“Agora estamos presenciando a mais cruel das guerras, que ameaça seriamente a perspectiva de uma convivência pacífica entre israelenses e palestinos”, apontou o embaixador Sérgio Danese
A Corte Internacional de Justiça, com sede em Haia, na Holanda, informou que emitirá nesta sexta-feira (26) o seu primeiro veredicto no âmbito da denúncia da África do Sul de que o Estado de Israel está infringindo a Convenção para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio, assinada em 1948, após o Holocausto. Os juízes vão avaliar se irão atender ao pedido sul-africano para impor medidas cautelares e exigir um cessar-fogo na agressão israelense que já matou 25 mil civis.
Em seu discurso nesta quarta-feira (24) no Conselho de Segurança da ONU, divulgado pelo colunista o UOL, Jamil Chade, o representante do governo brasileiro, embaixador do Brasil na ONU Sérgio Danese, fez um apelo para que a Corte Internacional de Justiça atenda ao recurso apresentado pela África do Sul. O governo brasileiro já havia endossado a iniciativa sul-africana. Agora, o Itamaraty, aumenta a pressão pela condenação dos crimes hediondos de Israel em Gaza.
O Brasil quer medidas cautelares, até que se julgue o mérito. “As medidas provisórias solicitadas pela África do Sul à Corte Internacional de Justiça, com o objetivo de evitar o risco de genocídio, exigindo a suspensão imediata das operações militares em Gaza e contra Gaza”, são muito urgentes e necessárias”, afirmou o embaixador do Brasil na ONU, Sérgio Danese.
“O pronunciamento solicitado pelo principal órgão judicial da ONU não só pode possibilitar a ajuda humanitária necessária e salvar vidas civis, mas também pode contribuir para a criação de um ambiente propício para a restauração do diálogo político e para a retomada das negociações visando à solução de dois Estados”, argumentou o brasileiro. “Um cessar-fogo agora é possivelmente a única alternativa que pode preservar a capacidade da comunidade internacional de fazer isso depois”, prosseguiu.
“Além de Gaza, na Cisjordânia, no Mar Vermelho, no Iêmen, ao longo da Linha Azul entre Israel e Líbano, no Iraque, na Síria e, é claro, também em Israel, a escalada das hostilidades e os novos incidentes de segurança parecem estar diretamente relacionados a esse sentimento crescente de desconfiança e de total desrespeito ao direito internacional, motivado por nossa incapacidade coletiva de evitar a tragédia em Gaza, garantir a responsabilização e preparar o caminho para um processo de paz verdadeiro e eficaz”, afirmou Danese.
Na opinião do embaixador, o processo de paz no Oriente Médio está paralisado há muito tempo, não por si só, mas por ações deliberadas. “Agora estamos presenciando a mais cruel das guerras, que ameaça seriamente a perspectiva de uma convivência pacífica entre israelenses e palestinos”, apontou.
“Permitam-me repetir o que o Brasil vem pedindo a este Conselho há muito tempo: um cessar-fogo imediato em Gaza, antes que não haja mais nada a ser salvo”, disse. “Esse é o apelo urgente da comunidade internacional, traduzido em poderosas resoluções da Assembleia Geral, aprovadas em face da inação do Conselho de Segurança. Sua implementação já deveria ter sido feita há muito tempo”, enfatizou Denese. Para ele, há um “flagrante desrespeito ao direito internacional humanitário”.
Em profundo isolamento na opinião pública mundial, mas integrando o tribunal de Haia, o governo de Israel rejeita a acusação e critica a decisão do presidente Cyril Ramaphosa. Os representantes do ditador Netanyahu pediram que a corte rejeite o pedido. “Israel rejeita com repulsa o libelo de sangue espalhado pela África do Sul em seu pedido à corte internacional de justiça”, disse Lior Haiat, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores do país agressor.