As ruas centrais das capitais do Mali, e da Guiné,ficaram lotadas com manifestações pelo fim dos leilões. Paris e Estocolmo também foram palco de atos de repúdio
As notícias e imagens dos mercados de escravos que agora proliferam na Líbia geraram um repúdio que está se traduzindo em manifestações de protesto em diversos países africanos, a exemplo de Bamako, no Mali e Conakry, na Guiné, na Europa com protestos em Roma, Paris e Estocolmo e manifestação prevista para os próximos dias em Londres, medidas e declarações de governos africanos e de organismos da ONU, além da secretaria-geral. Na manifestação em Paris, cartazes exigindo o fim dos campos de concentração (de migrantes pegos na tentativa de chegar à Europa atravessando a Líbia ou o Mediterrâneo) e dos mercados escravos. Na Suécia, imigrantes vindos da África levaram cartazes declarando: “Não somos escravos, não estamos à venda”, a eles se juntaram suecos convocados pela organização Congresso de Todos os Progressistas, exigindo “o fim da escravidão”. O líder Ayoola Lawal expressando solidariedade aos “irmãos e irmãs africanos submetidos a uma condição ultrajante que se constitui em crime contra a humanidade”.
INTERVENÇÃO
A Líbia foi atacada por forças armadas europeias a serviço da decisão norte-americana de depor o líder líbio, Muammar Kaddafi. A destituição e assassinato de Kaddafi tornaram o país mais próspero do continente africano em terra sem lei com porções divididas por bandos que disputam o poder para servirem de títeres a administrar a usurpação do petróleo do país pelos EUA e antigas potências coloniais europeias. Depois da violenta agressão, os chefes da Inglaterra (David Cameron) e França (Nicolás Sarkozy) desceram na cidade líbia de Benghazi, para saudar os “rebeldes” fomentados por seus governos junto com o dos EUA, que haviam “derrubado um ditador e escolhido a liberdade”. Já a secretária de Estado norte-americana Hillary Clinton chegou a ir a Trípoli para pedir a cabeça do líder líbio.
Gesto que, como diz o articulista John Wight, em matéria publicada no portal Sputnik, “só revela a obsessão pela pilhagem e por manter a hegemonia sobre uma região que está no topo de um oceano de petróleo e isto independente do custo humano e legado pelo de desastre e caos que esta obsessão pode desencadear”.
O presidente da Nigéria, Mouhamadou Iussoufou, pediu uma investigação internacional sobre os mercados de escravos; o presidente de Burkina Faso chamou o embaixador líbio para pedido de esclarecimentos sobre a tragédia. A Costa do Marfim conseguiu repatriar 155 refugiados do país, que segundo as autoridades locais, chegaram em “condições deploráveis”.
O presidente de Ruanda, Paul Kagame, declarou que o país está disposto da receber os “30 mil refugiados africanos sujeitos a abusos desumanos na Líbia”. Ele apelou para todos os líderes africanos que “enfrentem esta desgraça e que ajam para levar os perpetradores aos tribunais”.
AGRAVAMENTO
A venda de migrantes em mercados escravos se agravou depois que a União Europeia começou a financiar o bando que governa a região norte da Líbia para que se equipasse e assumisse o combate aos donos de barcos clandestinos que saem da região para a travessia do Mediterrâneo. A medida diminuiu o fluxo da imigração por esta via, mas os detidos vão parar em campos de concentração precários no norte da Líbia. Os que ganhavam dinheiro com o transporte de africanos para a Europa, particularmente a Itália, passaram a ver no comércio de escravos uma alternativa de lucro.
De acordo com a subsidiária da ONU, Organização Internacional para as Migrações, com todos os obstáculos, mais de 160 mil conseguiram cruzar o Mediterrâneo este ano. Centenas de milhares ainda almejam fazê-lo, diante do empobrecimento que a pilhagem da África provoca. Cerca de 3.000 morreram afogados no mar somente este ano, ao tentarem fazer a travessia em barcos superlotados, precários e inseguros.
NATHANIEL BRAIA