“Três ofícios foram enviados pelo Butantan oferecendo vacinas ao governo federal e nenhum deles foi respondido”, informou Dimas Covas
Em seu plano de sabotar a vacinação da população brasileira contra a Covid-19, o governo federal resolveu criar mais uma confusão. Desta vez atacou o Instituto Butantan, hoje virtualmente o único fornecedor de vacinas ao país.
Em nota, o Ministério da Saúde afirma que “contava com a entrega” das 9,3 milhões de doses e foi informado apenas na quinta-feira (18) que receberá quantidade menor do que o previsto. “A redução no número de vacinas quebra a expectativa do Ministério da Saúde de cumprir o cronograma divulgado”, informa.
A resposta do Butantan foi imediata. “É inacreditável que o Ministério da Saúde queira atribuir ao Butantan a responsabilidade pela sua completa falta de planejamento, que acarretou a falta de vacinas para a população em diversos municípios do país”, diz a nota divulgada pelo órgão.
“Todos sabem, é público, que houve atraso na chegada da matéria-prima em função das incertezas quanto à assinatura do contrato do governo com o Butantan e quanto à aprovação da CoronaVac”, disse Dimas Covas, presidente do instituto.
A “irritação” do governo tem uma explicação. O ministro Eduardo Pazuello tinha feito um encenação na véspera, em reunião com os governadores. Ele apresentou um cronograma que não tem a menor sustentação na realidade. Fez promessas, por exemplo, de vacinas que nem foram aprovadas ainda pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), como é o caso da Sputnik V e a Moderna.
Os próprios governadores, apesar de acharem um avanço o governo apresentar algum planejamento, mesmo que precário, consideraram estranho que o cronograma apresentado na reunião era diferente do que tinha sido mandado para os Estados no dia anterior, ou seja, aquilo era um arranjo de última hora.
Bolsonaro estava ciente de que os atrasos na aprovação da CoronaVac e na assinatura do contrato, além de outros problemas do Planalto com a China, haviam provocado um retardo na chegada da matéria-prima. Como disse Dimas Covas, “isso era público”.
Então, apresentar o cronograma como se não existissem esses problemas, revela que a intenção era enrolar os governadores. Aliás, assim também agiu o governo Bolsonaro, e seu “ministro de recados”, na crise do oxigênio de Manaus. Muita encenação, muitos falatórios e forças-tarefas em prol da cloroquina e praticamente nada para salvar vidas. Precisou o Brasil se mobilizar e oferecer ajuda.
Dimas Covas acrescentou que ficou surpreso com as críticas. Ele considerou o fim da picada o governo fazer essas afirmações contra o Butantan. “Sinceramente eu esperava um agradecimento do governo ao Instituto Butantan, que está trabalhando dia e noite para produzir as vacinas que o Brasil precisa”, disse ele.
“A CoronaVac é hoje a vacina que está sustentando o Programa Nacional de Imunização”, lembrou o dirigente do órgão. “Noventa por cento das vacinas do programa estão vindo do Butantan”, prosseguiu Covas.
As declarações do secretário-executivo do Ministério da Saúde, coronel Antônio Elcio Franco Filho, foram consideradas como uma afronta também por toda a direção do instituto paulista, que divulgou uma nota em resposta.
Nela eles afirmam que o Ministério “ignora briga com a China e decide atacar o Butantan”. Segundo o laboratório, o ministério “deixa de informar que o desgaste diplomático causado pelo governo brasileiro em relação à China provocou atrasos no envio da matéria-prima necessária para a produção da vacina”.
Covas adendou a nota dizendo que o fator principal para o atraso na chegada dos insumos foi a indecisão do Planalto para assinar o contrato para a compra da vacina. Ele explicou que o cronograma de produção foi retomado após a chegada da matéria-prima e que cabe agora ao Butantan garantir a produção.
Nesta sexta-feira (19), o diretor do Butantan mostrou que o Ministério da Saúde ignorou três ofícios enviados pelo instituto em 2020, oferecendo doses de vacina contra Covid-19 ao governo federal. Os três documentos, que ficaram sem resposta, foram enviados em julho, agosto e outubro do ano passado.
Neles, o Butantan ofertou ao governo federal a compra de 60 milhões de doses da vacina CoronaVac para entrega ainda em 2020 e de outras 100 milhões para entrega em 2021. Depois, o instituto mandou mais dois comunicados ao ministério, em dezembro e em fevereiro. Não houve resposta por parte do governo federal.
“Estamos trabalhando dia e noite para produzir as vacinas e vamos entregar no dia 23 mais 3,9 milhões de doses”, afirmou Covas. A nós cabe a produção. O planejamento da imunização é obrigação do governo”, prosseguiu.
Toda essa encenação, com o cronograma fantasioso e os ataques ao Butantan, visam tirar o corpo fora das responsabilidades de Bolsonaro pela tragédia que se abateu sobre o país e que já matou mais de 240 mil pessoas.
A sabotagem de Bolsonaro não é só contra a CoronaVac e o Butantan. Ele vem se aliando ao coronavírus desde o início da pandemia. As ações nefastas de Bolsonaro confundiram a população e ajudaram a espalhar o vírus. É dele a responsabilidade pelo Brasil ser o segundo país no mundo em número absoluto de mortes e de ter sido o 57º país a iniciar a vacinação. É dele também a responsabilidade de estarmos com menos de 3% da população vacinada até agora.
Bolsonaro fez corpo mole em relação à ajuda emergencial – que acabou aprovada pelo Congresso – e, na primeira oportunidade, acabou com ela. Foi contra o uso de máscaras, promoveu aglomerações, reteve verbas para ajudar estados e municípios a enfrentar a pandemia, fez ironia com as vacinas, chegou a dizer que elas causariam doenças e deformações.
Ele brigou com praticamente todos os fornecedores e jogou o país no caos. Atacar o Butantan, portanto, como faz agora faz parte da cruzada insana de Bolsonaro contra as vacinas.