ALTAMIRO BORGES
Diante de tantos fatores negativos – crise econômica, guerras sanguinárias, crescimento de forças fascistas e agressividade imperialista –, a humanidade resiste. Surgem contratendências a essa onda destrutiva e regressiva.
Um dos principais polos se dá com o fortalecimento do Brics, que realizou sua 17ª Cúpula no Rio de Janeiro, em julho último. Fundado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, em junho de 2009, ele foi ampliado no ano passado com a adesão do Egito, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã e atualmente representa 39% do PIB global e 49% da população do planeta.
O bloco tem adquirido maior consistência e já estuda a adoção de medidas para criar um sistema financeiro independente do dólar. O Banco do Brics – o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês), hoje presidido por Dilma Rousseff – tem financiado obras de infraestrutura nos países membros, patrocinou um Acordo de Reserva de Contingência (CRA) para auxiliar as nações em crises cambiais e para reduzir a dependência do Fundo Monetário Internacional (FMI), e firmou acordos de cooperação tecnológica e energética, entre outros avanços. Como afirma o ex-chanceler Celso Amorim, assessor especial do presidente Lula, “o Brics é o novo nome do multilateralismo” e por isso causa tanto medo e pavor nos EUA.
O PAPEL DA CHINA COMO POLO CONTRA-HEGEMÔNICO
Outro contraponto importante à arrogância do império em decadência vem da China. Ela é hoje a segunda maior economia do mundo, com participação equivalente a 18,6% no PIB global, o maior exportador e o segundo maior importador do planeta. Segundo dados de 2023, o país já acumulava US$ 2,5 trilhões em investimentos diretos no exterior através da “Iniciativa Cinturão e Rota”, que contemplaram mais de 150 países em projetos de infraestrutura.
A China conquistou a liderança em setores estratégicos como 5G, veículos elétricos, Inteligência Artificial e conta com as maiores reservas internacionais (US$ 3,1 trilhões). Sob comando do Partido Comunista, a China tirou 740 milhões de pessoas da pobreza entre 1978-2018, um dos maiores feitos da humanidade.
Apesar de todas suas particularidades, contradições e limitações, a experiência chinesa recoloca, objetivamente, o socialismo como protagonista na construção da nova ordem mundial.
PROTESTOS E EMBATES ELEITORAIS
Uma terceira contratendência à barbárie capitalista se dá com a resistência dos povos. Mesmo nos EUA cresce a luta contra a cruel deportação de imigrantes e contra as tentativas de restringir ainda mais a frágil democracia ianque. Desde a posse do neofascista, em janeiro último, milhares de pessoas vão às ruas todas as semanas nos 50 estados do país para protestar. Já há estudiosos que preveem uma “guerra civil” no império decadente.
No restante do mundo também há sinais de crescente resistência. Na nossa sofrida América Latina, essas lutas tem inclusive se refletido nos embates eleitorais – com destaque para a derrota da extrema direita golpista no Brasil e na histórica vitória do campo popular na Colômbia, país que era tido como uma base militar dos EUA.
Isto explica o enrijecimento do arrogante Donald Trump, que volta a tratar a América Latina como “nosso quintal”, reforça o bloqueio a Cuba, Venezuela e Nicarágua, conspira contra a Colômbia e impõe um “tarifaço” ainda maior contra o Brasil e o México.
CINCO BANDEIRAS DA AÇÃO INTERNACIONALISTA
Diante do cenário mundial de regressão e também de resistência, os trabalhadores precisam definir suas prioridades. As lutas no Brasil não avançarão se não houver mudança na correlação de forças no mundo. Entre outras bandeiras, cinco se destacam na atualidade.
A primeira é a luta pela paz e contra as guerras – que hoje tem como destaque a denúncia do genocídio promovido pelo Estado nazi-sionista de Israel contra o povo palestino.
O segundo grande desafio é a batalha, que promete ser prolongada, contra a extrema direita, unindo as forças populares e democráticas para conter a onda neofascista.
O terceiro é a luta por uma nova ordem mundial anti-imperialista, fundada no efetivo multilateralismo, no respeito à soberania das nações e no desenvolvimento sustentável do planeta.
O quarto é a defesa da integração latino-americana e em solidariedade a Cuba, Venezuela e outros países da região agredidos pelo imperialismo ianque. Como afirmou o presidente Lula na Cúpula da Celac na China, em maio último, “ou nos juntamos e procuramos parceiros que queiram construir um mundo compartilhado, ou a América Latina continuará representando a pobreza no mundo”.
E o quinto desafio, que é da essência do sindicalismo, é seguir resistindo aos ataques do capital contra o trabalho, exigindo ampliação dos direitos trabalhistas e previdenciários, redução da jornada de trabalho e aumento da renda.
* Este artigo tem como base a contribuição ao debate no 11º Congresso do Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente de São Paulo), realizado no final de outubro.











