
(Continuação da edição anterior)
Publicamos hoje a segunda parte da coluna da jornalista inglesa Vanessa Beeley que viajou à Síria em meio à batalha pela libertação de Alepo e desmistificou a organização Capacetes Brancos e, em especial, o filme premiado com o Oscar de melhor documentário, ‘Os últimos homens em Alepo’, que tentava glorificar a organização financiada pelos serviços secretos dos EUA e Inglaterra e que se propalava neutra e de resgate humanitário, na verdade dedicada a corroborar as versões de guerra química assacadas contra o Exército sírio, pretexto central para justificar a intervenção norte-americana quando os bandos terroristas financiados pela CIA desmoronavam rumo à derrota. (N.B.)
VANESSA BEELEY*
No Iraque e Afeganistão, o governo inglês abandonou intérpretes locais da mídia e a serviço dos militares a seu próprio destino uma vez que sua utilidade expirou. Em Basra, depois da Guerra do Iraque, de 2003, intérpretes que serviram ao exército inglês foram, segundo informações amplamente divulgadas, caçados por esquadrões iraquianos e mortos sistematicamente. Seus corpos foram jogados sem cerimônia em diferentes regiões da cidade. O jornal The Independent informou, em 2008, que “em uma das ocasiões 17 interpretes foram mortos”. Isso quer dizer que o sangue destes intérpretes está nas mãos do governo inglês que os deixou morrer.
Intérpretes que serviram aos militares ingleses no Afeganistão também se viram diante de similar e vergonhoso destino uma vez que os ingleses exploraram suas capacidades durante o conflito, mas os descartaram quando estes se tornaram supérfluos aos requerimentos dos invasores. Em 2016, o ex-intérprete Nangyalai Dawoodzai, de 29 anos cometeu suicídio depois de ouvir que seria deportado da Inglaterra de volta ao Afeganistão onde morte quase certa o esperava.
A Inglaterra faz suprimento de armamento para a ‘coalizão’ dirigida pelos EUA e assumida pela Arábia Saudita e que faz chover a morte sobre a população civil do Iêmen. Os conselheiros militares no centro de controle e comando de Riad insistem que não designam alvos tais como hospitais, escolas, festas de casamento e um inteiro leque de infraestrutura civil. A Inglaterra participa no que pode ser apenas designado como genocídio no Iêmen, mas quando se trata de aprovar um visto para um colaboracionista iemenita, nega o acesso, como foi o caso de Ahmed Baider, que os ingleses dizem não acreditar que ele é quem diz ser.
O governo inglês, no entanto, não é tão circunspecto na ‘checagem dos fatos’ quando se trata do seu investimento de muitos milhões de libras, os Capacetes Brancos, que foram abrigados na Turquia e Jordânia [para etapas finais de treinamento e para fins de filmagens] e estão na mesma canoa da Al Qaida e outros grupos terroristas na Síria. Agora ocupam um território que se estreita cada vez mais diante do avanço do exército sírio e aliados que varrem a região rumo à vitória no longo conflito com a ‘coalizão’ montada e comandada pelos Estados Unidos.
Em declaração, o secretário de Relações Exteriores, Jeremy Hunt e o de Desenvolvimento Internacional, Penny Mordaunt, sobre a ‘realocação’ dos Capacetes Brancos “da Síria para sua proteção”, reiteraram a alegação feita de forma constante sobre os integrantes da organização:
“Os Capacetes Brancos salvaram mais de 115.000 vidas durante o conflito sírio a um grande risco a si próprios. Muitos Capacetes Brancos voluntários também morreram durante seu trabalho – tentando resgatar civis presos em escombros de edifícios bombardeados ou levando os primeiros socorros aos civis feridos. Os Capacetes Brancos têm sido alvo de ataques e, devido a seu perfil, nós julgamos que, nestas circunstâncias particulares, tais voluntários merecem imediata proteção. Nós, portanto, tomamos todos os passos com a finalidade de ofertar proteção a estes voluntários e seus familiares, tanto quanto possível”.
Uma recente resposta dentro da Lei de Liberdade de Informação revela que o governo inglês não tem nenhum tipo de verificação independente sobre as estatísticas que não param de se expandir [dos supostos salvamentos pelos Capacetes]. Os números sobre os quais o governo inglês se apoia chegam inteiramente de outra organização, a Mayday Rescue ou dos próprios Capacetes Brancos, de acordo com o que se pode ler na resposta oficial inglesa.
Mayday Rescue é outra alegada ONG, com sede na Holanda e financiada diretamente pelo Escritório de Relações Exteriores e Comunidade das Nações [Foreign and Commonwealth Office] e pelo Conflict Stability and Security Fund [Fundo de Estabilidade e Segurança]. O Mayday Rescue foi criado pelo ex-espião do MI5 que também fundou a organização Capacetes Brancos: James Le Mesurier. Em 2014, Mesurier criou o Mayday, um ano depois de haver instalado e colocado em movimento os Capacetes. A Mayday foi uma interface conveniente – entre o governo inglês e seu serviço clandestino de propaganda, os Capacetes Brancos – para o suprimento de fundos.
É, portanto, muito difícil que qualquer destas informações esteja de acordo com qualquer checagem de veracidade, uma vez que são estatísticas emitidas desde os porões da Al Qaida.
* É fotógrafa e jornalista investigativa. Editora associada do portal 21st Century Wire e que tem concedido entrevistas à agência Russia Today – RT.
(Continua na próxima edição)