Um dia depois da carta de Trump desmarcando abruptamente a cúpula com o líder coreano Kim Jong Un prevista para o dia 12 de junho, a resposta serena da Coreia Popular se declarando pronta para “resolver as questões com os Estados Unidos quando for, da maneira que for, cara a cara”, abriu caminho para que o próprio presidente norte-americano admitisse rever o recuo.
Em declaração do vice-chanceler, Kim Kye Gwan, a Coreia considerou o anúncio de cancelamento da cúpula como “extremamente lamentável”, “inesperado” e desalinhado com as expectativas do mundo, reiterou o empenho de Kim Jong Un em favor da negociação e asseverou ter “muita consideração pelos esforços do presidente Trump, sem precedentes em relação a qualquer outro presidente, de criar um encontro histórico Coreia do Norte-EUA”.
As conversações entre os Estados Unidos e a Coreia do Norte ainda estão ocorrendo, afirmou esta sexta-feira (25) Trump. Segundo ele, não está excluída a possibilidade da cúpula ser mantida no dia 12 de junho, como estava agendada. “Vamos ver o que acontece. Estamos falando com eles agora. Até pode ser no dia 12. Eles gostavam muito, nós gostávamos”, afirmou Trump, conforme a CNN. Pelo Tweeter, o presidente norte-americano escreveu: “muito boa notícia ter recebido o caloroso e produtivo comunicado da Coreia do Norte. Vamos ver até onde nos leva, esperemos que a uma larga e duradoura prosperidade e paz. Só o tempo (e o talento) dirá!”.
Até mesmo na mídia imperial, a carta de cancelamento da cúpula de Trump havia sido criticada pelo péssimo “timing”, com o Washington Post chegando a registrar que foi o líder coreano que se saiu “de moral elevada”. A carta havia sido divulgada horas após a Coreia Popular, na presença de jornalistas estrangeiros, ter cumprido seu compromisso de destruir seu único local de testes nucleares, demonstrando mais uma vez sua boa vontade em chegar a um acordo decente sobre a desnuclearização da península coreana e assinatura definitiva da paz.
Um comentarista da NBC News, que classificou a retirada de Trump da cúpula de “errática, bombástica e totalmente previsível”, asseverou que Trump estava revisando a famosa máxima de Theodore Roosevelt, “fale macio e leve um grande porrete; você irá longe”, para “grite bem alto sobre o tamanho do seu porrete, e veja até onde isso vai”.
A carta de Trump buscou atribuir seu recuo da cúpula à “enorme raiva e hostilidade aberta” que teria sido expressada pela Coreia Popular, que apenas reagira às desaforadas declarações, primeiro, do conselheiro de segurança nacional John Bolton, depois, do vice-presidente Mike Pence, sobre a “desnuclearização no modelo da Líbia”. Como se sabe, a Líbia assinou o acordo com o governo W. Bush, encerrou seu programa nuclear e depois foi destruída pelo bombardeio da Otan em apoio a terroristas, teve seu líder, Muammar Kadhafi, assassinado e se encontra até hoje no caos.
O que a Coreia fez, através do vice-chanceler, foi dizer que não aceitaria ser levada até às cordas, não haveria desarmamento nuclear unilateral e que Pence não passava de um “marionete político”. A tensão havia aumentado também porque, enquanto Pyongyang realizava os preparativos para destruir seu polígono de testes nucleares, o Pentágono levava para os exercícios anuais Max Thunder de ensaio de bombardeio do Norte os B-52, que só servem para ataque nuclear ou para arrasar geral com bombas convencionais.
Trump não chegara a fechar a porta totalmente nessa carta, se dizendo “muito ansioso para me encontrar com você [com Kim]”, mas dizendo sentir “que é inadequado, neste momento, ter essa reunião planejada há muito tempo”. Em reação à carta de cancelamento de Trump, o presidente do sul, Moon Jae-in, se disse “perplexo” – na véspera, estivera em Washington para conversar sobre a cúpula. A China pediu “paciência” e negociações para que EUA e Coreia se encontrem “no meio do caminho”. O presidente russo Putin lamentou, assinalando que “o líder da Coreia do Norte cumpriu com tudo o que prometeu”. Em visita à Rússia, o presidente francês Macron conclamou pela continuidade dos esforços pela reunião.
A.P.