Renda apertada e Selic elevada provocam fuga da principal fonte de financiamento da casa própria
A caderneta de poupança voltou a registrar saldo negativo em setembro deste ano. No mês, o saldo líquido negativo foi de 15 bilhões – o maior resultado para o mês da série histórica, iniciada em 1995. Os números foram divulgados pelo Banco Central (BC) nesta quarta-feira (8). Em setembro, foram depositados na carteira R$ 356,6 bilhões. No mesmo período, as retiradas somaram R$ 371,6 bilhões.
Em agosto, o saldo da caderneta de poupança também foi negativo, de R$ 6,25 bilhões – após dois meses seguidos positivos, ou seja, quando dos depósitos superam as saídas de recursos.
Os resgates de recursos da poupança ocorrem em meio à disparada do nível da taxa básica de juros (Selic) do Banco Central (BC), hoje em 15%, que torna mais atrativo os investimentos em títulos e outras aplicações financeiras que acompanha mais de perto a evolução da taxa base, como Tesouro e Certificados de Depósito Bancário (CDBs), por exemplo, mais rentáveis que a caderneta de poupança.
Pelas regras atuais, quando a taxa Selic é maior que 8,5% ao ano, a poupança tem uma rentabilidade de apenas 0,5% ao mês e de 6,17% ao ano somada à Taxa Referencial (TR). Por outra via, com a taxa nominal em 15% e a inflação esperada em queda, o juro real – ou seja – o ganho dos banqueiros com as aplicações financeiras – hoje já ultrapassa os 10% ao ano.
Além disso, a inadimplência das famílias tem atingido níveis recordes, segundo dados da Confederação Nacional do Comércio (CNC), da Serasa e de Diretores Lojistas (CNDL), levando muitas famílias a recorrerem à poupança para fazer frente às dívidas e às despesas que não param de subir, como a energia elétrica e medicamentos.
CASA PRÓPRIA
A caderneta de poupança é uma das principais fontes de financiamento do setor imobiliário brasileiro, pois 65% de seus recursos são direcionados obrigatoriamente para o crédito imobiliário, para a compra da casa própria.
De acordo com a Associação Brasileira das Entidades de Crédito Imobiliário e Poupança (ABECIP), em agosto de 2025, os financiamentos realizados com recursos das cadernetas do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) totalizaram R$ 11,6 bilhões, sendo uma queda de 2,6% frente a julho do mesmo ano e 36,9% inferior quando comparado a agosto de 2024.
No ano, o volume financiado somou R$ 97,1 bilhões, ficando 18% abaixo do montante verificado no mesmo intervalo de oito meses de 2024.
Ao todo, foram financiados 35,7 mil imóveis nas modalidades de aquisição e construção em agosto deste ano, o que corresponde a uma queda de 1,1% ante julho e de 33,2% em relação ao mesmo mês de 2024.
No acumulado do ano até agosto, ao todo, foram financiados 283,4 mil imóveis, 20,3% a menos do que no mesmo período do ano anterior.