O presidente do Instituto Butantan, Dimas Covas, classificou os resultados dos estudos da vacina chinesa contra o coronavírus do laboratório SinoVac como “excepcionais”. Segundo ele, além da confirmação da indução de anticorpos, as análises apontam baixa incidência de efeitos colaterais.
“Os resultados foram excepcionais, a vacina apresentou indução de anticorpos acima de 92% na primeira dose e acima de 97% na segunda dose, um desempenho muito satisfatório. Além disso, também apresentaram a segurança da vacina, com uma ocorrência de efeitos colaterais muito baixa, abaixo de 3% as pessoas que tiveram algum tipo de efeito colateral e esses efeitos foram muito moderados, até leves, como dor no local da vacina e febre pequena”, destacou em entrevista ao canal Globo News, nesta quarta-feira (12).
“É a vacina que tem o melhor perfil de segurança, todas as outras vacinas em teste têm maior incidência de efeitos colaterais e nem todas têm esse perfil de produção de anticorpos. Então, comprova os dados que eles tinham antes de começar os testes no Brasil e também comprova que nós temos uma vacina das mais promissoras do mundo, que poderá chegar ainda nesse ano no Brasil e ser usada no início do próximo ano pra vacinação em massa”, completou Dimas Covas.
Segundo Dimas Covas, o Butantan, do governo de São Paulo receberá 15 milhões de doses da vacina chinesa, a CoronaVac, até o final deste ano. O material de imunização contra o coronavírus (Sars-CoV-2), que causa a doença Covid-19, está sendo produzido na China e será enviado de forma fracionada a partir de outubro.
“Eu tenho enfatizado que a vacina estará disponível aqui no Butantan já em outubro. Em outubro receberemos 5 milhões de doses, em novembro mais 5 milhões de doses e em dezembro, mais 5 milhões de doses. Essas doses já estão sendo produzidas lá na China e, portanto, no final deste ano teremos 15 milhões de doses disponíveis”. destacou.
ESTUDO CLÍNICO
A liberação para uso da vacina na população, entretanto, dependerá do resultado dos testes clínicos e da aprovação da Anvisa. De acordo com Dimas Covas, após aprovação, a vacina será entregue ao Programa Nacional de Imunização, do Ministério da Saúde, responsável pela distribuição e logística para o resto do país.
“O Butantan tem a obrigação de fazer esse estudo clínico, de aprovar esse estudo clínico perante a Anvisa e de ter a vacina. A partir dai, é o Programa Nacional de Imunização, que é um programa do Ministério da Saúde, que poderá usar essas vacinas. Nós estamos totalmente abertos. Nosso único comprador, entre aspas, é o Ministério da Saúde. Essas vacinas serão destinadas ao SUS, ao SUS de São Paulo e ao SUS do Brasil”, disse.
“Essas vacinas já estão previamente desenvolvidas, estão em processo de produção, chegarão aqui no Instituto Butantan e, portanto, essa perspectiva de uso fica na exclusiva dependência dos resultados do estudo clinico”, explicou o diretor.
A perspectiva, segundo Dimas Covas, é a de que esteja disponível em janeiro de 2021, conforme anunciado pelo governo paulista no final de julho.
“Eu sou otimista, mas otimista com base nos dados, nos fatos. É uma perspectiva real. É uma perspectiva que tem uma enorme chance de acontecer e a partir de janeiro nós termos essa vacina disponível”, disse Dimas Covas.
PRODUÇÃO
Ainda de acordo com Dimas Covas, além das doses já prontas, o Instituto receberá, a partir de outubro, material para poder dar início ao processo de produção da vacina localmente.
“Paralelo a isso, o Butantan também recebe a partir de outubro, a vacina a granel, e aí o Butantan começa um processo de produção dessa vacina aqui, que é a fase de formulação, de preparo e de envase, colocar essa vacina em frascos para depois ele ser distribuído. De forma que além desses 15 milhões que teremos em dezembro, no primeiro trimestre do ano que vem, poderemos ter mais 15 milhões de doses e até o primeiro semestre, chegarmos a 60 milhões de doses”.
ESTRATÉGIA
Embora o Brasil tenha uma população estimada em 211 milhões, segundo dados do IBGE, o diretor acredita que o número de doses iniciais (60 milhões) seja suficiente para atender a necessidade de imunização no país, considerando que o governo adote uma estratégia de vacinação semelhante a da gripe.
“Esse número, 60 milhões, já suficiente para atender a população brasileira. Você tem que levar em consideração que as pessoas já estão sendo infectadas pelo vírus e, portanto, já estão sendo imunizadas naturalmente. Vai depender muito de qual estratégia vacinal será adotada pelo programa nacional de imunização.”
“Se for a mesma estratégia da gripe, essas 60 milhões são mais que suficientes para isso. Se for uma estratégia ampliada, aí poderemos chegar a 100 milhões, 120 milhões, 160 milhões. Depende dessa estratégia”, completou.
RESPOSTA IMUNE
A CoronaVac mostrou segurança e boa resposta imune em 600 voluntários durante a fase 2 de testes. O estudo foi publicado na última segunda-feira (10) como uma pré-impressão, ainda sem divulgação em revistas científicas e sem revisão por outros cientistas.
Os participantes eram adultos saudáveis de 18 a 59 anos e foram escolhidos aleatoriamente para receber duas doses da vacina experimental: dupla aplicação de 3 microgramas cada, ou outra de 5 microgramas. Uma parte do grupo também recebeu o placebo. Os pacientes não sabiam que tipo de vacina estavam recebendo.
De acordo com os pesquisadores chineses, a CoronaVac não apresentou “nenhuma preocupação com relação à segurança”. A maioria das reações foram leves, sendo que a mais comum foi a dor no local da injeção. Nenhuma reação adversa mais grave foi relatada durante a fase 2, que ocorreu apenas com voluntários chineses.
“A segurança e a resposta imune favoráveis da CoronaVac foram demonstradas em ambos os esquemas e dosagens, o que nos apóia na condução do ensaio de fase 3″, disseram os autores.
A terceira fase de testes no Brasil começou no final de julho no Hospital das Clínicas (SP). Ao todo, 9 mil profissionais da saúde participam dos testes nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul, Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Distrito Federal.
Os voluntários serão acompanhados por uma equipe científica durante três meses. Após a aplicação da primeira dose, eles receberão uma segunda dose da vacina 14 dias depois.