 1% da população que ganha mais era 38,4 vezes maior que o rendimento médio dos 50% que ganham menos.
Após relativa estabilidade em 2019 (0,544) e queda em 2020 (0,524), o índice de Gini do rendimento médio mensal domiciliar por pessoa aumentou em 2021, voltando ao patamar de dois anos antes (0,544). Quanto maior o Gini, maior a desigualdade.
Entre 2020 e 2021, a desigualdade aumentou em todas as regiões, sobretudo no Norte e no Nordeste. “São regiões onde o recebimento do auxílio emergencial atingiu maior proporção de domicílios durante a pandemia de Covid-19 e que, por isso, podem ter sido mais afetadas com as mudanças no programa ocorridas em 2021”, disse Alessandra Scalioni. A Região Nordeste se manteve com o maior índice de Gini em 2021 (0,556), enquanto a Região Sul apresentou o menor (0,462).
Quando se leva em conta apenas ao rendimento médio mensal de todos os trabalhos, o índice variou negativamente de 0,500 para 0,499. Esse resultado demonstra que o retorno de parte da população ocupada em 2021 reduziu a média de rendimento e não modificou o perfil da distribuição de renda do trabalho no país.