Manchetes e editoriais, como “Pede para sair”, da IstoÉ, e “Será que enlouqueceu?”, da Crusoé, levantam questionamentos se Bolsonaro está em condições mentais de seguir conduzindo o governo
As últimas falas de Bolsonaro sobre a pandemia da Covid-19, insistindo em atacar as medidas de proteção recomendadas pelos médicos, de desestimular o uso das vacinas, de revelar uma indiferença desconcertante com a desgraça de mais de 200 mil famílias que perderam seus entes queridos para o vírus e, mais recentemente, o apoio incondicional dado por ele ao desatino fascista de Donald Trump, fizeram a opinião pública brasileira atentar para o nível de insanidade de Jair Messias Bolsonaro, e para os riscos que isso representa ao país.
Este alerta ficou estampado nas manchetes e editoriais dos principais veículos de informação do país neste final de semana.
Os brasileiros estão se perguntando como pode um chefe de governo falar tanta besteira, demonstrar tanto desrespeito, tanto desconhecimento. “Pede pra sair”, publicou na capa a revista IstoÉ. “Ao declarar que “o Brasil está quebrado e que não pode fazer nada”, Jair Bolsonaro reconhece que não sabe como lidar com as crises que se agravam em 2021. Após a confissão de impotência, ele deveria renunciar”, prosseguiu a revista semanal.
As demais revistas também abordam em suas reportagens de capa as últimas declarações do presidente Jair Bolsonaro. A CartaCapital afirma que Bolsonaro está sem rumo. “O país não tem um plano de imunização, mas vive como se a pandemia estivesse controlada”, diz um de seus títulos. E arremata com a frase de Bolsonaro: “o Brasil quebrou e não posso fazer nada”.
A Veja mostrou o “Ataque de Bárbaros”, nos EUA, com os detalhes do show de horrores de Trump, apoiado por Jair Bolsonaro. A Crusoé pergunta se ele enlouqueceu. “Ao afirmar que o país está quebrado, Bolsonaro rasga dinheiro. Ao ordenar a suspensão da compra de seringas ele de novo brinca com a vida dos brasileiros”, diz a revista.
EDITORIAL DO ESTADÃO
Em editorial, o Estadão afirma que o país está sem governo e pede urgentemente um ministro da Saúde. Eduardo Pazuello, o general indicado por Bolsonaro para ocupar o cargo, é literalmente um pau-mandado do negacionismo bolsonarista. Ele mesmo diz que o chefe manda e ele obedece.
Cobrado pela paralisia do governo, fato que está colocando em risco a vida dos brasileiros, ele resolveu atacar a imprensa. “Os meios de comunicação, os senhores e as senhoras (referindo-se aos jornalistas presentes no pronunciamento), comuniquem os fatos. Me mostrem quando um brasileiro delegou aos redatores a interpretação dos fatos. Eu não vi. Nós não queremos a interpretação dos senhores, a tendência ideológica ou a bandeira. Quero assistir à notícia e ver o fato que aconteceu. Deixem a interpretação para o povo brasileiro, para cada um de nós”, disse o ministro da Saúde.
“Em vez de se arvorar em consciência crítica da imprensa brasileira, faria melhor o intendente Eduardo Pazuello se trabalhasse como se espera de um ministro da Saúde no curso de uma crise sanitária que já matou mais de 200 mil de seus concidadãos. Informação correta para nortear a atuação do poder público não falta. A bem da verdade, nunca faltou”, diz um trecho do editorial.
“O que anda em falta é coragem ao ministro para atuar de acordo com os dados científicos à disposição do governo para pôr fim a este descalabro que é a condução da pandemia no âmbito federal. O ministro Pazuello prefere ignorar os fatos e adular cegamente o seu chefe, o presidente Jair Bolsonaro, um convicto negacionista da tragédia e sabotador das medidas de contenção ao espalhamento do novo coronavírus. Afinal, como já dissera, ‘um manda, o outro obedece, é simples assim’. E não têm faltado cabotinos para obedecer”, prossegue o jornal.
DESGASTE NOS MEIOS JURÍDICOS
Seguindo na trilha da mídia, as principais autoridades do Legislativo e do Judiciário foram contundentes em suas críticas às últimas falas de Bolsonaro. O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, condenou as ameaças feitas pelo presidente que disse que “se não for voto impresso em 2022, vai ser pior que nos EUA”.
“Uma importante lição da história é a de que governantes democráticos desejam ordem. Por isso mesmo, não devem fazer acenos para desordens futuras, violência e agressão às instituições”, afirmou o ministro. “A vida institucional não é um palanque e as pessoas devem ser responsáveis pelo que falam”, acrescentou o ministro.
Edson Fachin, outro ministro do Supremo, alertou para as ameaças que representam para a democracia brasileira o apoio dado por Bolsonaro aos desatinos fascistas de Donald Trump.
Por meio de nota, Fachin, que também é vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), alertou que “a violência cometida contra o Congresso norte-americano deve colocar em alerta a democracia brasileira”.
“Em outubro de 2022 o Brasil irá às urnas nas eleições presidenciais. Eleições periódicas de acordo com as regras estabelecidas na Constituição e uma Justiça Eleitoral combatendo a desinformação são imprescindíveis para a democracia e para o respeito dos direitos das gerações futuras. Quem desestabiliza a renovação do poder ou que falsamente confronte a integridade das eleições deve ser responsabilizado em um processo público e transparente. A democracia não tem lugar para os que dela abusam”, disse o ministro.
Ricardo Lewandowsk, por sua vez, partiu para a ação e tomou medidas duras diante do comportamento errático do governo.
Ele proibiu o governo de tomar as seringas dos governadores e determinou que o Ministério da Saúde comprove a existência de insumos à vacinação.
O déficit de credibilidade na política do governo federal para o enfrentamento da Covid é tanta que o STF exige que o Planalto prove que está agindo. Não é a primeira vez que o Judiciário, provocado, exige esclarecimentos sobre o plano de ação do governo que só age sob pressão.
Ainda sobre a questão dos insumos à vacina, o ministro Lewandowski não só exige a comprovação das ações do governo. A decisão cautelar que proíbe o Ministério da Saúde de requisitar o estoque de seringas do Estado de São Paulo alerta para a “incúria” do governo federal na execução das medidas contra a pandemia.
Note-se que o Supremo Tribunal Federal já fez questionamento semelhante em relação a ações do governo Bolsonaro nos assuntos da destruição do meio ambiente.
APOIO A TRUMP TROUXE MAIS ISOLAMENTO POLÍTICO
O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), que também alertou para os riscos que representa ao país o apoio de Bolsonaro aos fascistas norte-americanos, acrescentou, neste sábado (9), que Bolsonaro é responsável pelas 200 mil vidas perdidas até agora.
“Você tem culpa”, disse ele, acrescentando que o presidente é “covarde”. A afirmação sobre a covardia foi feita depois que o presidente tentou jogar a culpa pela demora no início da vacinação contra a Covid-19 apenas ao ministro da Saúde, Eduardo Pazuello.
Até Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente do Senado e do Congresso Nacional, aliado de Bolsonaro, desabonou o apoio que ele deu à tentativa de golpe nos EUA.
Ao contrário de Bolsonaro, o senador disse que “as imagens vistas de invasão ao Congresso Nacional americano, na tarde da quarta-feira (6), em uma tentativa clara de insurreição e de desprezo ao resultado das eleições por parte de um grupo, são inaceitáveis em qualquer democracia e merecem o repúdio e a desaprovação de todos os líderes com espírito público e responsabilidade”.
Diversos outros políticos criticaram duramente o apoio de Bolsonaro ao fascismo norte-americano e alertaram para os riscos que isso representa para o Brasil.
“Temos que nos manter vigilantes. [Jair] Bolsonaro é aprendiz e capacho de Trump”, alertou o ex-governador Ciro Gomes (PDT). “É hora do Congresso brasileiro colocar um freio em seus crimes e abrir o processo de impeachment”, concluiu o governador.
“Bolsonaro é um criminoso, está tomando lições com seu mentor. Não deveria nem concluir o mandato. Mas, caso o faça, devemos estar preparados para tudo em 2022”, denunciou o deputado Orlando Silva (PCdoB-SP), um dos principais líderes do partido no Congresso Nacional.
Na mesma direção se pronunciou o deputado Baleia Rossi, deputado federal (MDB-SP) e candidato da frente ampla a presidente da Câmara dos Deputados.
“São chocantes as cenas da invasão do Congresso nos Estados Unidos por quem não aceita o resultado da eleição. Democracia não se faz na violência. Se faz no debate de ideias, no respeito às diferenças, à vontade do povo e à Constituição”, disse ele. A deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT, disse que “o fato desta quarta-feira (6) nos EUA serve de exemplo para que o Brasil afaste Jair Bolsonaro, que insiste em ter Trump como inspiração”.
Ou seja, cresce na mídia, nos meios políticos e na sociedade, a consciência de que a insanidade de Bolsonaro está tão grave que pode inviabilizar sua permanência à frente do governo.
S.C.