Provocação da Ucrânia utiliza sepulturas dos seus soldados para encenar valas comuns, afirma jornalista francesa
O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, rechaçou a alegação da Ucrânia de que tropas russas cometeram crimes de guerra em Izium, na região de Kharkov recentemente retomadas por Kiev. “É o mesmo cenário de Bucha. Tudo vai de acordo com um cenário. É uma mentira”, ele afirmou a jornalistas na segunda-feira (19), reiterando que Moscou “é claro que defenderá a verdade em toda essa história”.
Na sexta-feira, o regime Zelensky anunciara a descoberta de “até 450 corpos” em valas comuns nos arredores de Izium, cidade retomada pelos militares ucranianos no início deste mês. Prontamente, governos cúmplices passaram a acusar a Rússia, antes de qualquer investigação, como o secretário de Estado Antony Blinken, o presidente francês Emmanuel Macron e o chefe da diplomacia da União Europeia, Josep Borrell.
“É o mesmo roteiro de Bucha. Tudo é desenvolvido pelo mesmo roteiro”, assinalou Peskov. Em abril, quatro dias após as forças russas se retirarem de Bucha, nas imediações de Kiev – buscando abrir espaço para a negociação em curso em Istambul -, e no dia seguinte à chegada do Batalhão Azov à cidade, surgiram vídeos de corpos caídos nas ruas, alguns com as mãos amarradas, com braçadeiras brancas, que supostamente teriam sido executados pelos russos.
A Rússia denunciou que era tudo uma “armação”, inclusive havia vídeo divulgado após a saída dos russos pelo próprio prefeito da cidade, comemorando e sem exibir qualquer corpo, e outro, anunciando a chegada do Batalhão Azov para fazer a “purga”.
Só depois disso é que apareceram nas estradas corpos largados um atrás do outro. Além disso, braçadeiras brancas são usadas pelos russos e seus simpatizantes; os adeptos de Zelensky usam braçadeira amarela ou azul.
Posteriormente, a autopsia de vários desses corpos revelou que eram vítimas de bombardeio pelas forças ucranianas na retomada da posição, não de tiros à queima roupa, e a mídia alistada pela OTAN deixou o assunto de lado.
A Rússia também acusou o serviço secreto inglês de estar envolvido na encenação em Bucha. Por sua vez, Vitali Ganchev, chefe da administração da região de Kharkov, já havia alertado que Kiev tentaria repetir o cenário de provocação de Bucha em Izium.
Através do portal Donetsk-Insider, a jornalista francesa Christelle Néant, que está no Donbass desde 2016, denunciou que a Ucrânia, após a retomada de Izium vem fazendo uso de sepulturas dos seus soldados mortos em batalha e de civis falecidos por bombardeamentos, para lançar sobre os russos a pecha de um “massacre” de civis durante o período em que a cidade esteve sob controle das tropas russas.
Néant revela que tal imputação é uma manipulação abjeta em relação ao que efetivamente ocorreu, soldados ucranianos que morreram nos pesados combates foram abandonados pelo regime de Kiev na retirada, como registrado em numerosas fotos que estão postadas nas redes sociais, e acabaram sendo enterrados pelos russos.
“Em vez de deixarem os corpos apodrecerem ao relento, os soldados russos enterraram-nos com dignidade, em sepulturas coletivas ou individuais, encimados por uma cruz com as palavras “ВСУ” (Forças Armadas Ucranianas), como se pode ver nas fotos da Rádio Svoboda. Num deles há mesmo uma fotografia com o nome do soldado em questão”, assinala a jornalista.
“Nas fotos, podemos ver que várias sepulturas têm placas de identificação, e algumas são até decoradas com flores, o que indica que são as sepulturas dos habitantes da cidade que ainda lá têm família!”
Além disso – a pergunta é de Néant -, “se os russos executaram realmente civis em massa em Izium, porque se preocupariam em enterrá-los individualmente com uma cruz e com todo o ritual de enterro apropriado?”.
SEPULTURAS IMPROVISADAS
Para a jornalista francesa, o fato de terem enterrado civis e soldados ucranianos tanto quanto possível em sepulturas individuais com uma cruz, e o nome da pessoa, ou uma indicação de que eram soldados, mostra que os russos mostraram humanidade aos mortos que encontraram após a luta pela captura de Izium.
Num outro artigo na Rádio Svoboda – ela registra – um funcionário ucraniano, Oleg Kotenko, diz que algumas das sepulturas têm a data da morte escrita nelas e que corresponde a tempos de intenso bombardeamento da cidade.
“Alguns têm a data da morte escrita neles, compreendemos que durante esses dias houve um pesado bombardeamento de Izium. Pessoas que morreram em casas, apartamentos, na rua foram enterradas aqui”, disse Kotenko.
“Claramente, como em Bucha, muitos dos civis enterrados foram mortos nos combates por bombardeamentos. Nada a ver com execuções em massa”, afirma Néant.
Ela reproduz vídeo do correspondente de guerra norte-americano Patrick Lancaster, em que o primeiro homem entrevistado por ele deixa claro que 70% dos edifícios danificados foram danificados por bombardeamentos ucranianos, e apenas 30% por bombardeamentos russos.
O segundo conta como os soldados russos salvaram um homem atingido por estilhaços. Vários homens no hospital contam como o exército ucraniano destruiu as suas casas ou os feriu ao bombardear uma área civil.
Uma postagem no canal de Telegrama russo “Zapiski Veterana” de julho – acrescenta a jornalista – indica que “cerca de 500 corpos de soldados tinham sido abandonados pelo exército ucraniano perto de Izium, e ali enterrados por soldados russos”. De acordo com o mesmo canal, “o comando russo tinha contatado repetidamente os comandantes ucranianos para lhes pedir que enviassem equipes funerárias para recolher os seus mortos”. O comando ucraniano nunca respondeu.
“Isto foi confirmado por Andrei Medvedev, um jornalista russo, que filmou a recuperação e o enterro de soldados ucranianos abandonados no campo pela FAU, perto de Izium. No final do segundo vídeo, filmado em maio de 2022, vemos um lugar que se parece com o das fotos da Rádio Svoboda!”
Tendo em conta todos estes elementos, torna-se claro que o número de soldados ucranianos enterrados na floresta em Izium é certamente superior ao número dado pelas autoridades ucranianas, que “convertem” estes soldados, bem como civis mortos durante os bombardeamentos, em “civis executados pelos russos”.
“MAIS DE 440″
Segundo a AFP, citando Zelensky, no local da “vala comum descoberta” foram encontradas “mais de 440 sepulturas que remontam a entre março e setembro de 2022”. De uma delas – acrescenta a agência de notícias francesa -, os investigadores exumaram os corpos de “pelo menos 17 soldados ucranianos”. “Uma cruz sobre o túmulo trazia a inscrição: “Exército ucraniano, 17 pessoas. Necrotério de Izium”.
As autoridades afirmam que existem mais de 440 sepulturas, “porque o último número inscrito nas cruzes é 445”, apurou a AFP. “Os números estão, em grande parte, inscritos em cruzes de madeira. Algumas delas também têm nomes e datas”.
De acordo com a AFP, cerca de cem corpos foram exumados desde domingo (18). Uma dúzia de equipes de quatro pessoas (um promotor, um investigador, dois especialistas) conduziram investigações no domingo. Socorristas vestidos com macacões brancos ficaram encarregados das exumações em si.
O próprio procurador de Kharkiv, sob Kiev, Yevgen Sokolov, admitiu que “a maioria [dos corpos] tem ferimentos por bombardeios e explosões”, enquanto alguns apresentam “ferimentos por objetos cortantes e sinais de morte violenta”.
CAÇA AOS ‘PRÓ-RUSSOS’
Sobre essa questão, a de certos mortos com sinais de violência, alguns com as “mãos amarradas” em Izium, Néant lembra que isso foi exatamente o que as forças ucranianas que “limparam” Bucha cometeram, executando “aqueles considerados como colaboradores dos russos”.
Método que “voltam a utilizar na região de Kharkov, sem o esconderem”. O conselheiro de Zelensky, Alexei Arestovitch, ameaçou claramente com a morte ou prisão de pessoas que colaboram com a Rússia, incluindo simples professores escolares! Grupos extremistas ucranianos, como o Mirotvorets, postam dados pessoais dos “colaboradores” pró-russos. E, como ela aponta, “se estas pessoas forem assassinadas pelos ucranianos, sem dúvida que a sua execução será imputada aos russos”.
Por sua vez, o correspondente de guerra do jornal russo Komsomolskaya Pravda, Alexander Kots, dá novos elementos para desmascarar as mentiras de Zelensky.
Kots, que viveu por um mês e meio em Izium, disse que “ir para a linha de frente era um descanso do terror da artilharia que a Ucrânia organizou” para a cidade. “Os mortos foram enterrados em um cemitério improvisado na floresta”.
ABERRANTES INCONSISTÊNCIAS
Kots aponta para as inconsistências da armação, cujo único ponto de contato com a realidade são as fotos do cemitério improvisado. “Como, por exemplo, pessoas que morreram em março (como indicado pelas datas nas cruzes) poderiam se tornar vítimas de tortura russa se tomamos a cidade em abril?”, indaga o veterano jornalista.
“E por que marcar os rastros de seus crimes com cruzes? Era mais lógico fazer um enterro secreto, que ninguém jamais encontrará”, ele acrescenta.
Kots relata já ter visto cemitérios improvisados em Rubizhne, Severodonetsk, Lysychansk : “os que morreram de bombardeios ucranianos foram enterrados nos pátios de arranha-céus, parques da cidade, atrás de uma parada de trólebus, perto de um playground. Cada um desses enterros é evidência de fogo indiscriminado, praticado pelas tropas ucranianas, bombardeando cidades”. Mas – observa – chamar os mortos de “vítimas de tortura” não ocorreu “a ninguém”.
“Ainda mais estranho é um soldado ucraniano morto com um telefone celular no bolso [apresentado] como um prisioneiro baleado. Vi dezenas de prisioneiros em Izium. E a primeira coisa que apreendem deles é o telefone celular. Não há conexão lá, mas o conteúdo dos telefones celulares é de interesse operacional. Contatos, correspondência, vídeos”.
O CELULAR DO EXUMADO
“Manter seu celular em cativeiro é impossível. Como eles acabaram nos bolsos dos soldados exumados?”, questiona Kots.
Kots afirma que o comando de comunicações russo ofereceu uma pausa humanitária ao lado ucraniano e garantiu a segurança da equipe funerária, sem resposta.
Ele relata que “quando começou a esquentar, nossos combatentes (não sem risco de vida) começaram a recolher os corpos do inimigo e levá-los para a mesma floresta. A escavadeira estava cavando um buraco no qual soldados ucranianos foram enterrados. Uma das tabuletas na cruz diz: “APU. 17 pessoas”.
Desde a retirada das tropas russas do território da região de Kiev, ninguém apresentou provas de assassinatos de civis em Bucha pelas tropas russas, observa o correspondente, e as perguntas desagradáveis continuam:
“Quem atirou nos infelizes no porão com braçadeiras brancas nas mangas – as marcas de identificação das forças russas? Contra quem o comandante nazista permite abrir fogo em um de seus vídeos, se as tropas russas já partiram? As autoridades de Kiev então encenaram o terror natural, procurando ‘colaboradores’ e ‘agentes dos invasores’. E atiraram em pessoas sem julgamento ou investigação”.
“A mesma coisa está acontecendo em Izium hoje. E valas comuns são uma história muito conveniente para esconder seus crimes”, sublinha Kots.