“Renovação do auxílio emergencial provavelmente ajudaria a diminuir o aumento da taxa de desocupação neste início de ano”, diz economista do Ibre/FGV
Não fosse o auxílio emergencial, a taxa de desemprego do país teria ultrapassado 15% da população em idade de trabalhar no terceiro trimestre do ano, constatou pesquisa realizada pelo economista Daniel Duque, do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV).
Os dados, baseados nos números da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad-Contínua) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, sem o pagamento da renda emergencial de R$ 600,00 aprovada no Congresso Nacional, mais 808 mil pessoas, pelo menos, estariam procurando emprego sem encontrar. Isso significa que a taxa de desemprego oficial, medida pela Pnad, teria sido de 15,3% no trimestre de julho a setembro – enquanto ficou em 14,6% no período.
Alguns economistas alertam, ainda, que se considerado os desalentados, os que desistiram de procurar emprego, a taxa chegaria a 20%.
“Além do impacto na renda das famílias e na atividade econômica, o auxílio emergencial também ajudou a evitar uma alta maior da taxa de desemprego. O auxílio teve efeito significativo em segurar a busca por trabalho no momento de isolamento social”, afirma Duque. Quase 68 milhões de pessoas foram beneficiadas pela renda de emergência entre abril e dezembro do ano passado.
Isso acontece porque o IBGE computa na taxa de desemprego apenas aqueles que procuraram efetivamente emprego no período anterior à pesquisa – mesmo que a falta de postos de trabalho ou a necessidade de distanciamento social tenham sido determinantes para grande parte da população desocupada ou que ganhava a vida na informalidade.
Assim, essas pessoas que deixaram a força de trabalho – o IBGE computou 493 mil no segundo trimestre e 808 mil no terceiro — não foram consideradas desempregadas porque não estavam buscando de forma ativa um emprego.
Os números do quarto trimestre, o último do ano, ainda não foram divulgados. Contudo, Duque prevê que a redução do auxílio emergencial para R$ 300 pelo governo federal a partir de outubro – além da flexibilização do isolamento social – tenham impacto relevante sobre a taxa de desemprego, que deve disparar.
“No último trimestre, o auxílio perdeu seu impacto na força de trabalho. O valor do benefício foi reduzido e pelo menos até novembro havia uma menor preocupação com a pandemia. Isso motivou a retomada das buscas por trabalho”, diz Duque.
Em outubro, o país tinha 14,1 milhões de desempregados, com uma taxa de desemprego de 14,3%.
Os prognósticos para este começo de 2021 também não são dos melhores. O corte completo da renda de emergência e a segunda onda da pandemia, além de um “movimento típico” do mercado de trabalho no início do ano, devem fazer com que o desemprego suba a níveis históricos. O pesquisador projeta que a taxa de desemprego deve avançar de 13,4% no mesmo período do ano passado para 15,3% este ano.
“A aprovação de uma renovação do auxílio emergencial provavelmente ajudaria a diminuir o aumento da taxa de desocupação neste início de ano, tendo em vista a segunda onda da pandemia”, diz Duque.